O mistério sobre o paradeiro da empresária Cleonice Marques, 43 anos, invadiu a madrugada de hoje. Com drones e helicópteros no céu, além de dezenas de equipes por terra, as forças de segurança do Distrito Federal e de Goiás atuaram durante todo o dia de ontem na tentativa de localizar a vítima, possivelmente sequestrada na madrugada de quarta-feira, após ter a casa invadida. As buscas por ela e pelo suspeito de cometer o crime — Lázaro Barbosa Sousa, 33, que também teria assassinado o marido e os filhos da moradora do Incra 9 — duram mais de 48 horas.
Sem ser visto pelos policiais que trabalham na megaoperação, o suspeito teria feito outra refém ontem, na mesma região. Silvia Gomes, uma chacareira de 40 anos, ficou presa dentro de casa durante quatro horas, sob ameaça de um homem que ela identificou por foto como Lázaro. Por volta das 11h, ela e o caseiro do imóvel foram surpreendidos por um homem que invadiu o lote onde estavam. O criminoso vestia camisa e boné camuflados, além de uma calça de moletom preta.
Armado, o invasor roubou cerca de R$ 200 da bolsa da mulher e a obrigou a cozinhar para ele e servi-lo. Em ocorrências anteriores, Lázaro agiu de maneira semelhante, como divulgado pelo Correio na quarta-feira, com base em boletins de ocorrência da Polícia Civil (leia Para saber mais). “Ele ficou andando de um lado para o outro e perguntou se eu estava acompanhando o noticiário. Disse que participou do assassinato de um empresário e dos dois filhos, mas que não agiu sozinho”, relatou Silvia à reportagem. Antes do desaparecimento de Cleonice, Lázaro teria matado o marido da empresária — Cláudio Vidal, 48 — e os dois filhos do casal: Eduardo Marques Vidal, 15, e Gustavo Marques Vidal, 21.
Terror
Durante o período em que esteve na chácara onde Silvia mora, o invasor ordenou diversas vezes que ela não olhasse para o rosto dele. Abalada, ela comenta as horas de terror que viveu: “Ele tinha um olhar temeroso. Nunca vou esquecer. Estava de máscara, mas dava para notar a feição sombria. Foi tudo muito assustador”, desabafou. Por volta das 15h30, o homem deixou o imóvel, levando um casaco preto e dois celulares da vítima. Em seguida, ela usou o telefone do caseiro para pedir socorro a um parente.
A partir do relato do caso a polícia, a força-tarefa fez buscas pela área, a procura de possíveis pegadas do suspeito deixadas durante a fuga. Policiais civis, militares e rodoviários federais recorreram a aeronaves e cães farejadores, para rastrear o matagal próximo à chácara de Silvia — a cerca de 3km da casa de Cleonice e Cláudio. Até a última atualização desta reportagem, nem Lázaro nem a empresária haviam sido encontrados.
Rotina de trabalho árduo e vida simples na fazenda
Cleonice está desaparecida desde a madrugada de quarta-feira. A empresária presenciou a morte do marido e dos dois filhos, no Incra 9. A família morava em uma chácara e administrava uma floricultura em frente ao terreno. Momentos após a entrada do criminoso — identificado como Lázaro por meio de impressões digitais —, ela conseguiu ligar para o irmão e pedir socorro. Quando o parente da vítima chegou, menos de 10 minutos depois, encontrou os corpos do cunhado e dos sobrinhos. Prestes a morrer, Cláudio conseguiu fazer um alerta: “Age rápido. Levaram a Cleonice”.
Natural de João Pinheiro (MG), Cleonice mudou-se para Brasília há pouco mais de 20 anos, quando conheceu Cláudio. De origem humilde, a empresária tem 13 irmãos. A equipe do Correio esteve no local onde a família mora. O endereço, enfeitado por arranjos de flores e plantas, inclui um espelho d’água com carpas e uma pequena casa. “Ela (Cleonice) sempre foi apaixonada por tudo que envolve a natureza. Sempre gostou de cuidar das plantas. É uma terapia”, contou uma das 12 irmãs da vítima, que preferiu não se identificar.
A rotina da família Vidal era de trabalho árduo, segundo parentes. Durante quase todo o dia, Cleonice, o marido e os filhos trabalhavam na floricultura, onde também vendiam plantas e mudas. À noite, costumavam ficar em casa. Parentes acompanharam todo o trabalho de buscas da polícia, emocionados, dividindo abraços e palavras de consolo. “Tudo o que queremos é encontrá-la, com vida ou sem vida, mas a queremos com a gente”, completou a irmã.
Histórico de crimes
No Entorno do Distrito Federal, Lázaro Barbosa Sousa, 33 anos, tem suspeita de envolvimento em, ao menos, sete assassinatos, sendo três contra caseiros de chácaras e fazendas no distrito de Girassol (GO). O delegado Cléber Martins, titular da 17ª Delegacia Regional de Polícia (DRP) de Águas Lindas (GO), afirma que o suspeito seria um fugitivo do presídio de Águas Lindas de Goiás. Em 17 de maio, o acusado cometeu um crime parecido em uma chácara ao lado da Fazenda Vidal. Na ocasião, invadiu o imóvel, amarrou as vítimas e as ameaçou com um revólver e uma faca. “Ele colocou todos pelados e obrigou as mulheres a fazerem comida para ele”, detalhou o delegado-chefe da 24ª Delegacia de Polícia (Setor O), Raphael Seixas. Dias antes, em 26 de abril, Lázaro teria abordado uma mulher no meio da rua, roubado-a e a estuprado. O caso é investigado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). Contra ele, também há um mandado de prisão em aberto, expedido pela Justiça da Bahia, por homicídio qualificado e dois mandados de condenação por roubos cometidos no DF.
A descobrir
Onde está Cleonice?
O que teria motivado o triplo homicídio?
Qual caminho o suspeito traçou para fugir?
Houve participação de outras pessoas no assassinato?
O suspeito de matar a família e sequestrar Cleonice é o mesmo que manteve Silvia como refém?