Algumas ações da polícia de Goiás no Entorno do Distrito Federal, especialmente nos terreiros de religiões de matriz africana, têm estimulado a intolerância religiosa que já existe na sociedade. A avaliação é do deputado distrital Fábio Félix (PSol), membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do DF (CLDF). Segundo o parlamentar, houve uma tentativa de ligar Lázaro Barbosa, 32 anos, procurado há 14 dias pela polícia, as religiões de origem africana. “A satanização tem que ser combatida. A própria polícia e outras instituições que atuam nesse caso (de buscas por Lázaro), precisam respeitar todos os líderes”, pontua.
O deputado foi entrevistado pelo jornalista Alexandre de Paula nesta terça-feira (22/6), no CB Poder — uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília. De acordo com Fábio Félix, os terreiros correm risco de sofrer mais atos violentos. “Há muita falta de compreensão sobre as religiões com matrizes africanas e os terreiros precisam ser respeitados. Até porque a legislação brasileira e a Constituição protegem os templos religiosos”, destaca.
O debate sobre o tema surgiu após, em operação de buscas por Lázaro Barbosa, a polícia ter invadido alguns terreiros, agredido um caseiro e causado danos aos objetos religiosos. “Já foi protocolado no Tribunal de Justiça de Goiás um habeas corpus preventivo para que os terreiros sejam respeitados”, informa.
O distrital relembra, ainda, que, embora a deputada federal Flordelis seja investigada pelo assassinato do marido e responda um processo no Congresso Nacional, “dificilmente ocorre uma vinculação desse fato em relação às práticas religiosas dela”. “No caso do Lázaro tentam fazer uma assimilação equivocada, tiram fotos descontextualizadas e reforçam o preconceito histórico e estrutural”, afirma.
Feminicídio
Durante a entrevista, o parlamentar também discutiu sobre o alto número de mortes de vítimas de feminicídio na capital do país. Já são 14 vítimas no DF. “Existe uma onda de violência de gênero na nossa cidade que precisa ser estudada e enfrentada. A Comissão Parlamentar de Inquérito do Feminicídio já foi concluída e fizemos coletivas, audiências públicas e diligências para entender os fenômenos que envolvem esses crimes. Por isso, apresentamos um pacote de recomendações para o Ministério Público e o Tribunal de Justiça do DF. Amanhã (23/6), entregaremos ao GDF”.
Para Fábio, o que falta é uma integração das forças de apoio às mulheres vítimas, além de um monitoramento eficaz. “No primeiro caso de feminicídio de 2021 a vítima já tinha feito seis denúncias de violência e tinha uma medida protetiva de urgência no bolso. Falta monitoramento. A Secretaria da mulher precisa se profissionalizar e é necessário uma integração da polícia para impedir e enfrentar esses casos”, finaliza.