OS CRIMES DE LÁZARO

Divulgação de informações falsas compromete trabalho de busca a Lázaro Barbosa

Disque-denúncia da polícia recebe ligações sem relevância para as investigações diariamente. Pistas incorretas se somam a obstáculos geográficos da região

A força-tarefa que atua nas buscas por Lázaro Barbosa de Sousa — acusado de cometer diversos crimes como homicídio, estupro e roubo — enfrenta obstáculos devido às características da região, às habilidades do suspeito de sobreviver na mata e, também, à circulação de informações falsas. O disque-denúncia da Polícia Civil de Goiás recebeu mais de 1 mil ligações em 24 horas, nessa segunda-feira (21/6). No entanto, a maioria era trote ou tinha declarações sem relevância para a investigação. O vestígio mais recente associado ao fugitivo apareceu há quatro dias, quando as equipes o viram, segundo o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda.

Apesar dos desafios, o secretário acredita que o cerco em volta de Lázaro se torna mais estreito a cada dia. Na segunda-feira (21/6), o Exército Brasileiro enviou à megaoperação 40 rádios-comunicadores, para ajudar nas buscas. “A força-tarefa tem recebido doações, apoio material e moral de vários setores da sociedade. Os policiais nunca estiveram desamparados”, informou a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), em nota. Nesta terça-feira (22/6), completam-se duas semanas desde que o suspeito desapareceu, após matar uma família em Ceilândia Norte.

Com medo do criminoso, os habitantes de Cocalzinho (GO), onde se concentram as buscas, tentam se proteger como podem. Bombeiro militar da reserva, Edmar de Siqueira, 52 anos, conta que anda com um facão na cintura quando está na chácara da qual é dono, em Girassol — distrito do município goiano.

Morador de Taguatinga, ele comprou o terreno há cerca de um ano, mas, recentemente, vizinhos disseram ao chacareiro que a casa foi um dos esconderijos usados por Lázaro em 2019, quando tentava escapar da polícia. “Aqui é muito fácil de ele (Lázaro) se esconder. É um homem inteligente, astuto, que sabe se virar. Coloquei dois cachorros aqui (na chácara) e ando com um facão. Mas isso não é sinônimo de segurança, porque sabemos que, se ele chegar, não vai ser na nossa frente. Será de surpresa”, disse Edmar.

Águas Lindas (GO) continua sob monitoramento. Ao Correio, o prefeito do município, Lucas Antonietti (Podemos), afirmou que não existem evidências de que Lázaro esteja na área, por enquanto. Mesmo assim, a região continua em alerta. “Até onde se sabe, é boato (que Lázaro esteja na cidade). Mas temos apoiado as duas forças de segurança, tanto de Brasília quanto de Goiás. É uma obrigação do estado. Torcemos para que seja capturado logo”, completou.

Na sexta-feira (18/6), a Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF) enviou à Vara de Execuções Penais (VEP) um pedido de garantia da integridade de Lázaro. A instituição requer a preservação do fugitivo, “em face de ataques midiáticos (...) ou outro tipo de promoção que o exponha ainda mais”. A defensora que acompanha o caso afirmou que, para “salvaguardar a vida e a saúde do assistido, a defesa técnica requer, desde logo, (...) que seja garantida a proteção da integridade física e psíquica do assistido”. Além disso, o documento pleiteia que Lázaro não divida a cela com outros internos.

Truculência

Líderes de associações vinculadas a religiões de matriz africana se reuniram ontem, na Câmara Legislativa (CLDF), para debater a ação policial nas buscas por Lázaro Barbosa. Nos 14 dias de operação, a força-tarefa visitou diversas vezes terreiros em Águas Lindas (GO), além de Girassol e Edilândia — em Cocalzinho (GO). Em um dos centros, agentes agrediram um dos caseiros que trabalhava no local. O funcionário registrou boletim de ocorrência. Em outros endereços, segundo relato de moradores, as equipes das forças de segurança ordenaram que uma mãe de santo calasse a boca, amassaram portas e agiram com truculência, segundo denúncias. Os líderes religiosos pretendem protocolar uma queixa-crime contra os policiais por racismo religioso e, no fim da semana, farão uma roda de candomblé na Praça Marielle como protesto.