Crônica da Cidade

A PL 490 contra os índios

Senhores congressistas,

Prezadas excelências, ontem, passei pela Esplanada e avistei um movimento de índios armados de flechas, acompanhados de mulheres e crianças, em marcha de protesto rumo ao Congresso Nacional. De repente, estourou uma confusão e eles foram escorraçados pela polícia com bombas e gás lacrimogênio. Antes de serem escorraçados, vi a foto de uma índia oferecendo um buquê de flores para um policial.

Mais uma vez, eles brigam, bravamente, porque os seus direitos estão sendo roubados por vossas senhorias com a chamada PL 490. Suas excelências querem dificultar a demarcação das terras indígenas. Mas não apenas isso, querem abrir a porteira para a horda de garimpeiros e para a construção de hidrelétricas em terras dos índios. Antes de tudo, basta de barbárie, retirem os garimpeiros nas terras do munduruku, no Pará, e dos yanomanis, em Rondônia.

Nobres parlamentares, essa PL é de uma burrice e de uma estupidez sem tamanho. Os índios são os guardiões das nossas florestas. Se os senhores inviabilizam a demarcação das terras indígenas e destroem o meio ambiente, vai sobrar para os senhores, os seus filhos e os seus netos.

A terra ficará mais quente, será um lugar inabitável, e, com a devastação das florestas, novas pandemias assolarão o planeta. Vossas senhorias estão fechadas na bolha de alienação do orçamento secreto, alugaram a consciência por uma emendinha ou um cargozinho e pensam que podem fazer tudo que lhes dê na veneta.

A quem vossas excelências pensam que estão enganando? O mundo inteiro está assistindo os índios, os povos originários de nosso país, serem atacados com bombas, tiros de borracha e gás lacrimogênio na Esplanada.

É uma decisão da vanguarda do atraso e vai na contramão do mundo civilizado, que fez uma opção pela economia verde e pela defesa do meio ambiente. Isso resultará em retaliações ao agronegócio troglodita insustentável e em desinvestimentos para o Brasil. Os fundos estrangeiros bilionários já avisaram que não investirão no Brasil se o país devastar as florestas e aos índios.

Não foi para isso que foram eleitos, a quem os senhores representam? Saibam os senhores que o marechal Rondon, um dos patronos do Exército brasileiro, defendeu os índios contra os madeireiros, contra os garimpeiros e contra os invasores: “Morrer se preciso for. Matar, nunca!”, dizia Rondon.

Saibam, também, suas excelências, que este parlamento já foi ocupado por um brasileiro da grandeza de Darcy Ribeiro, um dos maiores defensores dos nossos índios. Suas excelências posam de muitos superiores em seus tailleurs e ternos impecáveis, mas, no fundo, são caboclas e caboclos, como diz Darcy: “Todos nós somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sofrida e sentida que somos e a gente brutal que também somos”.

Surrupiar as terras indígenas e abrir a porteira para o garimpo é um ato de suprema covardia e de suprema burrice. Suas excelências são traidores dos interesses da nação brasileira. Os nossos índios são parte da riqueza étnica, cultural e humana brasileiras. Eles são detentores de uma sabedoria ancestral. Os senhores querem legalizar a barbárie. Os nossos índios são parte inalienável da riqueza brasileira. Está tudo errado, a polícia deveria proteger os nossos índios e prender os que tentam surrupiar as suas terras.