Pais de estudantes da rede pública fizeram um abaixo-assinado on-line contra o retorno obrigatório das aulas presenciais nas escolas em agosto. Eles defendem o direito de decidir sobre a volta de crianças e jovens às aulas presenciais. Intitulado como “Coletivo de pais e mães contrários ao retorno presencial obrigatório”, a petição já soma 400 integrantes nos grupos de redes sociais e 770 assinaturas no abaixo-assinado.
O movimento começou no último domingo (11/7) e contou com a participação de pais e estudantes de diferentes regiões administrativas do Distrito Federal. O abaixo-assinado é acompanhado, também, de um texto, que reforça a razão da campanha, uma vez que há uma “grande aflição causada às famílias dos alunos da rede pública diante da imposição do GDF”. De acordo com o ato, a decisão foi tomada sem nenhuma consulta prévia ou debate junto à comunidade escolar.
“Queremos ter o direito de optar pela permanência no ensino remoto nos moldes que vem sendo realizado, e com os devidos aperfeiçoamentos que ainda são necessários. Imaginamos que assim estaremos colaborando com a manutenção do isolamento social e assim poderemos seguir acompanhando com esperança os resultados das pesquisas relativas à vacinação em crianças e adolescentes”, reforça. Segundo o texto, o coletivo não é contra o retorno das aulas presenciais, “pois compreende a diversidade das realidades da família do DF”, mas reforça o pedido de decisão dos pais.
Na prática
O professor Cristiano Leonardo Mendes Gomes, 39 anos, é pai de dois jovens que estudam em colégios públicos e reforça a importância do poder de decisão. Ele conta que a família, durante a pandemia, se movimentou para que as crianças se adaptassem ao modo remoto de ensino, e garante que eles conseguiram se adaptar bem. “Não é o melhor modo de ensino, não sou a favor do homeschooling, mas é o que precisamos fazer como contribuição para o isolamento social. Cada família que sai pra rua enfraquece mais a necessidade de recolhimento”, diz.
De acordo com o professor, é compreensível o retorno, uma vez que nem todas as famílias têm a mesma oportunidade que a sua. “A gente entende que algumas famílias precisam do retorno, muitas precisam deixar seus filhos na escola para irem ao trabalho. Não existe outra opção que não seja retornar para o presencial àqueles pais que necessitam. Mas aquelas famílias que têm condição de permanecer no modo remoto, que permaneçam para diminuir a quantidade de família na rua. Ainda não tem como o GDF garantir um retorno seguro”, diz.
Para Cristiano, o GDF deveria repensar a obrigatoriedade. Para o professor, é preciso investir para que as crianças que precisam retornar, retornem com segurança. “Não só na escola, mas no percurso para a escola também. Tem estudantes que pegam ônibus. O risco está aí. Dentro da escola, a gente tem riscos também, por mais que os protocolos sanitários sejam seguidos e adotados. Isso é uma tentativa, mas nem de longe garante a segurança”, defende.
Vacinação
A servidora pública Ana Passos, 40, diz que não há garantia de volta às aulas com segurança apenas com professores vacinados. “A imunização de um grupo só não funciona, tem que ser de muitas pessoas mais”, acredita.
Ela conta que enfrentou dificuldades durante o processo de adaptação da educação remota do filho, mas depois de um ano, se sente mais confiante. “Tanto a escola quanto os alunos estão mais adaptados ao processo. Eu entendo que o aspecto mais prejudicado é a convivência, que está diretamente ligada à educação, mas existe uma questão maior”, explica. “Claro que a gente entende que tem pessoas que precisam ir para as escolas. Mas elas também precisam de garantias de segurança. Quanto menos pessoas no ambiente, menos fontes de contaminação”, complementa.
Retorno
A decisão do retorno das aulas foi publicada no Diário Oficial do DF (DODF), apresentando como única opção um modelo híbrido: metade das turmas estarão em sala de aula e o restante, acompanhando pela internet. Na semana seguinte, os grupos se invertem. O documento lista uma série de medidas de higiene e de organização das salas de aulas.
O Correio procurou a Secretaria de Educação do DF quanto ao posicionamento do coletivo. Até a última atualização desta reportagem, a pasta não havia respondido.