O Distrito Federal tem enfrentado uma baixa procura pelas vacinas de rotina oferecidas na rede pública, em especial, as doses presentes no calendário vacinal infantil. De acordo com a Secretaria de Saúde, a queda na imunização de crianças vem se estendendo pelos últimos cinco anos. No entanto, com a pandemia, essa questão ficou mais evidenciada com o aumento de indivíduos que não completaram o ciclo necessário para prevenir doenças como a paralisia infantil, a coqueluche e a meningite. A não imunização contribui para o retorno de patologias já erradicadas, como ocorreu com o sarampo, que foi eliminado no Brasil em 2016, mas, em 2018, novos casos voltaram a aparecer. Em 2020, foram notificados 41 ocorrências de sarampo na capital, sendo que cinco foram confirmados. Em 2021, até 3 de julho, a pasta registrou oito notificações, mas nenhuma confirmação.
A enfermeira técnica da área de imunização da Secretaria de Saúde Fernanda Ledes afirma que a cobertura vacinal no DF está longe do ideal. Excetuando a vacina BCG, que é aplicada na maternidade quando o bebê nasce, todas as outras apresentaram um índice baixo, variando entre 76% a 81% no primeiro quadrimestre deste ano. A meta vacinal para a maioria destes imunizantes é de 90% a 95%. “Não é de agora que percebemos um decréscimo na cobertura. E a pandemia veio como mais um agravante. É necessário conscientizar os pais da importância de manter a caderneta de vacinação dos filhos em dia, independentemente da covid-19”, destaca Fernanda.
A Secretaria de Saúde reforça que as salas de vacinação estão abertas durante a pandemia, e que não apresentam riscos para de infecção pela covid-19, pois estão separadas do local em que circulam pacientes com suspeita da doença. Em 2014, o DF registrou a melhor cobertura vacinal, com índices acima de 90% em todas as vacinas previstas no calendário de imunização infantil.
Para Walter Ramalho, epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), o retorno de casos de sarampo é um exemplo dos riscos quando não há uma imunização completa de determinadas doenças. “Nós tínhamos o certificado de erradicação do sarampo e nós perdemos. O tétano neonatal ainda acontece em muitos entre os bebês recém-nascidos pela falta de vacinação das gestantes. É preciso ter um cuidado muito grande”, frisa o especialista.
De acordo com ele, uma grande parcela da população não teve contato com as doenças imunopreveníveis, em razão da vacina na infância. “E, com isso, algumas pessoas acabam esquecendo a gravidade dessas doenças”, critica.
Baixos índices
Comparação da cobertura vacinal no DF entre os primeiros quadrimestres de 2019, 2020 e 2021
2019
BCG98,6%
Rotavírus87,2%
Meningo C91,3%
Poliomielite89,2%
Penta90,5%
Pneumocócica 10-V88,9%
Tríplice Viral90,7%
Hepatite A91,4%
Febre amarela90,5%
Hepatite B 91,2%
Tetra Viral89,3%
2020
BCG76,3%
Rotavírus84,4%
Meningo C89,3%
Poliomielite81,7%
Penta76,6%
Pneumocócica 10-V86,9%
Tríplice Viral87,2%
Hepatite A80,6%
Febre amarela87,6%
Hepatite B77%
Tetra Viral78,8%
2021
BCG95,7%
Rotavírus78,2%
Meningo C80,8%
Poliomielite78,2%
Penta78,3%
Pneumocócica 10-V81%
Tríplice Viral88,3%
Hepatite A78,6%
Febre amarela79,9%
Hepatite B78,7%
Tríplice Viral D256,4%
Varicela76,1%
Tetra Viral1,3%
*A meta de cobertura vacinal Federal segue os parâmetros do Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, de 80% para a vacina contra meningocócica C em adolescentes; 90% para as vacinas BCG e Rotavírus; e 95% para as demais vacinas indicadas na rotina do Calendário Nacional de Vacinação.
Fonte: Secretaria de Saúde do Distrito Federal
Veja o calendário das vacinas de rotina
Ao nascer
BCG (dose única) — formas graves de tuberculose, principalmente a miliar e meningea.
Hepatite B (dose ao nascer) — hepatite B
2 meses
Penta (1ª dose) — difteria, tétano, coqueluche, hepatite B, meningite e infecções por Haemophilus Influenza B
Vacina inativada da poliomielite (1ª dose) — paralisia infantil
Pneumocócica 10 valente (1ª dose) — pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo pneumococo.
Rotavírus (1ª dose) — diarreia por rotavírus.
3 meses
Meningocócica C (1ª dose) — tipo C da meningocócica, doença que pode evoluir para meningite.
4 meses
Penta (2ª dose)
Vacina inativada da poliomielite (2ª dose)
Pneumocócica 10 valente (2ª dose)
Rotavírus (2ª dose)
5 meses
Meningocócica C (2ª dose)
6 meses
Penta (3ª dose)
Vacina inativada da poliomielite (3ª dose)
Influenza (campanha anual — tomar duas doses com intervalo de 30 dias) — infecção respiratória aguda influenza
9 meses
Febre amarela (dose única)
12 meses (1 ano)
Tríplice viral (1ª dose) — sarampo, caxumba, rubéola
Pneumocócica 10 valente (reforço)
Meningocócica C (reforço)
15 meses (1 ano e 3 meses)
DPT — Penta (1º reforço)
Vacina oral poliomielite (1º reforço)
Hepatite A (uma dose)
Tetra viral ou tríplice viral (D2) + varicela (D1) — previne sarampo, rubéola, caxumba e varicela/catapora.
4 anos
DTP - Penta (2º reforço)
Vacina oral poliomielite (2º reforço)
Varicela atenuada (2ª dose)
Meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos
HPV (2 doses com 6 meses de intervalo) — papilomavírus humano que causa cânceres e verrugas genitais.
11 a 14 anos
Meningocócica C (reforço ou dose única de acordo com a situação vacinal)
10 a 19 anos
Hepatite B (3ª dose de acordo com a situação vacinal)
Febre amarela (dose única para quem ainda não tomou)
Dupla adulto ou antitetânica (3 doses de acordo com a situação vacinal e reforço a cada 10 anos) — difteria e tétano
tríplice viral (2 doses a depender da situação vacinal)
20 a 59 anos
Hepatite B (3 doses de acordo com a situação vacinal)
Febre amarela (dose única para quem ainda não tomou)
Dupla adulto (3 doses de acordo com a situação vacinal e reforço a cada 10 anos)
Tríplice viral (para quem não foi imunizado)
Gestante
Hepatite B (3 doses — 0, 1 e 6 meses — de acordo com a situação vacinal)
Dupla adulto (3 doses de acordo com a situação vacinal e reforço a casa 10 anos)
dTpa (3 doses de acordo com a situação vacinal)
Influenza (vacina da campanha anual)
Idoso
Hepatite B (3 doses de acordo com a situação vacinal)
Dupla adulto (3 doses de acordo com a situação vacinal e reforço a casa 10 anos)
Febre amarela (dose única para quem nunca tomou)
Influenza (vacina da campanha anual)