Crônica da Cidade

Crônica de amor adolescente

Sou dramático. Meus amigos que entendem dos astros dizem que é o signo de câncer e o ascendente em… Putz. Nunca lembro a coisa do ascendente. Peço perdão à minha astróloga favorita — foi mal, Adriana Izel — e deixo aqui a informação incompleta, mas ficam os dados se a alguém interessar conferir o mapa astral: nasci em Frutal, às 16h, em 30 de junho de 1992.

Quando era menino, o mundo parecia sempre à beira do colapso: “uma hecatombe no lugar do pôr do sol”, para citar uma baita frase de um baita livro do Marcelo Mirisola — Bangalô. Depois de um tempo, entendi que o Universo explodiu há milênios e somos só o que sobrou dele. Ou seja, melhor, no meu caso, chorar menos e escrever mais.

Digo isso para me lembrar de um tempo antigo, “da aurora da minha vida, da minha adolescência querida, que os anos não trazem mais”. Fui — ou sou, não sei bem — um romântico tanto na acepção mais banal do termo quanto naquela dos caras da segunda geração literária (tédio, pessimismo etc. etc.). Fiz, por isso, loucuras de amor e passei por situações que encheriam uma série de tevê açucarada e melodramática para ser assistida com pipoca, chocolate e guaraná.

Já contei, aqui mesmo, dos disquetes de amor que enviei à menina amada e da resposta indiferente e fria que recebi. Não desisti depois disso e sucumbi ao desejo de, não satisfeito com ser rejeitado, ir atrás da humilhação. Fui, vi e perdi. Fiz serenata, sob as paineiras da praça, e pedi em namoro a moça na saída da catequese. Ela disse — surpreendam-se — não, embora tivesse garantido antes que, se eu pedisse, diria sim. Ai, que saudades dos meus 13 anos e das pequenas decepções.

Pouco tempo depois, velho — 15 anos parecia demais naquela época —, eu e ela nos reencontramos. Tomamos sorvete italiano na Avenida Central e nos beijamos em outra praça. Juramos algum tipo de amor tolo e nos enfiamos em um relacionamento estranho. Por medo do pai dela, optamos — ela; eu só aceitei — pela castidade total, o que incluía ser privado de beijos, abraços e suas variáveis.

Passei meses jurando e alimentando esse amor puro. Roqueiro, fiz declarações ao som de baladas muito bregas, escrevi poemas horríveis e passei horas e horas digitando no saudoso MSN. Era óbvio que não daria certo, mas eu planejava casamentos na praia, embora nunca tivesse visto o mar, e sonhava com crianças de olhos castanhos correndo na areia atrás de nós.

Um SMS cruel me desiludiu. “Eu prefiro que a gente SEJE só amigos.” Li e reli, incrédulo. Um tanto espantado com a crueldade de que, pela 18ª vez, ela me chutasse e outro tanto pela letra E no lugar errado. Pedante e metido a escritor, senti menos dor com o término por causa do erro dela, reconheço. Hoje, acho graça e lembro da lição de Jorge Drexler: “amar la trama más que el desenlace”.