Memória

Coletivo de bordadeiras prepara homenagem às vítimas da covid-19

Por meio de faixas itinerantes espalhadas pelo Brasil, projeto que conta com a participação de voluntárias do DF reúne bordados com os nomes de pessoas mortas em decorrência da covid-19

Tecido, linha e agulha. Esses são os itens que mulheres inconformadas precisam para transformar o luto em luta. O projeto Memória Não Morrerá é, hoje, um conjunto de quase 40 metros de painéis bordados com nomes, corações, retratos, frases e símbolos que expressam solidariedade às vítimas da covid-19 no Brasil. Ainda não é possível enxergar o ponto final do trabalho. Sentimentos como respeito, amor e indignação tomam forma em diversas faixas itinerantes estendidas pelo país.

Na próxima quarta-feira, haverá cerimônia em forma de réquiem na entrada do Congresso Nacional, às 9h. Será uma homenagem aos brasileiros que morreram em decorrência de complicações da covid-19. Nessa ocasião, os painéis que fazem parte do projeto serão expostos em símbolo de resistência popular. O Memória Não Morrerá foi concebido por inúmeras mãos e corações de bordadeiras.

Coletivos e indivíduos de várias localidades e do exterior atenderam à convocação do Linhas do Rio — projeto realizado especificamente na cidade do Rio de Janeiro — para reunir agulhas, linhas e pontos e bordar em memória das vítimas da pandemia. Participam da ação o Linhas do Rio, Linhas do Horizonte, Linhas de Sampa, Linhas do Mar, Linhas de Santos, Pontos de Luta, Bordaluta, mulheres da resistência no exterior, além de colaborações individuais de Olinda, Niterói, Curitiba e Rio de Janeiro.

A bordadeira do Linhas do Rio, Maria Eugênia Duque Estrada, 65 anos, comenta que a produção só terá fim quando a pandemia acabar. “É preciso que o Estado olhe para isso com a devida importância. As pessoas simplesmente somem, vão para o hospital e não voltam. Estamos vivendo um momento de guerra. Por isso, bordar traz um sentimento afetuoso e ancestral”, afirma. O objetivo é proporcionar uma passagem digna aos que foram acometidos pelo vírus. Por enquanto, o painel está com 36 metros e conta com 1,8 mil nomes bordados.

Brasília representada

O Bordaluta, que faz parte da iniciativa, é um grupo independente de Brasília, composto por 24 mulheres e organizado a partir das manifestações públicas de resistência política. Os bordados representam lutas sociais e políticas, a favor da democracia, dos direitos humanos e das liberdades individuais e coletivas. O projeto conta, ainda, com a parceria do grupo Novelo de Linhas. Indivíduos dispostos a contribuir com sua arte podem entrar em contato pela página no Facebook (www. facebook.com/BordaLuta) e participar.

Professora de história aposentada, Zezé Rodrigues, 64 anos, dedica seu tempo ao coletivo. No ato de quarta-feira, ela estará presente. “O projeto Memória não Morrerá nasceu da angústia e da inquietude provocadas por tantas mortes e sofrimento a mais de 490 mil pessoas. Elas têm família, pais, mães, amigos, parentes, amigos e amores”, diz a artista.

» Programação

Quarta-feira, às 9h, em frente ao Congresso Nacional

» 1. Abertura, com fala de representante dos grupos de bordadeiras
» 2. Cortejo fúnebre: os painéis (14 ao todo) serão conduzidos em cortejo
» 3. Painéis serão colocados um a um no chão, e flores serão depositadas sobre eles
» 4. Início da cerimônia, com um minuto de silêncio
» 5. Hino Nacional, executado por um artista popular
» 6. Fala da Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid-19.
» 7. Fala da Campanha Órfãos da Covid-19
» 8. Fala das lideranças indígenas, movimento negro, ambientalistas, profissionais da saúde e das ciências, seguida da fala dos parlamentares presentes ao ato
» 9. Encerramento, com as bordadeiras, que recitam a oração de São Francisco e distribuem flores enquanto os painéis são dobrados