Os moradores de Brazlândia foram surpreendidos, ontem, com a remoção da calçada da Orla do Lago Veredinha, em Brazlândia. Há 30 anos, quem passa pelo local caminha pela obra do artista plástico Francisco Galeno, nascido no Piauí, mas criado na região administrativa. As calçadas do lado externo são feitas em pedra portuguesa e foram um presente do artista à cidade. No entanto, um projeto da administração local para revitalizar da orla removeu parte do calçamento. As obras foram suspensas temporariamente após a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) receber denúncias e pedir a suspensão temporária das obras.
“A Secec designou que uma equipe da Subsecretaria de Patrimônio (Supac) fosse deslocada para avaliar a situação no local a fim de fornecer um parecer patrimonial sobre a obra, que não está no rol de bens tombados”, explica a pasta. Apesar da intervenção, o medo de perder um dos símbolos culturais da cidade preocupa os moradores. Galeno, o artista responsável pelo projeto, contou em entrevista ao Correio que ficou surpreso com a postura da Administração de Brazlândia. “E, ao mesmo tempo, aborrecido. É um descalabro, uma coisa horripilante. Eles estão apagando a memória da cidade”, pontua.
O artista acredita que a obra poderia ser preservada, se fosse o objetivo da cidade. “É uma coisa que eu fiz para Brazlândia, para agradecer. Eu cresci aí, o carinho é muito grande”, reclama. “Se não pode arrumar, deixa do jeito que está. Agora, arrancar do jeito que estão arrancando, é desumano. É como se estivessem arrancando um braço meu, como se estivessem me cegando. Isso não se faz.” Galeno já teve obras expostas na Suíça e nos Estados Unidos.
A justificativa da Administração de Brazlândia para remoção do calçamento é que as pedras portuguesas dificultam a acessibilidade. No entanto, o filho do artista e morador da RA, João Galeno, 31 anos, urbanista e arquiteto, destaca que só falta acessibilidade quando não tem manutenção. “Em novembro, eu já tinha denunciado sobre o descaso com a obra do meu pai. Tinha diversos buracos e faltavam cuidados com a calçada. Quando eles faziam alguma coisa, no lugar de prestar uma restauração, jogavam concreto”, narrou João. O arquiteto revela que há mais ou menos dois anos a Administração de Brazlândia já queria remover a calçada e substituí-la por concreto. “Na época, meu pai veio pessoalmente conversar com eles”, destacou. João conta que após a revolta, o sentimento que prevalece é o de tristeza. Questionada, a Administração de Brazlândia disse que a empresa que realiza a obra foi contratada pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), e que cabe ao órgão a execução e fiscalização da obra. Em nota, a Novacap apenas respondeu que a Secretaria de Cultura avalia a situação para fornecer um parecer patrimonial sobre a calçada.