O brutal assassinato da advogada Letícia Sousa Curado de Melo, em agosto de 2019, está próximo de ter um desfecho. Marinésio Olinto dos Santos, acusado confesso do feminicídio, vai a júri popular na próxima segunda-feira. O julgamento está marcado para começar às 9h, no Tribunal do Júri de Planaltina. Ele responde por homicídio quintuplamente qualificado por feminicídio, motivo torpe, meio cruel, dissimulação e crime praticado para assegurar a impunidade de outro crime. Há também denúncias contra ele por tentativa de estupro, furto e ocultação de cadáver. Caso seja condenado, a pena pode ultrapassar 40 anos de reclusão. Marinésio é apontado, também, como responsável pela morte de outra mulher e por estuprar, ao menos, mais quatro.
Promotor de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Nathan da Silva Neto acredita que o julgamento pela comunidade traz um recado contra a violência de gênero. “Nós estamos falando de um verdadeiro crime de ódio contra as mulheres, caracterizado pelo menosprezo e desprezo da figura feminina. Por isso, a condenação de Marinésio é tão importante, envia uma mensagem clara à sociedade de que não se tolera mais nenhuma forma de discriminação, de preconceito, de violência contra as mulheres de Planaltina e do Distrito Federal”, ressaltou. “Crimes dessa natureza são inaceitáveis e devem ser punidos com todo o rigor da lei. A nossa expectativa é de que Marinésio seja condenado à altura dos atos praticados”, afirmou o promotor.
Letícia Curado morreu em 23 de agosto de 2019, após entrar no carro que Marinésio dirigia — ele se apresentou como motorista de transporte pirata — para ir ao trabalho. Ela saiu de casa, onde morava com o marido e com o filho de três anos, na época, por volta das 7h30 e não voltou mais. De acordo com as investigações, a vítima estava esperando o transporte público em uma parada de ônibus entre o Vale do Amanhecer e a DF-230. Quando ela estava dentro do carro, ele tentou forçá-la a ter relações sexuais e, após Letícia reagir, a esganou. A advogada morreu asfixiada. Marinésio escondeu o corpo da vítima dentro de uma manilha à margem da rodovia e, antes de fugir, furtou os pertences dela. Os objetos furtados — um relógio, um pendrive, uma necessaire e um aparelho celular — foram apreendidos dentro do veículo do acusado quando ele foi preso em flagrante.
Imagens de seguranças mostraram o carro de Marinésio na parada de ônibus um pouco antes de abordar Letícia. Em depoimento à polícia, ele contou que conhecia a vítima, pois já tinha pegado o mesmo ônibus que ela em Arapoangas (Planaltina), sentido Plano Piloto. Ao ser preso, negou o crime no primeiro momento. No entanto, horas depois confessou e contou os detalhes da ação seguindo orientação dos advogados. Marinésio está preso preventivamente pelo assassinato de Letícia.
Outros crimes
Além do assassinato de Letícia Curado, Marinésio confessou ter matado a auxiliar de cozinha Genir Pereira de Sousa, 47, em junho de 2019. Genir foi vista pela última vez em uma parada de ônibus de Planaltina, e o corpo dela foi encontrado em uma área de matagal na região. O cozinheiro ainda foi acusado pelo crime de tentativa de estupro em Sobradinho — do qual foi absolvido em julgamento ocorrido em dezembro de 2020.
Em maio do ano passado, Marinésio foi condenado a 10 anos de prisão pelo estupro de uma jovem em abril de 2019. Na época do crime, a vítima tinha 17 anos. Ela denunciou a agressão depois de reconhecer Marinésio durante a repercussão da morte de Letícia Curado. Em depoimento à polícia e à Justiça, ela relatou que o acusado ofereceu carona em uma parada de ônibus no Paranoá e, após a negativa, ele a obrigou a entrar no carro sob ameaça de morte, estacionou na região de Pinheiral e a estuprou. Marinésio ainda a enforcou e a empurrou para fora do veículo, dizendo que ela era um lixo.