OBITUÁRIO

Morre o jornalista Jaime Sautchuk

Internado no Hospital Brasília há uma semana, ele tinha problemas renais e sofreu uma parada cardíaca nesta quarta-feira, aos 67 anos. Sautchuk se dedicou à causa ambiental, escreveu livros e atuou no mercado independente audiovisual

 

Com uma vida dedicada às causas sociais e ambientais, o jornalista e escritor Jaime Sautchuk morreu, ontem, aos 67 anos, em Brasília. Ele estava com a saúde debilitada, pois enfrentava uma lesão no coração, problemas renais, complicações por conta da diabetes e fazia hemodiálise diária há cerca de um ano. Internado há uma semana no Hospital Brasília, Jaime sofreu uma parada cardíaca. O jornalista deixou três filhos.

“Ele deu exemplo em vários campos da vida dele, sobretudo, essa preocupação com as causas sociais e ambientais influenciam bastante e nos fazem olhar para o futuro com muita esperança e determinação, como ele viveu até seu último dia”, disse Carlos Emanuel Sautchuk, 45 anos, professor universitário e filho do jornalista.

Carlos Emanuel relembrou a extensa carreira do pai no jornalismo brasileiro. “Ele sempre foi ligado às temáticas indígenas e ambientais, enquanto jornalista. Teve um percurso na grande imprensa e no movimento em jornais de resistência à Ditadura na década de 1970”, contou.

O secretário de Cultura do Distrito Federal, Bartolomeu Rodrigues, lamentou a morte do colega. “Jaime foi uma mão amiga que me levou ao jornalismo. Trabalhamos e lutamos juntos pela democracia e pela imprensa livre. É um ícone de sua geração”, disse.

Natural de Joaçaba (SC), Jaime Sautchuk foi estudar em Curitiba aos 13 anos. Foi office-boy e bancário, até virar jornalista, aos 18 anos. Morou em vários estados, mas viu seu amor por Goiás crescer ao longo dos anos. Ele foi pioneiro no movimento pela preservação do Cerrado. O jornalista morava na reserva ambiental Linda Serra dos Topázios, em Cristalina (GO).

Legado
Jaime Sautchuk trabalhou na BBC de Londres, nos jornais alternativos Opinião e Movimento, em O Globo, Estadão, Folha de São Paulo, Jornal de Brasília, Veja e Diário da Manhã. Também dirigiu duas rádios do grupo RBS.

Como escritor, suas principais obras foram livros de ficção Mitaí e Antologia Profética, e não-ficção, com a biografia do escritor goiano Bernardo Élis, intitulada O causo eu conto — Sobre Bernanrdo Élis e o Brasil Central. O livro conta a história do contista que escreveu bastante sobre o tempo em que viveu, trazendo uma realidade histórica, cultural, familiar e pessoal. Bernardo participou de alguns eventos históricos como a Marcha para Oeste e viu as cidades de Goiânia e de Brasília serem construídas. O livro foi publicado pela editora paulista Geração Editorial.

Com mais de uma dezena de livros publicados, Jaime sempre gostou de produzir obras com temas de interesse nacional, como a ocupação da Amazônia. Sautchuk também foi um dos primeiros jornalistas brasileiros a contar a história da Guerrilha do Araguaia.

No vídeo independente, ganhou prêmios como o “Vladimir Herzog de Direitos Humanos”, com o documentário “Balbina, Destruição e Morte”. A mostra trata da problemática social e ambiental causada pela construção da hidrelétrica de Balbina, no rio Uatumã, que alagou terras da etnia Waimiri-Atroari.

Na cena audiovisual, o jornalista criou o Festival de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), realizado anualmente na Cidade de Goiás, desde 1999. O evento nasceu com o objetivo de propagar as potencialidades de Goiás para um cenário internacional, exibindo obras e premiando vídeos que focam na defesa da terra.

Nos últimos cinco anos, Jaime editava a revista Xapuri Socioambiental e publicava textos sobre questões sociais, ambientais e políticas em outros portais da internet.