A pouco mais de um ano para as eleições do ano que vem, o governador Ibaneis Rocha (MDB) assume que pretende se candidatar à reeleição. Ele afirma — em entrevista concedida ao Correio no gabinete dele no Palácio do Buriti — que a pandemia interrompeu muitos dos planos que tinha feito para o Distrito Federal e que precisará de mais tempo para executá-los.
Na visão do emedebista, a pandemia não dominará a pauta do próximo pleito, mas diz que está seguro para mostrar o que fez nesse período. Ele reafirmou que o GDF não divulgará um calendário para a vacinação e considerou que a iniciativa de outros governadores de anunciar datas foi marketing. Adiantou que o DF deve receber, em agosto, 1,2 milhão de doses. Defendeu, ainda, a realização da Copa América no DF mesmo após a confirmação de dezenas de casos nas delegações.
Apesar de criticar a convocação de governadores para a CPI da Covid, assegurou que está tranquilo porque não tem o que temer, avaliação que estendeu para as tentativas de aberturas de comissões parlamentares de inquérito na Câmara Legislativa.
Ao falar sobre o caso Lázaro, tentou explicar-se sobre a declaração de que o criminoso estava fazendo as polícias de Goiás e do DF “quase que de bobas”. “Minha fala foi no sentido de que é muito difícil você conseguir tratar dessa questão de um psicopata sumido dentro de uma mata. Ele não tem simplesmente qualquer tipo de limite”, emendou. Ele acrescentou que acredita que Lázaro será capturado em breve.
A rixa com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (MDB), continua em pauta. O emedebista estuda processar o político do estado vizinho. “Ele não gosta do Entorno. Isso é claro. Ele acha que se elege para lá, e o povo do Entorno sofre com ele.”
Confira os principais trechos da entrevista
Estamos a mais de um ano das eleições, e parece que a campanha já começou. O movimento político está muito forte. Sente isso nos seus compromissos?
Não consigo diferenciar das eleições anteriores. Esse movimento sempre existiu. E aqui é ainda mais natural porque nós não temos eleições municipais. Então, as pessoas vão se lançando e não há espaço para todos. É natural que as pessoas busquem o seu grupo político. Mas tudo vai depender muito das definições que serão feitas até o início do ano que vem: quais alianças serão feitas, quem vão ser os candidatos à Presidência da República, quais partidos vão caminhar juntos. Por exemplo, se o PT sair com o PSB no âmbito nacional, a aliança aqui no DF será uma. Se eles saírem separados, a aliança talvez seja outra. Essa conversa tem que existir. É natural da política e eu fico observando para tirar minhas conclusões mais adiante.
Já definiu seu caminho?
Eu quero ir à reeleição. Estou fazendo um trabalho reconhecido por grande parte da população. As pesquisas que nós temos nos apontam na faixa de 50% de aprovação do meu mandato. No que diz respeito ao meu trabalho na cidade, é bem maior.
Existe uma disputa entre seus aliados para integrar sua chapa como vice?
Sempre tem. Tenho um relacionamento muito bom com meu vice-governador, além de ter se transformado num amigo pessoal. Mas nós sabemos que há forças políticas se movimentando. É diferente da eleição passada quando foi difícil montar uma chapa, tanto que não conseguimos nem candidato ao Senado. Agora nós temos oito partidos trabalhando de forma conjunta nesse projeto de reeleição, e deve haver uma acomodação interna para vice, Senado e suplentes.
A pandemia vai ser a pauta das eleições. Como está se preparando para tratar desse assunto?
Não acredito que será pauta. A população vai passar da pandemia. Se for pauta, eu estou muito tranquilo porque fiz tudo o que podia para que as coisas dessem certo. Conseguimos a ampliação de leitos, atendimento de pessoal, contratação de profissionais da saúde. São mais de 6,5 mil, quase 7 mil profissionais. Essa pauta até me favorece.
Ainda acredita que terá toda a população vacinada em outubro?
Todo mundo, não. Mas entre 70% e 80%, sim. Por que digo isso? Está havendo uma constância na entrega de doses, o que está fazendo a gente diminuir a idade das pessoas sem comorbidades. Estamos também estabelecendo alguns grupos prioritários com base em estudos da Secretaria de Saúde. Tive uma conversa com o representante do Ministério da Saúde que cuida da questão das vacinas e a previsão é de chegada em agosto de 60 milhões de doses, que daria, só para o DF, 1,2 milhão de doses. Calculando que já vacinamos cerca de 1 milhão de pessoas, teremos quase toda a população vacinável já vacinada até setembro, outubro.
Quais vacinas?
Não sei. Não estou escolhendo vacinas. Vacina boa é vacina no braço. Só escolhi a dos professores porque temos de analisar com outro viés, o do retorno às aulas, da saúde mental das crianças e do sofrimento dos pais. A ideia é vacinar com essas da Janssen (que é de dose única) todo o público das escolas. A gente vai começar pelas escolas públicas, depois UnB, Instituto Federal e Faculdade de Medicina aqui do DF, e depois quero continuar vacinando todas as escolas privadas. Queremos retornar à normalidade em agosto para todo esse público educacional.
Existe uma cobrança de divulgação de um calendário de vacinação. Aqui teremos?
Esse calendário é ilusório. Para formar um calendário, eu teria de ter um calendário da remessa das vacinas. Vou manter como está. Está dando certo. Esses calendários são marketing.
Quem vai se vacinar? Crianças também?
Estamos trabalhando com o público acima de 18 anos. Se diminuir as idades, diminuiremos também.
Vai manter o agendamento?
O agendamento tem nos dado condições de fazer um controle de distribuição de doses dentro dos postos.
Como avalia a velocidade da distribuição de doses pelo Ministério da Saúde?
A gente sempre quer que seja mais rápido porque a nossa capacidade de vacinação depende da quantidade de doses que chegam, mas tenho notado nos últimos meses que tem havido uma regularidade no número de doses. Não tem um dia que não tenhamos conseguido vacinar. Isso dá um ambiente muito bom para a cidade. As pessoas se sentem protegidas. Elas sabem que serão vacinadas.
Está preparado para ir à CPI da Covid?
Acho que essa CPI, ao convocar governadores, comete um erro muito grande no que diz respeito à separação de poderes. Também não sei como eu conseguiria colaborar com eles porque, se for para tratar da Operação Falso Negativo, conheço muito pouco. Sei que foi anulada pelo STJ e transferida para a Justiça Federal e tudo vai se reiniciar lá. Eu administro a saúde, mas ouvindo os técnicos para tomar as decisões. Mas acho um erro convocar governadores, porque, daqui a pouco, vão convocar o presidente da República. Existe uma inversão da ordem jurídica nessa convocação, e eu estou na expectativa de que o Supremo Tribunal Federal decida isso da forma mais rápida possível e coloque as coisas no seu determinado lugar. Agora, se tiver de ir, estou muito tranquilo. Não pratiquei nenhum ato indevido, ilegal.
O senhor tem sido um bom aliado do presidente Jair Bolsonaro. Vai se estender às eleições? Estará numa aliança com ele?
Eu sempre digo que hospedo o presidente da República e demais autoridades do país. Então, eu tenho por obrigação e formação ser um bom parceiro. Da outra ponta, o presidente Bolsonaro tem sido muito correto com o governo do Distrito Federal. A gente tem conseguido muitos recursos de coisas que estavam paradas havia muito tempo. São várias obras de grande vulto pela cidade. Na questão do Ministério da Saúde, nossos pleitos têm sido atendidos. Então, trato muito bem. Agora, a eleição do ano que vem é outro assunto. Primeiro defendo que meu partido tenha candidato. Um partido do tamanho do MDB não pode prescindir de ter um candidato. Segundo, temos de aguardar a posição dos partidos. Se o MDB não tiver candidato, eu espero que participe da eleição de forma majoritária, indicando alguém a vice. Se o MDB não participar da eleição de forma direta, corre o risco de acabar.
Quais nomes vê no MDB para disputar a presidência?
Estou defendendo a discussão. Mas nós temos nomes como a senadora Simone Tebet, o Paulo Skaf, que é presidente da Fiesp... Nós temos nomes que podemos discutir para uma candidatura ou aliança com outros partidos.
Pensa em ser vice?
Não. Estou caminhando firme no sentido de ir para a reeleição. Mas tenho convicção de que essa composição das chapas nacionais só vai se definir no mês de abril do próximo ano.
Acredita no surgimento de uma terceira via forte para se contrapor a Lula e Bolsonaro?
Nem é questão de acreditar. As pesquisas dizem isso. A última pesquisa que eu vi dava o Bolsonaro com 33% e o Lula com 31%. E dava uma rejeição para cada um de 48% a 50%. Quando você pega uma rejeição como essa aos candidatos, é a prova de que existe espaço para ser preenchido. Se vai ser preenchido ou não, eu não sei.
Mas, num acordo, o senhor toparia integrar uma chapa nacional?
Muito difícil eu mudar de ideia. Estou feliz com o trabalho que estou desenvolvendo, mesmo com a pandemia. Vejo que a cidade tomou um novo ar e as coisas estão acontecendo. Mas meu mandato foi interrompido por causa dessa pandemia. Não deu para fazer tudo o que eu tinha vontade de fazer no Distrito Federal. Nós tivemos que destinar uma quantidade muito grande de recursos para a saúde. Isso tudo atrapalhou o meu projeto. Nunca fui muito favorável à reeleição, mas eu tive um baque na pandemia e ficou muita coisa que não vai dar para concluir. Muitas obras que quero entregar para a cidade.
A sua atitude de trazer para cá a Copa América foi uma solidariedade ao presidente Bolsonaro?
Eu acho que transformaram a discussão da Copa América numa discussão política. Eu acho que o erro foi aí. No momento em que o presidente chamou a deliberação da Copa América para dentro do Palácio do Planalto, ele politizou um evento esportivo. Eu, em torno de 60 dias antes, tinha publicado um decreto permitindo a realização de jogos esportivos sem público. Para mim, não tinha nada de diferente da Copa América com os demais eventos esportivos. Recebemos até a final da Sul-Americana. Agora, a gente sabe que o vírus vai acontecer, como está havendo com a equipe da Venezuela. Ele acontece. Independentemente de todo o controle que você faça, tem um risco realmente.
Com esses números, mais de 50 casos, o senhor não mudou de ideia?
De maneira nenhuma. Eu acho que está dentro do razoável.
Chama a atenção, também, o STF ter que se reunir para decidir sobre a realização de um campeonato de futebol.
Isso tudo é resquício de uma eleição que não pacificou o Brasil. Nós estamos vivendo uma polarização muito grande. Os políticos que estão no comando vivem dessa polarização. Eles fazem isso no ambiente político e depois levam para o STF. O que o Supremo tem que decidir sobre jogos? É uma coisa que perdeu o tom. Reforça a minha tese de que haja uma discussão dentro dos partidos para termos uma terceira via. Nós temos que ter uma pacificação deste país ou vamos chegar ao ponto de ter guerra civil. Teria que ter na cabeça dos dois que estão na frente das pesquisas que é hora de pacificar o país e deixar para discutir a eleição na época dela. Eu aqui não ando brigando com ninguém. Tenho meus adversários, eles falam mal de mim, mas nem por isso saio dando porrada para todo lado. Você tem que tentar cuidar das suas funções. Quando chegar a hora da política, vamos para o debate.
Ter colocado que quer disputar a reeleição movimenta seus adversários, como Izalci?
Izalci saiu candidato no dia seguinte à eleição. Aí, é diferente. Eu acho até que ele está correto e tem que ser candidato.
Quem está se movimentando?
Existem grupos. O Partido dos Trabalhadores certamente vai ter candidato, já me disseram que é o Magela. Uma senadora como a Leila talvez seja candidata. Reguffe pode muito bem articular uma chapa de centro-esquerda. Partido Novo deve ter candidato. Houve movimentação do ex-deputado Joe Valle.
Em relação a Flávia Arruda, o senhor disse que ela daria uma bela senadora. Acredita que ela pode ser a candidata ao Senado na sua chapa?
Acho que para ela é o caminho natural. Ela teve uma excelente votação para deputada. Tem um nome consolidado no Distrito Federal. Faz um belíssimo trabalho. Se for o caso, se for a vontade dela e houver discussão travada entre os partidos da base, ela tem todas as condições de ser nossa candidata ao Senado.
E a Celina Leão de vice?
Nunca tratei desse assunto com a Celina. Ela tem um problema partidário que precisa ser resolvido. Um partido forte, como é o caso do PP, precisa eleger deputado federal. Eu tenho certeza de que a cobrança do (senador e presidente da sigla) Ciro Nogueira é no sentido de que façam, pelo menos, um deputado federal aqui na cidade. Então, ela tem essa discussão interna. Agora, ela é uma excelente parceira, é uma pessoa que está comigo desde o início. Ela visita as obras todas, está nas inaugurações. Eu gosto muito dela.
A oposição tentou emplacar duas CPIs na Câmara Legislativa para investigar questões ligadas à pandemia. Acha que isso foi uma tentativa de construir uma narrativa para as eleições do ano que vem?
A oposição tem de ser oposição. Não fizeram nada mais do que o natural, mas a compreensão da maioria da Câmara Legislativa foi no sentido de não abrir. Eles têm todo direito de buscar os palanques deles. Eu respeito muito a Câmara Legislativa. Eu tenho ali meus líderes, o apoio de uma boa maioria ali dentro, mas procuro respeitar o máximo possível a divisão dos poderes.
Se fosse aberta uma dessas CPI, o senhor estaria tranquilo? Teria alguma preocupação?
Do mesmo jeito da CPI que está em âmbito nacional, a daqui, para mim, seria muito tranquila, porque não devo nada.
Outra eleição que está pegando fogo é a da OAB-DF e a nacional também. Aqui, o senhor já foi presidente. Do seu grupo, ao menos, cinco pessoas querem se candidatar.
Já diminuiu. Só tem dois agora.
Quem são os dois?
Thaís Riedel e o Everardo Gueiros. Pelo menos nesse início, eles vão seguir como candidatos. Lá na frente, não sei. Cleber, Evandro, essa turma toda, até onde tenho conhecimento, já se acertaram.
Ou seja, o senhor está nos bastidores.
Não, eu só ouvi. Eu não estou participando da eleição da Ordem. Eu vivi um momento em que perdi uma eleição por interferência de um governador, e o resultado posterior para a Ordem foi um desastre. A interferência do governo numa instituição como a OAB nunca pode ser benéfica. Eu tenho essa consciência de que não devo interferir e não vou. Eu quero que o vencedor faça um trabalho pela cidade. Eu tenho muito respeito pela instituição que presidi.
Que avaliação o senhor faz do mandato do atual presidente (Délio Lins e Silva Jr.)?
O mandato do Délio, assim como o meu, sofreu muito com a questão da pandemia. A OAB vive de um contato, de uma comunicação. Quando era presidente, eu fazia quatro, cinco entregas de carteiras por mês, tinha todos os cursos da OAB funcionando, advogados frequentando o prédio, os tribunais todos abertos, as pessoas se encontrando. Nada disso aconteceu neste um ano e tanto que estamos vivendo. Então, ele sofreu muito e vai ter um desgaste muito grade. De outra ponta, e falo porque converso com os advogados do meu escritório, houve um empobrecimento muito grande da advocacia por estar parado. Ficaram funcionando só sistemas eletrônicos. Isso vai ter que ser enfrentado na campanha. Como a advocacia vai renascer depois da pandemia será o grande debate.
Que perfil deveria ser escolhido para a vaga do ministro Marco Aurélio de Mello no STF?
Eu acho que tem uma pessoa experimentada. Não dá para ser um novato. Tem que ser alguém que tenha alguma experiência no Judiciário. Até porque o Supremo, de uns tempos para cá, tem sido consultado em quase todos os assuntos. Não pode ser alguém que chegue lá para aprender. Tem que chegar pronto. Eu acho que a vaga deveria ser dirigida — na minha visão, não estou aqui querendo ensinar o presidente, a vaga é dele e ele coloca quem quiser — a alguém já do Poder Judiciário. Alguém que tivesse pelo menos 10 anos de magistratura para chegar lá dentro e a cadeira ficar no tamanho dele, não sentar e ser uma pessoa que vai ter que se acomodar.
Alguém do STJ?
Veja que a escolha do ministro Kássio foi de um desembargador do Tribunal Regional Federal, que já tinha larga experiência na advocacia. Hoje, você o vê discutindo assuntos sem se diminuir em momento nenhum. Seria de alguém do TRF ou do STJ.
Fala-se do presidente do STJ, o ministro Humberto Martins.
É um excelente magistrado, falo porque conheço. É extremamente talhado, gosta do diálogo, vem da advocacia, foi presidente da OAB de Alagoas, foi do Tribunal de Justiça de Alagoas, chegou ao STJ, já está lá há um bom tempo. Tem perfil para ser. Vários outros ministros do STJ também tem perfil. Ministro Noronha, por exemplo. Acho que deveria ficar nesse campo para o presidente não ter risco de errar. Errar no Supremo não tem volta.
O presidente Bolsonaro, em uma declaração recente, falou sobre desobrigar o uso de máscara para pessoas vacinadas e que tiveram covid-19. Depois, voltou atrás e disse que ficaria nas mãos de governadores e prefeitos. O que o senhor acha? Vai manter a obrigação aqui?
O que temos que ter é segurança. Se houver avaliação de que a pessoa pode tomar a segunda dose e, depois daquele período, está imunizada, não vejo problema de não usar a máscara. O que importa é a imunização e evitar que transmita para outras pessoas. Quem tem que dizer isso para mim são os técnicos. Eu não posso fazer essa avaliação neste momento. Principalmente, porque temos novas cepas e ainda há estudo se as vacinas atingem essas variantes. Do meu ponto de vista, vou manter a utilização de máscara pelo menos até que se tenha segurança, como ocorreu nos Estados Unidos, que atingiu um nível de vacinação que permitiu a retirada. Eu vou aguardar um pouco mais.
A Saúde tem acompanhado com atenção essa questão das variantes?
Sim, todas as vezes que uma pessoa, principalmente de outro estado, tem algum risco, a Saúde faz a segmentação do DNA para poder descobrir.
Se houver aumento no número de casos, considerando até o risco de novas cepas chegarem, seria viável ter medidas mais restritivas, como foi no começo?
Eu tenho muita desconfiança se essas medidas restritivas hoje teriam efeito. As pessoas cansaram de viver isoladas. As pessoas já não aguentam mais essa situação. Temos que acreditar que a vacinação vai se dar da forma mais rápida possível para que a gente consiga atender. Eu tenho para mim, hoje, que minha caneta, por mais que eu goste de usar, não conseguiria fazer com que ninguém ficasse dentro de casa. Nós já sofremos muito com esse fechamento.
Qual foi o impacto da pandemia na economia do DF?
Para nós, não foi nada muito grave, porque, no Distrito Federal, conseguimos manter os níveis econômicos em várias áreas, principalmente os grandes arrecadadores, como setor de veículos, imóveis, atacadista. Esses continuaram funcionando muito fortes. Tivemos queda significativa em bares, restaurantes, eventos, mas isso, do ponto de vista de arrecadação, não é tão alto. Tanto que postergamos todos os pagamentos de impostos (para esses setores). Mantivemos o nível de arrecadação. Tivemos que fazer alguns gastos a mais na Saúde. Então, isso talvez gere um pouco de desequilíbrio orçamentário, mas nada que nos preocupe. Vamos fechar o ano bem.
Uma das críticas que o senhor recebeu foi pela sugestão de enviar recursos para cidades do Piauí, que é o estado onde o senhor viveu. Por que resolveu sugerir que esses recursos fossem para lá?
Eu fui procurado por um senador da República dizendo que tinha recursos para investir aqui no DF, na Codevasf. Eu tinha que apresentar projetos. Pegamos todos os que estavam prontos e apresentamos. Ele virou para mim e disse: “Você não quer indicar mais recursos para outras áreas?”. Eu disse que sim e que ia chamar os prefeitos para apresentarem os projetos na Codevasf. Foi isso que aconteceu, da forma mais natural possível. Não houve crime nenhum. O dinheiro não entrou no DF para ser redistribuído. A única coisa que fiz foi intermediar.
Nesse caso, a prioridade foi o DF?
O DF recebeu quase R$ 50 milhões. Semana que vem, vamos entregar máquinas. Caminho das Escolas, que é um projeto que criei para poder asfaltar todas as áreas com escolas. O valor que recebemos aqui não tem nem na história do DF, por meio de um senador que não é do DF, mais recursos do que os senadores do DF destinaram.
A gente está vivendo um momento na questão da segurança pública inusitado. No caso do Lázaro, que está fugindo das polícias de Goiás e do DF e ninguém consegue capturar, o senhor chegou a dizer que ele estava aparentemente fazendo as polícias de boba. Acha que ele está driblando as autoridades?
O que a gente nota é o seguinte: a nossa polícia é uma das polícias mais preparadas do Brasil, tanto a Polícia Militar, e em especial a Polícia Civil como um todo. Nós temos um trabalho de inteligência muito forte aqui dentro das nossas polícias, são extremamente preparados do ponto de vista de armamentos, de equipamentos, tudo o que você imaginar, e eu talvez tenha sido o governador que mais contratou policiais, que colocou dentro das academias e que apoia as polícias do Distrito Federal. O que a gente nota ali é que tem um psicopata que passou a vida fugindo desde os homicídios que cometeu na Bahia, que conhece muito bem a região pela qual ele está fugindo e que tem gerado esse tipo de dificuldade. Então, a minha fala foi no sentido de que é muito difícil você conseguir tratar dessa questão de um psicopata sumido dentro de uma mata. Ele não tem simplesmente qualquer tipo de limite, mas eu tenho convicção que tanto a polícia do Distrito Federal quanto a de Goiás vão passar a mão nesse cidadão o mais rápido possível para que ele venha cumprir a pena dele aqui e acabar com esse sofrimento.
Está acompanhando, recebendo informações?
Eu tenho conversado sempre com o meu secretário de Segurança, que me passa as informações. Mas, como é uma operação que acontece no estado de Goiás, a responsabilidade tem sido — e ele está cumprindo seu papel — do secretário de Segurança de Goiás. Então, ele está lá junto com todo o pessoal, nós estamos auxiliando e eles vão conseguir pegar.
Tem conversado com o governador Caiado?
Não. Relacionamento meu com o Caiado não existe.
Aliás, toda vez que há alguma coisa ali que interessa às duas unidades da Federação dá faísca, né?
Ele tem a postura dele, eu tenho a minha também. Não sou de levar desaforo para casa, e nosso relacionamento não é bom de maneira nenhuma. Eu estou analisando seriamente em processá-lo por conta de algumas declarações que ele andou fazendo, mas eu vou continuar cuidando do meu povo do Distrito Federal e do dele do Entorno, que ele não cuida.
Esse relacionamento atrapalha na gestão do Entorno?
Não, não vejo nada que poderia ter sido feito que não esteja acontecendo.
Mas ele poderia ajudar mais?
Ele não gosta do Entorno. Isso é claro. Ele acha que se elege para lá, e o povo do Entorno sofre com ele.
Pode apoiar alguém em 2022 em Goiás para, talvez, ter alguém mais alinhado com o senhor aqui?
Não, eu não quero interferir. Eu quero cuidar da minha política. O lado dele, ele que se vire.
Está bem no MDB? Vai ficar no partido?
Estou bem, o partido me respeita muito. Tenho um bom contato com as grandes lideranças, o presidente do partido me ouve sempre nas decisões. Aqui no Distrito Federal, as coisas estão bem, o Filippelli continua sendo um parceiro, o Rafael (Prudente, presidente da Câmara Legislativa) e a Ericka (Filippelli, secretária da Mulher) a frente do partido, estão fazendo um belo trabalho na montagem de chapa. Eu estou muito tranquilo dentro do MDB e não tenho motivo nenhum para sair do partido.
Sendo candidato à reeleição, há espaço para outro integrante do seu partido disputar majoritária, ou vice, ou senado?
Com a quantidade de partidos que nós temos hoje, e a discussão da força desses partidos, seria muito difícil a gente ter uma chapa puro sangue. Então, eu acho que a composição tem que ser dentro dos partidos, tem que estar muito bem organizada essa questão partidária. A lista é bem grande.
Qual tem sido o trabalho na área social para combater a fome?
A gente olha num momento desse de pandemia, e a gente tem que trabalhar com alguns eixos. Eu, quando vi que a pandemia não ia passar, estabeleci algumas coisas: em primeiro lugar, não posso deixar a saúde não ter condições de atender a população. Então, nós temos um trabalho muito forte na área da saúde e, com um prazo de 45 dias, nós entregamos 400 leitos de hospital. O outro eixo é o eixo de não deixar a cidade se entristecer. Acho que a função de um governante é manter o alto-astral de uma cidade. Isso nós fizemos com a quantidade de obras que nós licitamos desde o ano passado e, mesmo durante a pandemia, nós temos uma faixa de 40.000 pessoas trabalhando, só em obras públicas. Outro, é o lado social, porque quem anda nas ruas, e eu ando muito, principalmente nessas regiões mais carentes, vejo que existe muita gente passando fome e passando dificuldade. Então, foi um momento da virada que nós fizemos no cartão Prato Cheio e com auxílio-creche também em cartão. Nós criamos uma rede de proteção alimentar que atende, só com programas sociais do Distrito Federal, 700.000 pessoas. Isso faz com que não dê para atender todo mundo da forma que merecia e da forma merecida, mas cria pelo menos uma forma da pessoa ter uma assistência e ter uma alimentação minimamente digna.
As desocupações durante a pandemia, na área perto do CCBB, foram muito criticadas. O que aconteceu ali? Era o momento?
Ali é o seguinte: tem algumas coisas que a gente não pode deixar, e até a decisão do ministro Barroso dividiu isso. Uma coisa é você pegar uma ocupação irregular, como você tem várias ali no Sol Nascente e Pôr do Sol, que já estão estabelecidas e estão passando por um processo de regularização. Essas nós estamos ajudando a fazer a infraestrutura e vamos regularizar. Não faz sentido eu chegar lá e meter um trator e derrubar, isso a decisão do supremo colocou bem claro. Outra coisa é você pegar e invadir uma área atrás do Palácio do Jaburu, financiado por partidos políticos. Aí, não tem como deixar. Se eu incentivo uma situação dessa, no que vai se transformar a cidade? Tem que ter os pesos, e eu sempre digo isso, e estou falando desde a campanha, eu não sou favorável a derrubadas, mas eu só vou manter sem derrubar aquilo que pode ser regularizado. O que não tem jeito, o jeito está dado. Criaram aquele tumulto todo, juntaram os parlamentares e foram dizer que eu era desumano e que eu estava tirando em época de pandemia. Eles queriam fazer uma favela no centro da cidade.
A Secretaria de Desenvolvimento Social estava acompanhando?
Ela deu toda a assistência. Chegou o pessoal da Secretaria de Desenvolvimento Social, chegou o pessoal da Sejus também. Nós oferecemos casas de passagem, oferecemos albergues e fizemos tudo o que devia ser feito, mas eles queriam ficar ali. Fizeram até uma escola. Esse é um problema de Brasília. É um problema que existe, mas foi muito incentivado. Nós tivemos um passado em que mandavam invadir, e depois a gente vê como que regulariza. Estou falando isso aqui porque esse governo nosso foi o que mais regularizou terras e moradias no Distrito Federal. Só esta semana, nós aprovamos nove projetos de regularização na Câmara Legislativa.