A céu aberto, 76 grafiteiros, de forma voluntária, ocuparam o centro de Brasília com arte e cor. Convocados por intermédio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) para desenhar nos tapumes cinzas que cercam a Praça do Buriti - em reforma - artistas urbanos dão vida ao que seria utilizado somente para tapar as obras do patrimônio histórico. O local não passa por reformas há sete anos. Mas agora saiu do papel, com previsão de término em outubro.
Ramon Phanton é um dos artistas contemplados. Para ele, que grafita desde 2013, o convite da pintura da praça foi uma iniciativa interessante, pois reúne aqueles que são experientes, com os que estão no início da caminhada artística. “Vejo com ótimos olhos poder ocupar espaços como esses da Praça do Buriti, pois diminui a distância entre os artistas que estão na rua, o poder público e a população. Com isso, as pessoas podem enxergar o grafite como uma manifestação artística legítima. Quanto mais conhecem sobre essa arte, menos preconceitos existirão”, conta o grafiteiro.
Estudante de artes visuais na Universidade de Brasília (UnB), Ramon não quer ocupar somente os espaços públicos, mas todos os espaços capazes de receber arte. “Acredito que precisamos ainda caminhar bastante com esses diálogos. Precisamos cada vez mais ocupar (com obras) outros espaços, não só os urbanos, mas também museus e galerias. Brasília e Entorno tem uma infinidade de ótimos artistas, que precisam de apoio e espaço, quanto mais puderem fomentar isso, melhor para a classe e para a cidade”, afirma. Quinzenalmente, há quase dois anos, ele produz o programa de áudio Salve os Muros Podcast, que discute sobre o universo do grafite e da arte urbana, a nível nacional.
Secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues destaca que a capital é referência nacional e internacional em arte urbana. “Em Brasília, temos artistas conhecidos internacionalmente. O projeto nasceu de uma provocação. Em consenso com o presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Fernando Leite, decidimos dividir os custos do material, abrir o edital por meio do Comitê do Grafite e 76 voluntários se apresentaram dispostos”, diz.
A arte ficará exposta enquanto durarem as obras. “É uma pena que seja temporário. Mas a arte urbana tem dessas coisas, e o que estamos fazendo aqui, será uma grande vitrine, é uma tela a céu aberto. O pessoal do DF precisa ser reconhecido”, afirma Bartolomeu. Alguns artistas já pintaram o cercado, nesta terça-feira, mas a grande concentração será no fim de semana. Serão 1,2 mil m² ocupados com tapumes ao longo da praça.
Pedro Pereira também participou do projeto. Para ele, é uma forma de mostrar a qualidade da arte urbana na cidade e dar exemplo para gerações futuras. “O projeto, em si, é uma forma generosa de ambos os lados para o fortalecimento da cena. Por estar em uma das vias mais movimentadas, e em frente ao Palácio do Buriti, mostra quanto é válido o investimento em arte e cultura na nossa cidade. Apesar de nova, ela tem procurado construir uma identidade cultural e visual. Isso proporciona a continuidade, para novas gerações”, enfatiza o artista, conhecido como Dom.
Saiba Mais
A reforma
Inaugurada há 61 anos, a Praça do Buriti é um dos conjuntos arquitetônicos mais importantes da capital federal. O governador Ibaneis Rocha (MDB) aprovou, na quinta-feira da semana passada, o início imediato das obras. O local, que não passava por revitalizações desde 2014, terá de volta a fonte e a iluminação. Os reparos custarão cerca de R$ 2 milhões e incluem consertos nos chafarizes, sistemas elétrico e hidráulico, bem como nos refletores.
A obra ficará a cargo de uma empresa contratada pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). Os refletores serão substituídos por lâmpadas de LED, e haverá reforma de todo o sistema das fontes. A área de mais de 47 mil metros quadrados tem dois espelhos d’água com capacidade para 2 milhões de litros, 12 bancos de concreto, mais de 100 mangueiras e 14 mil metros quadrados de área para jardins. O objetivo do GDF é devolver o espaço para a população.