“Morrer se preciso for. Matar, nunca”. O lema é impressionante porque partiu de um marechal do Exército, Candido Rondon. Em princípio, os marechais são treinados para a guerra. Mas as batalhas do marechal Candido Rondon eram em favor do respeito aos direitos dos índios, da preservação das florestas, do progresso para o interior do país, da civilidade e do humanismo.
O lema é ainda mais impactante porque não era apenas uma frase de efeito. Passou pelo teste da realidade. Em uma das incontáveis expedições, Rondon foi atingido por uma flechada dos índios nhambikwara e proibiu a seus soldados que revidassem. Em outra, um soldado morreu. Rondon foi duramente questionado pelos militares, mas não cedeu.
Darcy Ribeiro dizia que ele era o maior de todos os brasileiros. De fato, se destacou em múltiplas frentes: explorador dos trópicos, pacifista, ambientalista, antropólogo e indigenista. Empreendeu expedições que o alçaram à condição de um dos maiores exploradores da história, acima dos célebres Sir Richard Francis Burton, Ernest Shacleton e David Livingstone.
O marechal criou o Serviço de Proteção ao Índio, que se desdobraria na Funai. Batalhou pela criação de leis que amparassem os índios da violência de fazendeiros, madeireiros e seringueiros. Distinguiu-se, sobretudo, pela atuação de pacifista. A ponto de ser cogitado três vezes para o Prêmio Nobel da Paz, uma delas por indicação de Albert Einstein.
No excelente Rondon, uma biografia (Ed. Objetiva), com instinto de repórter, o jornalista norte-americano Lary Rohter descobriu carta de Einstein com trechos em que ele faz a indicação de Rondon ao Prêmio Nobel da Paz. “Tomo a liberdade de chamar a atenção de vossas senhorias para as atividades do general Rondon do Rio de Janeiro, uma vez que durante minha vista ao Brasil fiquei com a impressão de que esse homem é altamente merecedor de receber o Prêmio Nobel da Paz”.
Rondon é atualíssimo em tempos de desmatamento desenfreado, ataques covardes aos índios, barbárie, desproteção, sandice e mentira institucionalizada. É uma figura inspiradora para os militares. Precisamos, dramaticamente, de brasileiros que nos engrandeçam, que nos ajudem a dar passos de civilização.