Por 30 anos, quem passa pelo Lago Veredinha, em Brazlândia, caminha pela obra do artista plástico Francisco Galeno. As calçadas feitas em pedra portuguesa foram um presente do artista à cidade onde passou grande parte da vida. Nos últimos dias, porém, começaram a ser retiradas. A remoção faz parte da revitalização da orla promovida pela administração da cidade. A Secretaria de Cultura informou que sugeriu a suspensão imediata da retirada e teve o pedido atendido pela regional.
De acordo com Galeno, não houve nenhuma consulta a ele para questionar sua opinião sobre o assunto. "Eu estou surpreso e, ao mesmo tempo, aborrecido. É um descalabro, uma coisa horripilante
eles estão apagando a memória da cidade", afirma.
O artista acredita que a obra poderia ser preservada para manter viva a memória da cidade. "É uma coisa que eu fiz para Brazlândia. Eu fiz para agradecer. Eu cresci aí, o carinho é muito grande", reclama. "Se não pode arrumar, deixa do jeito que está. Agora arrancar do jeito que estão arrancando, é desumano. É como se estivessem arrancando um braço meu, como se estivessem me cegando. Isso não se faz."
Galeno nasceu no Piauí, mas passou grande parte da vida em Brasília. Ele é um dos artistas brasileiros mais prestigiados pelo Itamaraty na divulgação das artes plásticas e já teve obras expostas nos Estados Unidos, Miami e Suíça. As obras na orla do Lago Veredinha tiveram início ainda no ano passado e incluem nova pavimentação e um estacionamento. A verba é oriunda de emendas parlamentares.
Questionada, a Administração Regional de Brazlândia disse que a empresa que realiza a obra foi contratada pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e que cabe ao órgão a execução e fiscalização da obra. A Novacap ainda não havia respondido até a última atualização desta reportagem.
Já a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) informou que, ao saber da obra de remoção das pedras portuguesas com desenho de Galeno na Orla de Brazlândia, na tarde desta segunda-feira (12/7), "ligou imediatamente para aquela Administração Regional, responsável pela obra, e sugeriu a suspensão imediata".
"Ação que foi prontamente acatada. A Secec designou que uma equipe da Subsecretaria de Patrimônio (Supac) fosse deslocada para avaliar a situação no local a fim de fornecer um parecer patrimonial sobre a obra, que não está no rol de bens tombados", acrescentou a secretaria, em nota.