A mulher, de 64 anos, presa pela Polícia Militar por injúria racial contra o idoso negro José Barbosa dos Santos, 70, na quarta-feira, perto do Taguatinga Shopping, se recusou a pedir desculpas a ele. É o que relata a policial militar que deu voz de prisão à acusada, que foi solta no mesmo dia após pagar fiança de R$ 1 mil. A soldado Carla Costa recorda que estava fazendo caminhada com a mãe quando viu a confusão.
“Ao vê-la o agredindo, não sabia do que se tratava. Resolvi ir até eles e me identifiquei como policial militar para auxiliá-los, e ele [filho do idoso] me contou o que tinha ocorrido. Pedi para ela se acalmar, mas a mulher ficou o tempo inteiro dizendo palavras de baixo calão e dizendo que não pediria desculpas, quando chegou um sargento do Corpo de Bombeiro para conter [a situação]. Ela tentou agredir a gente xingando todo mundo de vagabundo. Foi acionado o 17º Batalhão de Polícia Militar de Águas Claras, que chegaram rapidamente”, relata. Pela agressão ao bombeiro, ela também responderá por vias de fato.
Depois de ser levada à 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul), a mulher foi liberada após pagar fiança no valor de R$ 1 mil. Familiares de José Barbosa registraram boletim de ocorrência na unidade. Nas imagens gravadas pela família do idoso, é possível ver quando a acusada passa pelo grupo, xinga, empurra o idoso e bate com uma bolsa nas pessoas que o acompanhavam. “Essa negrada do inferno, vai tudo pro inferno”, insulta a mulher. Antes do ocorrido, Alcides dos Santos, 39, filho de José, dizia na filmagem que o pai é pintor há mais de 40 anos, ao olhar para alguns equipamentos utilizados na reforma do centro comercial. Neste momento, a mulher passou perto deles e proferiu as ofensas. “[Uma testemunha] Percebeu que a agressora apresentava uma conversa desconexa”, explicou, em nota, a Polícia Civil do DF.
A militar Carla Costa comenta que jamais passou por uma ocorrência parecida. “Preconceito igual a esse não. Ela empurrar, sem nenhum motivo, a pessoa e a xingar de ‘negra do inferno’ é abominável a qualquer ser humano. Ela batia no sargento dos Bombeiros com chutes. Como ela estava sozinha, solicitei para que ela ligasse para alguém ajudá-la, mas ela se negou”, conta a policial. “Peço às pessoas que vejam esse tipo de atitude que repudiem, filmem, peçam ajuda da Polícia Militar, que estará pronta para auxiliar e repudiar qualquer tipo de racismo ou injúria racial”, aconselha a militar
Crime
Segundo a advogada Uiara Brauna, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, Subseção de Águas Claras da OAB-DF, o caso se trata de racismo, e não de injúria racial, conforme a Polícia Militar considerou na ocorrência. “A prática de racismo é inafiançável e imprescritível, ou seja, não constitui fiança e não prescreve, de acordo com o art 5º da Constituição Federal, sujeito à pena de reclusão. Entretanto, equivocadamente, foi entendido que se tratava de injúria racial, não de crime de racismo. Existe uma prática errônea e grave ao tratar o racismo como injúria racial”, analisa.
A advogada, que também é membro da Comissão de Igualdade Racial OAB-DF, explica a diferença entre injúria racial e racismo. “Na injúria racial, a ofensa é direcionada a um indivíduo específico. Já no crime de racismo, a ofensa é contra uma coletividade, por exemplo, toda uma raça. Não há especificação do ofendido, é o direcionamento que diferencia.”
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