Intolerância

Líderes de matrizes africanas debatem intolerância na CLDF

Na sexta-feira (25/6), o grupo pretende realizar um protesto na Praça Marielle. Além disso, vão protocolar uma queixa crime contra os policiais devido ao racismo religioso

Diversos líderes de religiões de matriz africana se reuniram, na tarde desta segunda-feira (21/6), na Câmara Legislativa do DF (CLDF) para discutir a ação de policiais nas buscas por Lázaro Barbosa. A ação acontece depois que a polícia invadiu terreiros de Águas Lindas e Girassol em buscas pelo foragido.

Segundo o relato dos líderes das casas de Candomblé, a força-tarefa agiu com truculência. Um dos caseiros de um centro religioso em Águas Lindas apanhou da polícia e ficou com hematomas na perna e nas nádegas. Além disso, as portas do local foram amassadas durante a invasão. O pai de Santo, responsável pelo terreiro, registrou boletim de ocorrência após a ação da força-tarefa.

Outra religiosa, desta vez de Girassol, relatou que agentes pediram para ela calar a boca e quebraram parte da cerca ao invadir a casa por volta das 23h. Para o deputado Fábio Félix (PSol), que participou do debate, a ação da polícia foi motivada por intolerância religiosa. “Todo mundo quer que o Lázaro seja encontrado, mas a gente não autoriza racismo religioso contra os povos. Estão acontecendo muitas associações inverídicas desse caso com as tradições africanas”, destaca.

Como medida, os líderes vão protocolar uma queixa-crime contra os policiais por racismo religioso e na sexta-feira (25/6) farão uma roda de candomblé na Praça Marielle, como protesto.

Relatos

Patric Moreira de Abreu, 32 anos, pai de santo de um terreiro em Girassol, destaca que o Candomblé não prega violência, morte ou terror nas pessoas. “Parece que estão querendo colocar na conta da minha religiosidade os crimes do Lázaro, e aí fazem essas batidas de maneira intensa e violenta, com a desculpa de que o criminoso está escondido dentro do terreiro. Mas a minha religiosidade não prega violência nem morte a ninguém”, frisa.

O pai de santo ressalta que os moradores compartilham do mesmo desejo de que Lázaro seja detido. “Também queremos que ele seja achado, mas a polícia deve tratar quem for culpado com truculência, não a gente que não tem nada a ver. Inclusive damos acesso à visita do nosso terreiro, desde que eles não quebrem nada nem nos tratem como bandido. Eles acabaram quebrando a cerca daqui de casa e a gente não será ressarcido sobre esse dano”, pontua.

De acordo com Tata Ngunzetala, líder afro tradicional do candomblé de Angola, existe uma tentativa de por parte das forças policiais de associar a religião ao crime e algo “satânico”. O líder religioso destaca que essa é uma associação histórica. De acordo com ele, as fotos, divulgadas para a imprensa são de uma casa de Candomblé e não da casa de Lázaro, como foi divulgado pela polícia. “Querem provar que nossas casas são coniventes com crimes e que nossos sagrados são o "mal" da nossa sociedade. Além de alimentar o marketing de que o Satanás existe, está atuando e que as igrejas cristãs dominantes são a salvação e que o mal está em nossas casas. É uma construção histórica desde o tráfico de humanos da África escravizados pelos europeus cristãos”, afirma. “As fotos foram retiradas no segundo dia da fuga por Lázaro. Tiraram as fotos e publicaram como sendo da família do Lázaro, ligando, quando na verdade é um assentamento, símbolos ligados da nossa religião que nada tem a ver com satanismo nem com Lázaro”, acrescenta.

De acordo com ele, as fotos divulgadas pela polícia são de uma casa de Candomblé que nada tem a ver com o caso Lázaro. “Isso é alimentado e sustentado a todo momento pela imprensa, que, por exemplo, não apurou a origem das imagens, que são resultados da invasão da polícia em uma casa de Candomblé que não tem nenhuma ligação, nem conhece quem eles estão procurando”, crítica.

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