A variante Delta da covid-19 — identificada primeiro na Índia — está em circulação, também, no Distrito Federal. Nessa quarta-feira (21/7), a Secretaria de Saúde (SES-DF) confirmou que ao menos seis pessoas foram infectadas pela cepa. São três homens e três mulheres, com idades de 20 a 59 anos. Os pacientes moram em Planaltina, Santa Maria e no Plano Piloto. Todos estão em casa, sob observação. A pasta investiga onde ocorreu a infecção de cada um, bem como as redes de contatos deles. Apesar de expressarem preocupação, os integrantes do Executivo local não anunciaram novas medidas restritivas para conter o avanço do contágio.
O Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF) identificou as seis pessoas a partir do sequenciamento genético de 67 amostras de testes. As coletas dos materiais das mucosas ocorreram entre 12 de julho e 16 de julho. Após a confirmação, a Vigilância Epidemiológica (Divep) da SES-DF deu início à investigação da origem dos casos. Até essa quarta-feira (21/7), a diretoria tinha contatado três dos infectados. Dois deles não haviam viajado ou tido contato com pessoas que estiveram fora do Distrito Federal. O outro esteve com uma pessoa que passou pela Bahia.
Para selecionar o material genético que passará por análise, o laboratório segue alguns critérios, além de sorteio: casos de possível reinfecção; ocorrência de morte; e registro de paciente grave. Os sequenciamentos ocorrem a cada 15 dias, com média de 160 testes avaliados. O secretário de Saúde, Osnei Okumoto, reconhece que a quantidade de amostras é pequena: “Há necessidade de aumentar o sequenciamento genético, porque temos um número grande de variantes em circulação. Não só no DF, mas em todos os países”, comentou na quarta-feira (21/7), em entrevista coletiva no Palácio do Buriti. Com a confirmação da variante Delta, a capital federal tem seis cepas do novo coronavírus em circulação.
Além das seis pessoas, outras quatro estão sob observação. Segundo Osnei Okumoto, são pessoas que tiveram contato com um dos casos positivos. “Vamos fazer os testes RT-PCR (com coleta de amostras do nariz e da garganta) e o sequenciamento genético com eles também, para identificar se foram infectados e por qual cepa do vírus”, adiantou o secretário. Caso um deles tenham contraído a variante Delta, será possível confirmar a existência de transmissão comunitária no DF. “Ainda não falamos nisso, mas vamos aguardar os exames”, completou.
Restrições
Apesar da chegada da variante e da preocupação com o acompanhamento dos pacientes, o governo local não pretende retomar medidas restritivas para conter o avanço do novo coronavírus. “Por enquanto, não há nenhuma medida ou mudança nas determinações que, hoje, estão em vigor”, afirmou o secretário-chefe da Casa Civil, Gustavo Rocha. Nessa quarta-feira (21/7), o DF teve o primeiro jogo com público no Mané Garrincha desde o início da pandemia.
Para o infectologista Hemerson Luz, é necessário manter o respeito às medidas não farmacológicas e intensificá-las. Ele ressaltou que a variante Delta aumenta o risco de hospitalizações e que isso pode levar a um novo colapso no sistema de saúde. “Caso a taxa de transmissão do vírus e a ocupação dos leitos em hospitais aumentem, será preciso retomar as restrições”, recomendou. Além disso, o especialista cobrou uma vacinação mais acelerada e exames em massa. “A testagem pode ser usada como estratégia para investigar surtos e endossar políticas públicas. O RT-PCR é o melhor para verificar a evolução do contágio pelas cepas”, completou o médico.
Prevenção
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que a variante Delta foi detectada em mais de 111 países. Na Rússia, no fim do mês passado, houve pico de 652 mortes e mais de 20 mil casos confirmados em 24 horas e provocados pela cepa. No Reino Unido, no começo de junho, ela era responsável por mais de 70% das novas notificações.
Devido ao avanço da variante, alguns países que haviam flexibilizado medidas restritivas voltaram com as normas. A Austrália adotou lockdown em algumas das principais regiões do país. Em Portugal, houve imposição de horário limite para o funcionamento de restaurantes em Lisboa e Algarve. Em Israel, mesmo com 60% da população vacinada, o governo retomou algumas proibições, depois de o país chegar a 100 infecções por dia — em junho, a taxa estava zerada.
No Brasil, sem contar os casos do DF, há 110 ocorrências confirmadas de infecção pela variante Delta. O Rio de Janeiro é a unidade da Federação com mais casos (83). Há 13 no Paraná; seis no Maranhão; um em Minas Gerais, dois em Goiás; três em São Paulo; e dois em Pernambuco. Até essa quarta-feira (21/7), cinco pacientes haviam morrido.
Palavra de especialista
Impactos e medidas
A variante Delta mostrou o poder dela. Tem uma transmissão mais rápida que as outras cepas e grandes chances de levar ao adoecimento. Com essa, a probabilidade de jovens e idosos, mesmo vacinados, adquirirem a covid-19 é grande, mesmo que com sintomas leves. O ideal seria evitar festas, jogos, reuniões e eventos com aglomeração, bem como exigir, de forma mais incisiva, o uso obrigatório de máscaras e a manutenção do distanciamento social. Porém, temos visto pessoas irem a festas lotadas e desrespeitarem as normas o tempo todo. Assim, temos o anúncio de uma terceira onda chegando. Não sei se será a mais forte, mas teremos um aumento no número de casos e de hospitalizações, principalmente de jovens, que não estão vacinados e têm ido a festas, bares e aglomerado. Precisaremos pensar em medidas restritivas mais duras. Agora, o que o governo precisa fazer é aumentar o ritmo de imunização. Se não houver vacinas, devemos ir atrás, tentar conseguir. Não podemos mais ver postos vazios. É preciso vacinar. E com as duas doses.
Eliana Bicudo, médica da Sociedade Brasileira de Infectologia