Violência

'Que seja condenado à altura dos atos praticados', diz promotor sobre Marinésio

Apontado como responsável pela morte de duas mulheres e pelo estupro de outras quatro, Marinésio vai a júri popular, no Tribunal de Planaltina, pelo assassinato de Letícia Curado, que tinha 26 anos, em agosto de 2019

O brutal assassinato da advogada Letícia Sousa Curado de Melo, em agosto de 2019, está próximo de ter um desfecho. Marinésio Olinto dos Santos, acusado confesso do feminicídio, vai a júri popular na próxima segunda-feira. O julgamento está marcado para começar às 9h, no Tribunal do Júri de Planaltina. Ele responde por homicídio quintuplamente qualificado por feminicídio, motivo torpe, meio cruel, dissimulação e crime praticado para assegurar a impunidade de outro crime. Há também denúncias contra ele por tentativa de estupro, furto e ocultação de cadáver. Caso seja condenado, a pena pode ultrapassar 40 anos de reclusão. Marinésio é apontado, também, como responsável pela morte de outra mulher e por estuprar, ao menos, mais quatro.

Promotor de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Nathan da Silva Neto acredita que o julgamento pela comunidade traz um recado contra a violência de gênero. “Nós estamos falando de um verdadeiro crime de ódio contra as mulheres, caracterizado pelo menosprezo e desprezo da figura feminina. Por isso, a condenação de Marinésio é tão importante, envia uma mensagem clara à sociedade de que não se tolera mais nenhuma forma de discriminação, de preconceito, de violência contra as mulheres de Planaltina e do Distrito Federal”, ressaltou. “Crimes dessa natureza são inaceitáveis e devem ser punidos com todo o rigor da lei. A nossa expectativa é de que Marinésio seja condenado à altura dos atos praticados”, afirmou o promotor.

Letícia Curado morreu em 23 de agosto de 2019, após entrar no carro que Marinésio dirigia — ele se apresentou como motorista de transporte pirata — para ir ao trabalho. Ela saiu de casa, onde morava com o marido e com o filho de três anos, na época, por volta das 7h30 e não voltou mais. De acordo com as investigações, a vítima estava esperando o transporte público em uma parada de ônibus entre o Vale do Amanhecer e a DF-230. Quando ela estava dentro do carro, ele tentou forçá-la a ter relações sexuais e, após Letícia reagir, a esganou. A advogada morreu asfixiada. Marinésio escondeu o corpo da vítima dentro de uma manilha à margem da rodovia e, antes de fugir, furtou os pertences dela. Os objetos furtados — um relógio, um pendrive, uma necessaire e um aparelho celular — foram apreendidos dentro do veículo do acusado quando ele foi preso em flagrante.

Imagens de seguranças mostraram o carro de Marinésio na parada de ônibus um pouco antes de abordar Letícia. Em depoimento à polícia, ele contou que conhecia a vítima, pois já tinha pegado o mesmo ônibus que ela em Arapoangas (Planaltina), sentido Plano Piloto. Ao ser preso, negou o crime no primeiro momento. No entanto, horas depois confessou e contou os detalhes da ação seguindo orientação dos advogados. Marinésio está preso preventivamente pelo assassinato de Letícia.

Outros crimes


Além do assassinato de Letícia Curado, Marinésio confessou ter matado a auxiliar de cozinha Genir Pereira de Sousa, 47, em junho de 2019. Genir foi vista pela última vez em uma parada de ônibus de Planaltina, e o corpo dela foi encontrado em uma área de matagal na região. O cozinheiro ainda foi acusado pelo crime de tentativa de estupro em Sobradinho — do qual foi absolvido em julgamento ocorrido em dezembro de 2020.

Em maio do ano passado, Marinésio foi condenado a 10 anos de prisão pelo estupro de uma jovem em abril de 2019. Na época do crime, a vítima tinha 17 anos. Ela denunciou a agressão depois de reconhecer Marinésio durante a repercussão da morte de Letícia Curado. Em depoimento à polícia e à Justiça, ela relatou que o acusado ofereceu carona em uma parada de ônibus no Paranoá e, após a negativa, ele a obrigou a entrar no carro sob ameaça de morte, estacionou na região de Pinheiral e a estuprou. Marinésio ainda a enforcou e a empurrou para fora do veículo, dizendo que ela era um lixo.

 

 

Três dias de buscas

Ao todo, as forças de segurança levaram três dias para encontrar Letícia Sousa Curado de Melo. Após o desaparecimento da advogada, os investigadores da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina) iniciaram as diligências para solucionar o caso, que teve grande repercussão na cidade. Análise das imagens das câmeras de segurança da região mostrou o momento em que a jovem entrou no carro do cozinheiro, em 23 de agosto de 2019. Na noite seguinte, os policiais encontraram o veículo de Marinésio onde os pertences da vítima estavam. Ele foi preso e confessou ter matado a funcionária terceirizada do Ministério da Educação que foi encontrada morta, em 26 de agosto. O enterro ocorreu sob forte comoção no dia seguinte. Durante a investigação, a polícia começou a perceber as marcas de Marinésio em outros crimes.