Jornal Correio Braziliense

Réus na Justiça

Pedro Henrique Krambeck foi indiciado 23 vezes por tráfico de animais silvestres, associação criminosa, maus-tratos e exercício ilegal da profissão. Também faziam parte do esquema: a mãe dele, a advogada Rose Meire dos Santos — indiciada por fraude processual, corrupção de menores, tráfico de animais, maus-tratos e associação criminosa; e o padrasto do jovem, o tenente-coronel Clóvis Eduardo Condi — indiciado por tráfico de animais, fraude processual, maus-tratos e associação criminosa. Além disso, Gabriel Ribeiro Moura, amigo de Pedro Henrique à época, foi indiciado por posse ilegal de animal silvestre, maus-tratos, fraude processual e corrupção de menores. Todos são réus na Justiça, mas respondem em liberdade.

Em dezembro, prestes a se formarem, Pedro Henrique e Gabriel foram expulsos da faculdade onde cursavam medicina veterinária, no Gama. A instituição abriu um processo administrativo interno contra, por terem levado uma cobra para a aula prática. “Um dos maiores problemas que esse processo causou na vida do Gabriel foi ele ter saído da faculdade perto da conclusão do curso. Ele era líder de um projeto de pesquisa e estava ansioso para se formar. Mas, logo, ele procurou outra instituição para dar continuidade (à graduação)”, afirmou a advogada do jovem, Juliana Malafaia.

Assim como Pedro Henrique, Gabriel continua no mesmo endereço e mora com os pais, no Guará. O jovem pegou a naja no dia em que o amigo foi picado e deixou a cobra perto de um shopping no Lago Sul. Na tarde de 7 de julho de 2020, Gabriel recebeu uma ligação da mãe do responsável pelo animal. Ela pedia que o amigo conseguisse um soro antiofídico para o filho, que estava internado, e que buscasse a naja. Gabriel pegou a serpente e a levou até um haras em Planaltina. No dia seguinte, à noite, deixou-a em uma caixa, na área do Pier 21, e avisou a polícia.

Atualmente, os dois não mantêm mais contato. Os dois teriam se falado pela última vez antes do caso da picada, segundo Juliana Malafaia. “Se o Gabriel não tivesse atendido aquela ligação da mãe do Pedro, provavelmente nada disso teria acontecido. O processo não teria tomado a proporção que tomou”, acrescentou a advogada.

O advogado criminalista Bruno Rodrigues, que atua na defesa de Pedro Henrique, afirmou que, depois de um ano da tramitação do processo e após as oitivas de diversas testemunhas de acusação, ficou “esclarecido que a acusação é extremamente abusiva”. “Nada se comprovou sobre tráfico de animais e quanto à alegação de maus-tratos. O que se demonstrou foi exatamente o contrário do que alega a denúncia. As próprias testemunhas de acusação informaram o notório zelo de Pedro no trato dos animais”, argumentou.

Antes do julgamento e divulgação da sentença, o processo precisa passar pelas fases de oitivas de todas testemunhas; interrogatório dos acusados; análise de possíveis novas diligências ou perícias; e apresentação de acusação final escrita, além de alegações da defesa.