O que começou como uma despretensiosa iniciativa de estudantes da Universidade de Brasília (UnB) e de membros da comunidade para animar os festejos de Natal nos idos de 1980, se transformou num dos mais conhecidos grupos de canto da cidade. Assim começou a história do Coral da UnB. De lá para cá, se vão 40 anos de um projeto que resistiu ao tempo, se profissionalizou e, mesmo em meio à pandemia, celebra sua entrada na quarta década de existência da melhor maneira possível: com uma apresentação virtual.
A programação ocorreu no último dia 30 de junho e reuniu regentes e cantores que fazem parte da história do coro, vocalizando performances clássicas e canções inéditas. Ao contrário dos concertos tradicionais, a celebração foi transmitida e disponibilizada no canal do YouTube (www.youtube.com/c/CoralUnb) do grupo, um novo capítulo para o coral, que precisou se adaptar ao contexto de distanciamento social imposto pela covid-19.
Composto por integrantes de variadas idades e profissões, o Coral da UnB segue sob a regência do maestro Éder Camúzis, preserva a paixão pela música e mantém o objetivo de difundir o canto coral em Brasília, no Brasil e no exterior. Um trabalho oficialmente reconhecido desde 2013, quando a Lei Distrital nº 5.155 lhe conferiu o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Distrito Federal.
Com a lei, integrantes do grupo comemoraram o reconhecimento, como o médico Wilton Ferreira Silva Santos, de 53 anos, que estudou em 1980 na UnB. Único integrante da formação inicial, Wilton canta como tenor há 40 anos. Durante esse tempo, ele lembra que se ausentou apenas para fazer doutorado em São Paulo, mas logo regressou ao grupo. “Saber que essa atividade que nós fazíamos de uma forma tão prazerosa e despretensiosa tinha tanta qualidade a ponto de obtermos reconhecimento em Brasília, no Brasil e no exterior, me faz honrado em ser parte de tudo isso até hoje”, relata o integrante.
Ele recorda que o grupo começou com a criação da Serenata de Natal, tradicional na cidade, e depois desenvolveu outros projetos. Nesse percurso, foram acumuladas premiações em concursos nacionais e internacionais. Nomes importantes de maestros brasileiros, como David Junker, Nélson Mathias, Emílio de César, Jocelei Bohrer, Glicínia Mendes e Marconi Araújo também passaram pelo Coral da UnB.
Para a ex-coralista Eleni Fagundes, o momento que esteve presente no grupo foi único e representativo em sua vida. “Tive a honra de ser regida pelos melhores maestros de Brasília e fazer amizades que são para a vida toda. Muito obrigada Coral da UnB”, agradece. Eleni entrou no Coral da UnB em 1994, ano em que o grupo participou de um festival no Canadá.
Já para o professor da Escola de Música de Brasília André Vidal, 49 anos, a passagem não o marcou só afetivamente, mas faz parte de sua história profissional. “Trabalhei com a técnica vocal do coro entre 2010 e 2019. No caso, estive em todos os concertos em Brasília, além de ter feito a preparação para todas as viagens nacionais e internacionais”, conta.
Palco virtual
Durante a pandemia, os ensaios passaram a ser remotos, virtualmente, e para o maestro Éder Camuzis, 53 anos, foi um desafio para todos os integrantes, desde obter familiaridade com a tecnologia até o tempo dos ensaios. “Não tem como todos cantarem ao mesmo tempo, então, até unir, ouvir, às vezes não funciona direito”, explica. Integrante há 20 anos do grupo, ele pondera que também existem vantagens nessa adaptação. “Tivemos que reaprender a forma de ir ao palco, que agora é virtual. Existe a produção dos coros virtuais, ou seja, são aqueles mosaicos que a gente cria, e o Coral da UnB tem feito isso muito bem”, complementa.
Ano passado os trabalhos estavam focados na produção de vídeos em comemoração ao aniversário. “Montamos como se fosse um documentário sobre a vida do Coral da UnB com a participação de todos os ex-maestros, passando por vários cantores, que já participaram desde a fundação e que cantam até hoje. Pianistas e produtores de técnicas vocais também estão presentes. Conseguimos muita ajuda para criar esse documentário”, se emociona o atual maestro do grupo.
Para o próximo semestre, ele revela que já há convites para apresentações, mas ainda há receio por parte dos membros devido à pandemia. “Recebemos alguns convites para participar de festivais dentro e fora do Brasil e temos vontade, mas tudo depende da vacinação no Brasil. Porque o coral é isso, é contato, é o calor humano, é esse contato físico, regado a muita alegria e muita amizade”, finaliza Camúzis.
O início
O aposentado David Junker, 60 anos, foi um dos fundadores do Coral da UnB e permaneceu à frente do grupo de 1981 até 1983. Ele se ausentou para fazer mestrado e doutorado nos Estados Unidos na área de canto coral. Ao retornar ao Brasil, criou o coro sinfônico comunitário da UnB, em 1991. Ele ressalta que o espírito de solidariedade que motivava as apresentações foi fundamental para a consolidação do coro da UnB. “Quando começamos, fazíamos música nas superquadras e em abrigos de crianças e idosos. Era muito gratificante”, relata Junker.
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