Jornal Correio Braziliense

CHACINA

Busca por suspeito de matar família no Incra 9 já dura três dias

Até a noite desta sexta-feira (11/6), continuava foragido Lázaro Barbosa Sousa, 33 anos, suspeito de assassinar uma família no Incra 9. O homem fez mais um refém, ontem, o terceiro durante a fuga que mobiliza forças de segurança do DF e de GO

Já são 72 horas de fuga em meio a assassinatos e reféns. Forças de segurança do Distrito Federal e de Goiás trabalham com novas pistas e acreditam estarem mais perto de encontrar Lázaro Barbosa Sousa, 33 anos, suspeito de cometer um triplo homicídio no Incra 9, em Ceilândia Norte, e de sequestrar a empresária Cleonice Marques, 43 anos. Ontem, a polícia descobriu que Lázaro fez mais um refém (o terceiro desde o início da fuga), roubou um carro do modelo Fiat Pálio e fugiu para a cidade de Cocalzinho (GO). Lá, ele teria contado com a ajuda de um comparsa, segundo indicam as investigações.

Durante a madrugada, policiais foram acionados para uma ocorrência de roubo em uma residência próxima ao pesque-pague Papaléguas, também em Ceilândia. Fontes policiais informaram que um homem invadiu a casa por volta das 20h de quinta-feira, amarrou o funcionário e levou um carro. Ele teria deixado o imóvel às 3h30 e seguiu para Cocalzinho, onde ateou fogo no veículo.

O comandante do Batalhão da cidade, o tenente Gerson de Paula, afirmou ao Correio que o suspeito, após incendiar o automóvel, foi ajudado por um colega na rodovia. “O senhor que o buscou foi ouvido, e continuamos em diligências. É o que podemos dizer até o momento”, frisou o tenente. Mais de 80 policiais civis e militares do DF e Entorno, auditores-fiscais e rodoviários federais estiveram no município de Cocalzinho para localizar Lázaro — que é investigado por cometer, pelo menos, 10 homicídios na região de Girassol, Cocalzinho e no DF.

Outro refém

Na manhã de quinta-feira, o homem também teria entrado armado em uma residência que fica a 3km de distância da chácara onde Cláudio Vidal, 48, e dos dois filhos, Gustavo, 21, e Carlos Eduardo, 15, foram mortos — a mãe, Cleonice Marques, 43, continua desaparecida. Sílvia Campos, 40, proprietária da chácara, e o caseiro, identificado como Anderson, 18, estiveram sob a mira do criminoso por mais de três horas. Ela contou que o homem confessou participação no triplo homicídio. “Ele perguntou se eu estava acompanhando o noticiário e afirmou que estava envolvido, mas que não tinha agido sozinho”, relatou.

Abalada, a mãe de Anderson conversou com o Correio e deu mais detalhes do crime. Antônia Fernandes, 51, contou que Lázaro obrigou o filho dela e Sílvia a fumarem maconha. “Ele enrolou dois cigarros e deu a ordem. Não senti minhas pernas ao saber da notícia”, disse, emocionada. Enquanto estava na casa, o criminoso obrigou que Sílvia cozinhasse para ele e lhe servisse. A todo momento, o homem pedia para que as vítimas olhassem para a parede, sentados de costas. O suspeito deixou a casa levando mais de R$ 200, jaqueta, celulares e carregador telefônico.

Desaparecida

O que intriga os investigadores é o paradeiro da empresária Cleonice Marques. A polícia acredita que ela tenha sido sequestrada por Lázaro, após a chacina ocorrida na casa na quarta-feira. A suspeita é embasada nas últimas palavras de Cláudio Vidal, que revelou a situação ao cunhado que foi prestar socorro.
Lázaro invadiu a residência da família por volta das 2h. Ele arrombou a porta e, em menos de 10 minutos, matou o marido de Cleonice e os dois filhos a facadas. Antes de conseguir entrar na casa, a empresária ligou para o irmão pedindo socorro. O familiar chegou ao imóvel em pouco tempo, mas se deparou com os corpos no quarto e não encontrou Cleonice. Mesmo agonizando, Cláudio conseguiu alertar o cunhado: “Age rápido. Levaram a Cleonice”, disse segundos antes de morrer.

* Colaborou Rafaela Martins


Palavra de especialista

Corrida contra o tempo

As buscas devem ser multidisciplinares, envolvendo as diversas forças de segurança locais, bem como auxílios de outros órgãos, como militares das forças armadas, com experiência em rastrear pessoas em áreas de difícil acesso. Trata-se de alguém que traz extrema dificuldade de atuação. É uma combinação das mais difíceis de operar.

Pelo perfil psicológico e histórico de crimes, é um agressor que possui um desequilíbrio anormal, e que sempre agrega violência em suas ações. Quanto mais tempo é gasto, menores são as chances de recuperar a desaparecida com vida. Reunir mais agentes públicos de segurança na busca e trazer auxílio especializado — tanto dentro do DF como fora — é um passo natural para que o tempo seja encurtado nessa operação.

Não estamos falando de um criminoso comum nem de um caso que ocorra com frequência. Precisamos lembrar, também, que, diante das características do suspeito, episódios como esse trazem dificuldade de solução, tanto aqui como em qualquer outro lugar no mundo. Não é uma falha das instituições e, sim, um cenário completamente fora das ações criminosas de costume.

Leonardo Sant’Anna, especialista em segurança pública e consultor de segurança da ONU