Os crimes de Lázaro

Buscas chegam ao sétimo dia

Na noite de ontem, o caseiro de uma chácara em Edilândia (GO) afirmou à polícia que trocou tiros com Lázaro Barbosa de Sousa — procurado após matar uma família no Incra 9, em Ceilândia Norte. Enquanto foge, suspeito tem cometido diversos crimes na região

As equipes de segurança envolvidas nas buscas por Lázaro Barbosa de Sousa, 33 anos — suspeito de cometer uma série de homicídios no Distrito Federal, além de crimes em outras unidades da Federação — fizeram um novo cerco para tentar prendê-lo, ontem. Por volta das 22h, segundo a Polícia Militar do Distrito Federal, ele trocou tiros com o caseiro de uma chácara em Edilândia (GO). O funcionário do imóvel afirmou aos PMs que Lázaro saiu ferido. “Gemendo, ele disse ‘Você me acertou, mas eu vou te matar’”, relatou a vítima, que, supostamente, baleou o foragido com uma arma calibre 12.

A reportagem apurou que os policiais passariam a noite nas cidades goianas de Edilândia e Cocalzinho. O secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, afirmou que as equipes atuariam durante mais uma madrugada para tentar encontrar Lázaro. “Vamos virar a noite trabalhando. Ninguém quer sair daqui (da região)”, reiterou. O chefe da pasta também destacou que Lázaro “conhece a região como ninguém” (leia mais na página 14). “Por isso, ele está dando esse trabalho todo. É mateiro e da área. (Esses) são dois dificultadores para o trabalho da polícia. Mas, independentemente disso, vamos encontrá-lo”, declarou Rodney.

Desde quarta-feira, uma megaoperação mobilizou mais de 200 policiais das forças de segurança do Distrito Federal e de Goiás. Os trabalhos contaram com apoio de helicópteros, cães farejadores e drones das corporações. Lázaro é suspeito de assassinar quatro integrantes da família Vidal, no Incra 9, em Ceilândia Norte, na quarta-feira; balear três pessoas em Cocalzinho (GO); além de manter reféns enquanto tentava fugir após o triplo homicídio.

A Polícia Militar do DF empregou mais de 100 homens de diversos batalhões durante os trabalhos de busca. O coronel Jorge Eduardo Naime, chefe do Departamento de Operações da corporação, afirmou que a equipe tem ocupado fazendas de regiões próximas aos locais por onde Lázaro passou, para garantir a segurança da população (leia Rastro de terror). “Nossos carros fiscalizam as vias de acesso rural e as rodovias. Nossa principal motivação, além de capturar o autor, é evitar que ele atinja mais pessoas”, comentou o PM. Questionado sobre a repercussão do caso, o coronel comentou que a ação mostra a importância de as polícias agirem de maneira conjunta e interativa no país. “(Lázaro) é um criminoso psicótico. Ele tem grande experiência na região. Conhece a área e os esconderijos”, completou.

Pavor nas cidades próximas

O cenário de terror provocado pelos crimes de Lázaro Barbosa de Sousa, 33 anos, mudou a rotina de moradores das regiões próximas a Ceilândia Norte e de cidades do Entorno. O motorista Wagton Carlos Pereira Brito, 22, nasceu em Edilândia (GO) e ficou assustado com a movimentação na cidade. “Isso nunca aconteceu antes. Estou preocupado demais. Mesmo com a casa toda fechada, todo mundo fica com muito medo. Nunca ouvi falar em nada parecido”, relatou. Para se proteger, o restante da família de Wagton decidiu ficar em um mesmo imóvel. “Não dormi nada esta noite (de domingo para ontem), de tanta preocupação. Minha mulher está do mesmo jeito”, desabafa o motorista.

O servidor público Erli Texeira Coelho, 38, compara a história a um enredo de um filme: “Nas regiões de Brasília e Goiás, nunca aconteceu isso. Nunca ouvi falar de uma história igual a essa. Parece coisa de cinema”. Com medo de ser a próxima vítima, Erli deixou a família na casa dos sogros, em Águas Lindas (GO). “Só vou buscá-las (mulher e filhas) quando isso tudo acabar. Todo mundo ficou assustado”, completa.

Sandra Mara, 57, moradora de Edilândia há mais de 30 anos, diz que “acabou o sossego” na área. Trancada em casa com o marido, o aposentado Terezo Reis, 65, ela revela estar apreensiva e com medo do que pode acontecer. “É uma coisa que nunca vimos. Aqui é uma cidade tão pacata, tão tranquila, onde todo mundo se conhece. De repente, (ocorre) essa agitação toda”, comenta. A rotina do casal sofreu uma série de alterações, segundo Sandra. Eles têm evitado sair de casa e, quando precisam, andam apenas juntos. “À noite, não saímos de jeito nenhum. Trancamos tudo e soltamos os cachorros”, detalhou.

Moradora do Cruzeiro, mas com avós que vivem em uma fazenda entre Cocalzinho (GO) e Edilândia, a empresária Wylza Alves Gomes, 42, preferiu buscar os idosos — de 84 e 90 anos — na chácara. “Todo mundo ficou preocupado. Tivemos de nos mobilizar para tirá-los de lá”, conta. Agora, eles estão com uma parte da família, em uma casa no Entorno do DF. “Ficamos sabendo das notícias e que seria bom esvaziar as fazendas. Estão todos apreensivos, e meus avós, muito preocupados”, ressalta Wylza.

Outras vítimas
Um dia depois de assassinar três integrantes da família Vidal, no Incra 9, Lázaro teria entrado armado em uma casa a cerca de 3 km de onde as vítimas moravam. Dona da nova fazenda invadida, Sílvia Campos, 40, contou que ficou refém do suspeito por mais de três horas. Ao Correio, ela relatou que o homem confessou participação no triplo homicídio: “Ele perguntou se eu estava acompanhando o noticiário e afirmou que estava envolvido, mas que não tinha agido sozinho”.

Por foto, Sílvia o identificou como Lázaro. “Os olhos parecem. Ele entrou com roupa camuflada, roubou dinheiro, mais de R$ 200, e um casaco preto. Disse para nós que matou mesmo as vítimas da outra chácara”, contou. Na ocasião, porém, ele não havia dito o que havia feito com a empresária Cleonice Marques, que ainda estava desaparecida. O corpo dela só foi encontrado no sábado, por moradores do Sol Nascente, em um córrego.

Na madrugada de sexta-feira, policiais atenderam a uma ocorrência de roubo em residência perto de um pesque-e-pague em Ceilândia. A polícia informou que um homem havia invadido a casa por volta das 20h de quinta-feira, amarrou o funcionário e levou o carro, um Palio Branco. Às 3h30, ele teria deixado o imóvel em um carro roubado e seguiu para Cocalzinho, onde ateou fogo no veículo. Horas mais tarde, Lázaro baleou três pessoas após invadir uma casa na região. As vítimas foram hospitalizadas e não corriam risco de morte.