As invasões e a violência cometidas por Lázaro Barbosa contra moradores de propriedades rurais trouxeram à luz um problema recorrente entre a população do campo: a insegurança. A sensação tem levado produtores rurais a buscar meios de garantir a própria proteção quando estão longe dos grandes centros urbanos e, por vezes, das delegacias. No entanto, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) destaca que, nos primeiros cinco meses deste ano, houve queda de 30,4% nos casos de roubos em chácaras, sítios e fazendas, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Dona de uma propriedade na região das Mansões Fazendárias, em Santa Maria, Marystela Gama da Silva, 50 anos, tem uma impressão diferente. A chácara onde mora teve diversos casos de invasões e furtos desde fevereiro do ano passado, quando ela comprou o imóvel. “Com cinco meses, coloquei duas câmeras na entrada, mas arrancaram uma. Vou ter de espalhá-las pelo terreno, para ver se tenho um pouco de sossego. Na primeira vez que entraram, arrombaram as portas do fundo, reviraram a casa, mas não levaram nada. Na segunda vez, levaram botijão de gás e algumas coisas da cozinha, como facas e panelas”, relata Marystela.
Para demonstrar que a chácara tinha moradores, ela visitava o imóvel diariamente antes de se mudar para lá, em novembro. “Em uma terça-feira, cheguei por volta das 17h45 e vi que a casa estava sem energia, porque roubaram toda a fiação elétrica. Meu pai registrou boletim de ocorrência, no ano passado, por roubo. Estou cansada de denunciar, principalmente no grupo da associação (de moradores). Sempre que chamamos o Batalhão Rural da Polícia Militar do DF, eles vêm. Mas dizem que, às vezes, demoram, pois têm poucas viaturas, que também dão conta de São Sebastião e Itapoã. Eles afirmam que o efetivo é pouco para essas regiões”, detalha Marystela.
Além dos fios de energia, dois invasores tentaram furtar três porcos da propriedade. Um em novembro, outro em fevereiro último, quando os criminosos quiseram levar duas porcas filhotes. “Chegamos ao chiqueiro e vimos um pedaço de pau, além do porco machucado na cabeça, no focinho e nas costas, por causa da paulada. As filhotes foram atingidas na nuca. Meu pai pediu para colocar a chácara à venda, mas estou lutando contra isso, porque é um investimento. Nossa área é sonho de muita gente. Quero fazer um tanque de peixes e transformar o local em uma espécie de ponto de retiro, para a pessoa vir, descansar e esquecer a cidade”, comenta.
Presença
Entre janeiro e maio, a SSP-DF contabilizou 16 ocorrências de roubo nessas áreas, contra 23 no mesmo período do ano passado. Em relação aos furtos, houve queda de 28,3%, com 180 boletins registrados nos primeiros cinco meses de 2021 e 251 em igual intervalo de 2020. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) informou que o Batalhão de Policiamento Rural conta com o Projeto Guardião Rural, para monitoramento de várias propriedades. As unidades do grupamento ficam em Ceilândia, Planaltina e no Gama.
Os policiais visitam os imóveis, cadastram moradores, registram insumos e ferramentas agrícolas da propriedade, incluem os chacareiros em um grupo de WhatsApp do batalhão e identificam o terreno com uma placa. Desde a criação do projeto com esse foco, em 2018, há mais de 350 endereços atendidos pela PMDF. A área rural do DF corresponde uma região de, aproximadamente, 398.689 hectares — o equivalente a 558 mil campos de futebol —, segundo dados do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) de 2009. Já a população rural é composta por 87.950 habitantes, de acordo com o mais recente Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010.
Dono de uma fazenda no Núcleo Rural Rajadinha, em Planaltina (DF), Leonardo Hamu, 63, acredita que o poder público é o responsável por garantir a segurança da população. Mesmo assim, tem quatro câmeras de segurança no terreno. “É mais para resguardo da gente, porque não faz diferença para quando os delinquentes resolvem atuar. Pago meus impostos e isso (a proteção das pessoas) é um dever do Estado, seja no campo ou na cidade. Não dá para transferir as responsabilidades para a população. Se eu tiver de pagar por segurança privada, não há justificativa para os impostos que pago”, contesta o fazendeiro.
Uma prática comum entre donos de chácaras e fazendas é comunicar os casos em grupos nas mídias sociais, mas, para Leonardo, isso não garante a segurança. “Informamos se há pessoas suspeitas por perto, mas não é isso que vai trazer qualquer tipo de proteção. É uma questão de ter presença permanente da polícia, com blitze nas estradas, cerco às armas. Quando acionada, ela comparece, mas faz uma grande diferença quando está na região de maneira espontânea”, opina Leonardo.
Para a conselheira do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) Isabel Figueiredo, as organizações comunitárias são úteis para formar uma rede de contato entre vizinhos. Porém, a especialista reforça a necessidade de haver patrulhas em áreas rurais. “Precisamos de um efetivo maior e de programas mais especializados de policiamento, seja para os grupos que circulam de vez em quando ou para o atendimento por telefone e aplicativo. É necessário que haja agilidade nesse contato. As outras estratégias (de segurança particular) são muito mais simbólicas do que eficientes. As saídas formais e republicanas são as mais inteligentes”, pontua.
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