As buscas por Lázaro Barbosa de Sousa, 32 anos, suspeito de assassinar os quatro integrantes da família Vidal Marques em 9 de junho, mobilizam mais de 200 integrantes das forças de segurança, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Goiás (SSP-GO). As equipes atuam com cercos em povoados do município de Cocalzinho (GO), mas, após nove dias de trabalho, ainda não conseguiram capturar o fugitivo.
Em entrevista ao Correio, o ex-secretário Nacional de Segurança Pública, coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo (PMSP) e conselheiro do Instituto Brasileiro de Segurança Pública (IBSP) José Vicente da Silva Filho alerta que a espetacularização do caso é um risco. Para ele, falta coordenação entre policiais, principalmente para que a concentração de efetivo não prejudique as investigações de outros suspeitos.
O senhor tem acompanhado a procura por Lázaro? Qual é a sua opinião?
Sim, o caso tem repercutido muito. Em primeiro lugar, esse é um trabalho básico de investigação da Polícia Civil. Não exclusivamente, mas sobretudo dela. Por isso, não vejo razão para uma caçada nas dimensões que têm sido feitas na busca de um único criminoso, por mais cruel que ele seja. Um único bandido não pode paralisar ou desviar recursos de prevenção da polícia, que tem muitas prioridades para cuidar. O papel dos agentes é muito maior no sentido de proteger a população do que em promover caçadas. Neste momento, ele (Lázaro) não é uma ameaça tão grave à população.
O que deveria ser feito, então?
É necessário apenas entender que não existe justificativa para uma caçada com esse número de efetivo. Primeiro, é preciso deixar a Polícia Civil fazer o esforço dela de investigação, que é competência dela. O resto do efetivo deve fazer o patrulhamento e a prevenção.
Quais os equívocos na abordagem desse caso?
Principalmente a espetacularização da caçada. Inclusive, vi a foto de um policial no helicóptero com um fuzil pendurado, só que os agentes não usam a aeronave para dar tiros, porque existe a imprecisão pelo movimento contínuo do helicóptero. Sem falar que existem dezenas de criminosos procurados na periferia do Distrito Federal e de Goiás. Por que essa atenção ao caso do Lázaro?
Os moradores vivem um medo constante na cidade. Isso pode ser causado pela espetacularização de que o senhor fala?
Existem pesquisas que apontam que a sensação de medo é formada em 20% pela experiência pessoal. O restante (80%) é impactado por algumas ações da polícia na mídia. E, quanto mais os agentes se movimentam e recebem cobertura, mais medo isso provoca. De novo, está cheio de bandido morando ao lado que não recebe esse tratamento. Vejo nisso falta de profissionalismo. É uma ação, em parte, para capturar a atenção da mídia. Não era para ter mais de 20 policiais nessa procura. O papel da Polícia Militar não é caçar, é proteger e prevenir. Se, nas primeiras horas, não deu para capturá-lo, deixam-se as equipes de investigação cuidarem do caso. O que percebemos é uma falta de coordenação entre os policiais, não apenas nesse caso. Falta um protocolo de cooperação para ações efetivas dos agentes, de forma que estados vizinhos possam se ajudar.
O que é mais danoso no deslocamento desse efetivo?
É uma caçada custosa, que requer gastos em excesso. A ideia de alcançar o sujeito a qualquer custo é um erro. A mobilização policial não é tão necessária. Claro que o caso deve ser prioridade, mas o suspeito não tem esse grau de periculosidade para demandar tantos agentes. E, de novo, existem outros que não têm sido investigados. A polícia certamente tem de considerar que a captura dele pode demorar meses e, em algum momento, ela pode ter de desmobilizar esse efetivo. Existem procurados que passam anos escondidos. Nessas situações, é necessário paciência. Concentrar tanto recurso por causa de um indivíduo é insensatez.