Crônica da Cidade

Museus de arte

O confinamento imposto pela pandemia provocou várias reflexões sobre as instituições e a cultura na cidade. Brasília tem vários museus de arte e, na verdade, acaba não tendo nenhum que funcione com a capacidade ou potencialidade plenas.

O Museu de Arte de Brasília possui um acervo de qualidade e foi reaberto recentemente, depois de um longo período de reformas. O Museu da República está situado em espaço privilegiado em termos de acesso e atrai (ou atraía até a crise sanitária) um grande e diversificado público de passantes. O Memorial dos Povos Indígenas é de grande relevância.

Mas todos os museus sobrevivem, precariamente, sem estrutura, sem recursos, sem quadros de profissionais qualificados e sem salários dignos. E Brasília é precisamente a cidade que retomou, para o Brasil e para o mundo, o fio histórico da conexão entre arte e arquitetura, lembra o arquiteto Luiz Philippe Torelly.

No entanto, o descaso com a cultura relegou os equipamentos culturais à condição penúria quando não foram simplesmente fechados. O caso mais grave é o do Teatro Nacional, com três salas de espetáculo e foyer para exposições, há cinco anos sem funcionar.

Torelly constata, com razão, que os museus são referências culturais e turísticas em todo mundo. Contribuem, decisivamente, para a formação de inúmeras gerações. Visitar o Louvre é programa obrigatório para quem chega a Paris. Se você vai a Londres, não pode deixar de passar pelo Museu Britânico. Em Madri, o Museu do Prado faz parte do roteiro.

No Rio de Janeiro, existem o Museu Histórico Nacional e o Museu de Belas Artes. Em São Paulo, a atração é visitar o acervo do Masp, na avenida Paulista. Mas e em Brasília?, indaga Torelly. O mínimo que se pode dizer é que a situação da cidade é modesta para a sua relevância de capital do país e de centro de uma região metropolitana com mais de 4 milhões de habitantes.

A Caixa Econômica, o Banco do Brasil, o Banco Central, o Senado Federal, a Câmara dos Deputados e o Palácio Alvorada possuem acervos preciosos. Abrigam obras de Pancetti, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Djanira, Volpi, Portinari, entre outros grandes nomes do modernismo.

E isso sem mencionar peças de um amplo mobiliário. Toda essa riqueza é subutilizada. Torelly propõe que esses acervos sejam cedidos, temporariamente, pelas instituições para mostras no Museu da República e em outros espaços do DF, inclusive, nas cidades da periferia, que não têm acesso à arte. A proposta de Torelly, viável e econômica, depende exclusivamente da vontade dos governantes.


R$ 35,4 mil
mensais é o valor do teto remuneratório do funcionalismo público