SUBSTITUTIVO

Câmara Legislativa aprova projeto inédito sobre tratamento de Alzheimer

Matéria prevê auxílio a cuidadores de pessoas diagnosticadas e pacientes. Lei será a primeira desse tipo com foco na doença, no Brasil

Edis Henrique Peres
postado em 01/07/2021 06:00 / atualizado em 01/07/2021 15:13
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Enquanto que a população idosa aumenta com o passar dos anos, de acordo com estudos demográficos, são poucas as iniciativas que tratam temas como envelhecimento e prevenção de doenças nos mais velhos. Nesta terça-feira, o Distrito Federal deu um importante passo sobre o assunto. A Câmara Legislativa do DF aprovou um projeto de lei que estabelece a prevenção e o tratamento de Alzheimer. O texto aprovado, da deputada Arlete Sampaio (PT), é um substitutivo ao PL nº 1265/2020, do distrital José Gomes (sem partido), e propõe tratamento a pacientes e aos seus familiares e cuidadores, algo inédito no Brasil. A matéria segue para sanção do governador Ibaneis Rocha (MDB).

“(As doenças demenciais) é um assunto ainda pouco explorado, seja por desconhecimento ou por certo preconceito. Mas não podemos virar as costas para esse assunto. Precisamos criar políticas públicas que preservem esses pacientes e seus familiares. Por isso, a ideia é que as áreas de saúde, assistência social, direitos humanos, justiça e educação trabalhem juntas para dar conhecimento e suporte sobre a doença”, pontua o parlamentar. José Gomes também destaca que, para romper o preconceito, o projeto prevê o desenvolvimento de campanhas de esclarecimento e ações preventivas entre a população.

Apoio

Em meados de 2011, Carmem Castro, mãe da psicanalista e pesquisadora Cosette Castro, foi diagnosticada com Alzheimer. Desde então, por ser filha única, Cosette se desdobrou para cuidar de Carmem e contou com o suporte de amigas. “Quando minha mãe ficava muito tempo internada era meu grupo de amigas que revezava comigo no hospital. Sou muito grata a isso”, narra. Para a psicanalista, ainda há pouca oferta de serviços para a população de baixa renda, além de poucos médicos geriatras e pouca infraestrutura na educação.

“As faculdades praticamente não oferecem disciplinas sobre demências, e os médicos têm dificuldade em diagnosticar a doença. Faltam campanhas nacionais para que os cuidadores entendam o que são (as doenças) e o que significa esse processo de esquecimento, de estranheza e, até mesmo, de um pouco de agressividade comum aos pacientes”, explica.

Carmem morreu em janeiro deste ano, mas deixou um legado para a filha. Cosette, ao perceber a precariedade sobre o tema, em 2019, em parceria com a jornalista Ana Castro, fundou o Coletivo Filhas da Mãe, que atua, principalmente, no suporte às cuidadoras. A iniciativa possui um blog no Correio e também organiza lives e projetos divulgados no Facebook e no YouTube (Coletivo As Filhas da Mãe).

Diagnóstico

Neurologista do Hospital Brasília, Carlos Uribe explica que o tratamento para as doenças neurodegenerativas é baseado no controle de sintomas e em medicamentos que aumentam o nível de neurotransmissores no cérebro para tentar equilibrar a química do sistema nervoso. “Principalmente o acesso à informação é um meio de prevenção. As pesquisas mostram um aumento nos casos de doenças demenciais nos países em desenvolvimento, como o Brasil, por causa da falta de controle de riscos como pressão alta, diabetes, tabagismo e outras doenças, que podem afetar os pacientes”.

Carlos alerta que qualquer alteração cognitiva em pessoas idosas deve ser investigada. As pessoas costumam atribuir somente às coisas da idade. Mas muitas vezes é possível encontrar causas que são potencialmente tratáveis e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Mesmo se tratando de uma doença incurável, em fase inicial, os resultados são muito bons e o paciente consegue viver com qualidade nos anos que tem pela frente”, finaliza.

 

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