Crônica da Cidade

por Severino Francisco severinofrancisco.df@dabr.com.br (cartas: SIG, Quadra 2, Lote 340 / CEP 70.610-901)

Correio Braziliense
postado em 02/08/2021 22:52

A volta às aulas

Com a pandemia, convidei a minha filha e os dois netos, Aurora, de 7 anos, e Judá, de 4, para passar uma temporada com a gente. Moro em casa, a sala é ampla e se transformou em espaço para aulas virtuais, pista de corrida, pista de skate, estúdio para ensaios de dança e palco de teatro. Graças à irresponsabilidade de nossos governantes e seus capachos, a pandemia se estendeu mais do que na maioria dos países e afetou muito a vida das crianças.

No momento em que o país atinge a marca de mais de 550 mil mortos, suas excelências promovem motociatas, fazem campanha pelo voto impresso e ameaçam a democracia com golpes. Com certeza, essas atitudes de omissão e desvario negacionista contribuirão para que a pandemia se prolongue.

Nesse cenário, a decisão de retomar as aulas nas escolas é dramática. Instituições sérias e comprometidas com as crianças e os adolescentes, tais como o Unicef e a Unesco, recomendam a volta ao ensino presencial. As perdas no desenvolvimento cognitivo, pedagógico, psíquico e social são enormes. A ninguém ocorreria acusar as duas instituições de negacionismo.

Alega-se que a escola é o único local que oferece segurança nutricional, alimentar, física e mental. O que também é verdade. Além disso, o risco de ampliar a evasão escolar é real. Os pais também se dividem sobre a pertinência de se retomar as aulas presenciais neste momento. No DF, a opção é de adotar um revezamento entre as turmas, com metade presencialmente e metade virtualmente, de maneira alternada a cada semana.

O nosso país é o líder de semanas de escolas fechadas, o que terá consequências para o futuro e as oportunidades de nossas crianças. Em tese, eu também concordo. Mas, apesar de serem argumentos muito fortes, entendo que é preciso considerar o cenário atual da pandemia com muita atenção. Infelizmente, o fechamento das escolas no Brasil é diretamente proporcional à posição que ocupa no ranking da vacinação e da contaminação.

Não é uma decisão isolada do nosso contexto, ela reflete a gestão da pandemia. Era a única maneira de oferecer uma proteção mínima à vida das crianças. Os países que retomaram as aulas presenciais vacinaram de 50% a 70% da população. No Brasil, a vacinação não passa de 20%. A palavra é invocada como se fosse um mantra mágico que debelasse todos os perigos.

Mas, se nem nas Olimpíadas os japoneses não conseguiram estabelecer protocolos de conduta, o que esperar das crianças? Segundo levantamento do próprio Unicef, somente 57% das instituições de ensino adota os cuidados requeridos para proteção na pandemia. O problema não é apenas a escola, mas, também, a contaminação dos funcionários que se deslocam no transporte público apinhado de gente.

Mesmo vacinadas, as pessoas transmitem o vírus. E, para culminar, a nova cepa Delta está em circulação, com um poder de contagiar muito alto. Por todas essas razões, apesar de reconhecer os argumentos dos que estão preocupados com o desenvolvimento das crianças, considero temerária a volta presencial às aulas. No máximo, as escolas deveriam oferecer aos pais a opção de escolher o ensino presencial ou o virtual. Seria um risco mais democrático.

 

 

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