A subsecretária de Planejamento em Saúde da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Christiane Braga, afirma que o Distrito Federal teria toda a população adulta vacinada em apenas um mês caso o quantitativo de doses de imunizantes não fosse limitado. Para ela, a SES-DF tem estrutura, colaboradores e pontos de vacinação suficientes para uma imunização em massa.
“Nós faríamos isso com bastante tranquilidade. Infelizmente, o que nos falta é o insumo, que é a vacina. Por isso, acabamos fazendo essa dinâmica de priorização”, declara Christiane.
Apesar da capacidade citada pela subsecretária, o DF tem enfrentado um recebimento menor de doses do que o previsto. Em entrevista ao jornalista Alexandre de Paula, no CB.Poder desta terça-feira (22/6), Christiane afirmou que não há mais previsões de chegada de vacinas para esta semana, além das doses únicas da Janssen. O imunizante, inclusive, chegou ao Brasil, nesta manhã (22/6), com 2,5 milhões de doses a menos do que o previsto pelo Ministério da Saúde.
Para ela, esta redução impactará na imunização de um dos grupos prioritários que esperam há semanas para o andamento da vacinação: professores e professoras do DF. “A previsão era de 37 mil doses para o DF, mas como recebemos um quantitativo menor do que o esperado pelo Ministério da Saúde, é provável que receberemos bem menos”, declara.
Apesar das baixas nos recebimentos, Christiane afirma que a vacinação está sob controle e que não faltará vacinas, sobretudo para quem já se vacinou com a primeira dose. Para julho, a Secretaria de Saúde do DF espera vacinar 190 mil pessoas com a segunda dose da vacina da Astrazeneca. Na segunda-feira (21/6), o DF recebeu 96 mil doses do imunizante.
“Essas doses são para completar a imunização dos vacinados. Nós não abrimos mão da reserva da segunda dose para aumentar o ritmo de vacinação porque não temos garantia cronológica de recebimento de novas vacinas”, pontua. Ela afirma que o uso de segundas doses por alguns estados fez com que as unidades federativas perdessem o controle da vacinação.
“Mas o DF decidiu seguir o processo de manutenção da segunda dose, porque se o efeito de imunização for interrompido, perdemos todas as doses aplicadas anteriormente. Isso não é bom para a população, muito menos para a saúde do DF”, declara.
Apesar da ampliação de faixa etária e da previsão de imunização de pessoas com a segunda dose, a subsecretária afirma que os protocolos de segurança devem ser mantidos.
“A vacina nos permite reduzir o agravamento da doença, não ter uma onda nos permite um pouco mais de conforto mas a transmissibilidade tem que ser observada. Nada de aglomerações, o uso de máscara é obrigatório e o respeito à vida do próximo é preciso”, alerta.
A ampliação de faixa etária foi acompanhada pela obrigatoriedade do agendamento. Esse modelo é o melhor? Não pode ser prejudicial para quem não tem acesso às tecnologias?
O agendamento é a melhor forma porque nós controlamos a distribuição das doses, assim, a pessoa chegará ao local de vacinação e encontrará a vacina, sem risco de não tê-la, como vemos em outros estados. Outra vantagem é podermos distribuir as doses em vários pontos do DF. Em alguns, estados percebemos a concentração de pontos de vacinação, o que gera uma fila imensa e não há garantia de recebimento de doses. Em resumo, se houvesse uma quantidade considerável de vacinas, não precisaríamos do agendamento. Mas como é uma quantidade restrita e são muitos grupos prioritários, precisamos fazer esse direcionamento.
Mas há grupos vulneráveis que têm dificuldade no acesso às tecnologias. O que tem sido feito para auxiliar estas pessoas?
O agendamento começou apenas eletrônico. Mas logo abrimos para as Unidades Básicas de Saúde (UBS) agendarem as pessoas que vão até elas presencialmente. Agora, trabalhamos em uma terceira opção, que é direcionada a grupos com dificuldades de acesso ao celular e até mesmo meios de comunicação, geralmente em assentamentos e zonas rurais. Definimos oito pontos de vulnerabilidade extrema e vamos iniciar um plano de comunicação que é feito em um carro de som que passa pela comunidade para falar sobre a vacinação e os locais de vacinação. Acho que este é o caminho.
Como funciona a divisão das doses e como é decidido como elas serão usadas?
Quando o Ministério da Saúde envia as doses para nós, envia também um briefing do que podemos usar. Por exemplo, mandam um lote e definem: “São todas de 1ª dose para comorbidades”. Então, temos que aplicar esse quantitativo para este grupo, mas quando alcançamos um volume satisfatório de vacinação desse grupo, temos autonomia para repassar as doses para outro grupo prioritário. Esse repasse é feito por um estudo de um grupo interno da secretaria e que permite que abastecemos a vacinação de todos os grupos -- que hoje são comorbidades, grávidas e puérperas, bancários, garis, entre outros -- de forma contínua.
Alguns estados começaram o cadastro na 'xepa'. Esse modelo de vacinação ocorre no DF?
A xepa ocorre com o uso da Coronavac. Esse imunizante nos obriga a usarmos todo o frasco, que tem dez doses, em até 48 horas. No começo, não precisávamos nos preocupar, porque poderíamos aplicar as doses restantes no outro dia. Mas há uma situação específica que nos obrigava a lidar com a xepa: as doses que ficavam nas UBS, que fecham no fim de semana. Isso gerou um transtorno gigantesco, porque dava o horário de fechamento do posto e as pessoas faziam filas enormes para pegar nove doses que sobraram e ficavam revoltadas quando não conseguiam. Foi um momento de pânico para nós gestores. Então, definimos que quem teria direito à xepa seria quem trabalhava no ponto de vacinação, como as forças de segurança que acompanham as doses. Mas com os outros fabricantes não temos essa condição de uso em 48 horas e por isso não há xepa no DF que demande distribuição. A xepa da Coronavac hoje é destinada aos trabalhadores do local ou é redirecionada para drive-thru, que funcionam nos fins de semana. Então, não adianta ir aos postos atrás de vacina porque não existe essa possibilidade.
Confira a entrevista completa: