O vigilante Roniel Carvalho de Souza, 40 anos, está há três meses à espera de uma cirurgia no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Ele quebrou o rádio, osso do braço, após tentar proteger o neto de uma queda em uma poça d'água. Segundo a família de Roniel, ele está internado no hospital há 22 dias e, durante a espera, foi contaminado pela covid-19.
“No dia 15 de julho, fui testado e positivado. Agora, tenho que esperar mais dias para realizar a cirurgia. Estou sendo prejudicado pela irresponsabilidade da equipe médica”, desabafou o vigilante. De acordo com a filha de Roniel, a estudante Kelly Cristina Oliveira Carvalho, 20, ele não recebeu nenhuma orientação médica ou medicamentos até o momento. “Não consegue falar, porque sente falta de ar, teve febre alta e não consegue comer direito. Ele está jogado lá”, afirma Kelly.
O acidente aconteceu em 29 de abril. De acordo com Kelly, o pai ficou internado por sete dias. No dia 5 de maio, o vigilante recebeu a visita de um cardiologista, que autorizou sua cirurgia. Mas, segundo Kelly, no mesmo dia dois ortopedistas deram alta e alegaram que a cirurgia não seria feita. Segundo as orientações médicas, Roniel teria que fazer uso de uma tala por 29 dias e sessões de fisioterapia.
"Meu pai sentia muita dor. Ele foi a vários hospitais e disseram que ele tinha que fazer a cirurgia. Ele chegou a ir ao Hospital Regional do Gama (HRG) e os médicos disseram que a alta foi equivocada”, conta Kelly. Depois de reclamar na ouvidoria no hospital e insistir em ser atendido pelo médico, Roniel conseguiu marcar uma consulta, na qual o médico solicitou um raio-X.
Ao Correio, Roniel contou que, depois de analisar a imagem e pedir orientação de colegas, o profissional da saúde marcou a cirurgia do vigilante para 10 de junho. Ao chegar para realizar a operação no dia marcado, a família recebeu a notícia de que o nome do vigilante não estava na lista. “Mesmo estando com o encaminhamento em mãos, não realizaram a cirurgia”, explicou o vigilante.
A operação foi remarcada para 25 de junho, e novamente não realizaram o procedimento. Desde então, o vigilante está internado. “Eles me pediram outra tomografia, e todos os médicos que passam na visita diária falam que o meu problema é grave e complexo. Eles explicam que, devido a essa complexidade, não é qualquer médico que realiza a cirurgia e, no momento, não tem médico que realiza tal procedimento no hospital”, conta o vigilante.
De acordo com a família, já são 22 dias que Roniel está internado no hospital. “Como todos sabem, diante de um caso grave e complexo igual eles relatam, o tratamento realizado o quanto antes, ajuda na eficácia, mas infelizmente no meio desse transtorno o único prejudicado sou eu, pois já se passaram 82 dias de lesão”, ressalta Roniel.
Justificativa
De acordo com a filha, até o momento em que o pai testou positivo para o novo coronavírus, a justificativa de não realizarem o procedimento médico é de que um aparelho quebrou e não foi possível fazer o conserto. “Agora, ele tem que esperar melhorar da covid-19, sendo que foi contaminado lá. Nesse tempo, ninguém conseguiu vê-lo”, diz a filha.
Kelly explicou, ainda, que a família não tem condição financeira para transferi-lo para um hospital particular. “Se tivéssemos, já teríamos feito”, garante. Ela conta que a mãe chegou a contratar um advogado para conseguir a transferência para outro hospital. "Conseguimos em Planaltina, mas, no dia em que ele seria transferido, não conseguiu, porque foi contaminado”, conta.
O Correio procurou a Secretaria de Saúde do Distrito Federal para um posicionamento. Em nota, a direção do HRT informou que está trabalhando com uma sobrecarga na área de ortopedia, inclusive com atendimento a pacientes vindos de outros estados. “A fila de pacientes para ortopedia continua sendo alta, apesar de todos os esforços dos profissionais de saúde do HRT para diminuir o tempo de espera. É preciso esclarecer também que as cirurgias de urgência/emergência têm preferência no atendimento”, ressaltou.
Sobre o caso de Roniel, a direção esclareceu que a informação sobre equipamento não procede, “pois a unidade conta com quatro perfuradores, todos em pleno funcionamento”. “Informamos também que o paciente R.C.S chegou à unidade após sofrer uma luxação no cotovelo direito, e, depois de ser atendido pela equipe médica, foi constatada necessidade de cirurgia, prontamente agendada para o dia 7 de julho”, disse.
Segundo o hospital, é protocolo, antes de qualquer procedimento cirúrgico, os hospitais da rede realizarem exame para descartar ou confirmar a contaminação por covid-19. “No caso do paciente em questão, foi confirmada a suspeita da doença e ele precisou ser encaminhado para o covidário da unidade, local no pronto-socorro onde ficam os pacientes positivos”. “O HRT não é uma unidade referência para o tratamento da doença, e, por isso, o paciente aguarda transferência para local adequado ao seu tratamento. Enquanto espera, está sendo assistido pela equipe médica, com cirurgia reagendada para 27 de julho”, informou.
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