CORONAVÍRUS

Vacinação: após dificuldades com agendamento, público deve encarar filas no DF

Após registros de problemas na marcação de vacinas, Secretaria de Saúde decidiu atender sem agendamento, mas especialistas criticam

Cibele Moreira e Ana Isabel Mansur
postado em 21/07/2021 06:00 / atualizado em 22/07/2021 16:38
Para pesquisadores da saúde, volta ao modelo anterior abre espaço para filas e aglomeração -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Para pesquisadores da saúde, volta ao modelo anterior abre espaço para filas e aglomeração - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) anunciou, nesta semana, a suspensão do agendamento da vacinação contra a covid-19. A decisão partiu do governador Ibaneis Rocha (MDB) e passa a valer a partir da chegada da próxima remessa de doses, o que deve ocorrer até sexta-feira (23/7). Enquanto isso, a pasta segue com a aplicação das doses no público previamente inscrito. A mudança ocorreu após o Executivo local registrar instabilidade no site vacina.saude.df.gov.br, por onde a população marca a data e hora do atendimento.

Na última sexta-feira (16/7), a SES-DF abriu 46,5 mil vagas para pessoas de 40 a 49 anos. No entanto, pouco tempo depois da liberação, o sistema travou. Morador da Asa Norte, Renato Caixeta, 40 anos, conta que gastou toda a tarde para conseguir agendar a vacinação. “O site apresentava erro de acesso. Travava e aparecia uma tabela com códigos”, descreve. “Eu, que sou profissional da área de tecnologia da informação, tive muita dificuldade para conseguir marcar, imagine quem é leigo”, compara. Ele destaca que só conseguiu acessar o portal e marcar a data depois de horas, à noite.

O anseio de tomar a vacina contra a covid-19 é grande para a administradora Luciana Frota, 40. Ela, o marido, João Távora, 40, e a filha deles de 5 anos tiveram a doença em março. Agora, ao tentarem agendar a imunização, enfrentaram dificuldades. O casal acessou o site da pasta assim que abriram as vagas e tentou durante uma hora e meia, mas só conseguiu horas depois, quando encontrou vaga no Gama. “Queremos nos vacinar, principalmente pelo medo da variante Delta. Não sabemos como ela reage com quem se infectou pela cepa identificada primeiro no Amazonas (o que aconteceu com Luciana e o companheiro)”, diz a moradora do Sudoeste.

Questionada sobre as possíveis causas da instabilidade no sistema, a Secretaria de Saúde não se pronunciou. O Correio encaminhou diferentes demandas à pasta, mas só teve resposta de que a SES-DF “decidiu realizar o processo de vacinação por demanda espontânea e que mais detalhes serão divulgados brevemente”. Sobre a possibilidade de longas esperas nos pontos de atendimento, o órgão também não respondeu. Na terça-feira, em coletiva no Palácio do Buriti, o chefe da Casa Civil, Gustavo Rocha, pontuou que, na opinião dele, o novo modelo causará aglomerações e fila, devido à grande procura.

Possibilidades

O pesquisador do Centro Universitário Iesb e pós-doutor pela Universidade de Brasília (UnB) Breno Adaid considera que o DF está atrasado. “Caso a (quantidade de doses destinadas à) reserva técnica (para suprir perdas) fosse um pouco menor, atingiríamos mais pessoas em um espaço inferior de tempo. Com a possibilidade de infecção por uma variante muito contagiosa (a Delta), que provavelmente está em Brasília, aplicar a primeira vacina é fundamental”, pontua o especialista.

Quanto às filas, Breno Adaid destaca o crescimento da quantidade de grupos contemplados: “A cobertura da estrutura não acompanhou a evolução da quantidade de doses que têm chegado nem levou em conta a diminuição nos intervalos de envio”, completa.

Para Carla Pintas Marques, professora do curso de saúde coletiva da UnB, o DF enfrenta atraso vacinal em relação a outras unidades da Federação devido à forma como ocorreu a priorização dos grupos. Por outro lado, ela considera assertiva a decisão da SES-DF de guardar doses para o reforço. Em relação ao agendamento, Carla defende os dois modelos: “Tem muitas pessoas sem acesso à internet que não conseguem agendar e não estão em regiões onde a vacinação está em sistema volante. Poderiam manter o sistema de agendamento com o drive-thru e a demanda espontânea nos postos de vacinação”, sugere.

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