Na tarde de 7 de julho de 2020, Pedro Henrique Krambeck estava em casa, em um condomínio no Guará, e brincava com a naja. Ele acabou picado pela serpente. Um vídeo que circulou à época do caso mostra o momento em que o jovem desce pelo elevador do prédio com o irmão mais novo, enquanto segura um papel sobre o braço. Pedro Henrique entra no carro da mãe, Rose Meire dos Santos, e é levado a um hospital no Gama.
Com necrose no braço e lesões no coração, o estudante acordou do coma dois dias depois. O tratamento dele contou com um soro antiofídico produzido com o veneno da naja kaouthia, trazido ao Distrito Federal diretamente do Instituto Butantan, em São Paulo. Havia só uma dose disponível. A criação dessa espécie no Brasil é proibida por lei. Após o caso, o laboratório importou 10 doses para estoque dos Estados Unidos.
No dia do incidente, a Polícia Civil esteve no apartamento da família, mas não encontrou a serpente, o que gerou desconfiança dos investigadores. Só em 8 de julho, policiais militares encontraram a cobra, no Lago Sul. Ao longo da apuração do caso, testemunhas disseram aos agentes que Pedro Henrique comprava e revendia cobras. Conversas por WhatsApp entre o jovem e a mãe dele revelaram que o estudante costumava viajar para São Paulo e para a Bahia, na intenção de adquirir os animais, para comercializá-los em Brasília.
A polícia encontrou diálogos no celular de Pedro Henrique que reforçaram a existência do comércio. Em uma das conversas, a mãe pergunta: “E aí? Tá por onde? Jantou? E as cobras?” Pedro Henrique respondeu “Passando por Ibotirama (BA)” e finalizou dizendo que as serpentes estavam bem. Em depoimento, Rose Meire negou as acusações e alegou não saber que o filho criava os animais em casa. No entanto, as investigações da 14ª Delegacia de Polícia (Gama) concluíram que a advogada era responsável por cuidar dos bichos e da reprodução deles.
No apartamento onde Pedro Henrique morava com a família, a polícia encontrou ratos congelados no freezer. Os animais serviam para alimentar 23 serpentes, inclusive a naja kaouthia. O jovem também mantinha camundongos vivos, que ficavam na área de serviço. A naja permaneceu sob cuidados da equipe do Zoológico de Brasília até 11 de agosto de 2020, data em que foi transferida ao Butantan, onde permanece até hoje. Outras seis espécies de cobras exóticas apreendidas, incluindo a víbora-verde-de-voguel, também foram levadas para o instituto. A reportagem tentou contato com o centro de pesquisa, para saber como elas estão, mas não teve retorno.