VIOLÊNCIA

'Não sei o que será de nós', diz filho de vítima de feminicídio

Familiares e amigos de Leidenaura Moreira Rosa da Silva, 37 anos, assassinada pelo namorado, Valdemir Pereira da Silva Júnior, 30, no domingo, relatam que a mulher era agredida, com frequência, pelo acusado

Dor e revolta são os sentimentos relatados pela família de Leidenaura Moreira Rosa da Silva, 37 anos, vítima de feminicídio no domingo. Ela foi assassinada pelo namorado, Valdemir Pereira da Silva Júnior, 30, durante uma confraternização com amigos e parentes na Estância Mestre D’Armas. Mãe de seis filhos, Leide, como era mais conhecida, foi levada às pressas ao Hospital Regional de Planaltina (HRPL), mas não resistiu. O agressor foi contido por testemunhas até a chegada da polícia.

O Correio conversou com um dos filhos da vítima. O adolescente de 16 anos saiu de casa pouco antes de 12h para conversar com amigos em uma esquina. Na hora do almoço, ele retornou para a residência e se deparou com um cenário de guerra. “Tinha sangue para todo lado. Eu não estava entendendo e, quando soube, falaram que minha mãe já estava no hospital em estado grave”, disse.

Por incontáveis vezes, o rapaz e os irmãos, de 17, 15, 13, 8 e 4 anos, intervieram nas discussões do casal para proteger a mãe. “Ele chegava para bater nela (mãe). Cansamos de entrar no meio para impedir que qualquer coisa fosse feita”, relatou. Cinco das seis crianças são frutos de outro relacionamento. Essas perderam o pai em um acidente há oito anos e, agora, ficaram órfãos também de mãe. O caçula é filho de Leide com Valdemir. “Não sei como vai ser. Com quem vamos ficar, o que será de nós. Não tenho palavras para definir minha mãe. Uma mulher maravilhosa, batalhadora e que cuidou de todos com garra”, completou o adolescente.

A mãe de Leide saiu de Campo Alegre de Lourdes, no interior da Bahia, até Brasília. Ela chegou ontem para organizar o enterro da filha. Sob forte comoção, familiares e amigos se concentraram na casa de Leide. Abalada, a mãe permaneceu dentro da residência a todo momento, cumprimentando e abraçando quem chegava. Os filhos da vítima se revezaram ao ficar dentro e fora do imóvel. Entre lágrimas, eles eram consolados por parentes e vizinhos.

Ferida, Leidenaura ficou internada no Hospital de Planaltina, mas às 20h de domingo sofreu uma parada cardíaca e não resistiu. A faca usada no crime foi localizada pela Polícia Civil e encaminhada à perícia. Não se sabe, ainda, o local e a hora do sepultamento.

Investigação
O caso é investigado pela 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina) como feminicídio. Após matar a mulher, populares contiveram o homem. Segundo o Corpo de Bombeiros, Valdemir foi agredido por testemunhas. Em depoimento na unidade policial, o acusado deu uma versão, mas nada ficou comprovado sobre a motivação do crime. De acordo com o delegado-chefe da 16ª DP, Diogo Cavalcante, a vítima registrou boletim de ocorrência em julho do ano passado contra Valdemir no âmbito da Lei Maria da Penha por ameaça, mas não chegou a solicitar medidas protetivas.

Dados da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), entre janeiro e abril desse ano, foram registrados oito casos de feminicídio, um aumento de 33% em relação ao mesmo período de 2020, quando seis mulheres foram mortas em decorrência do gênero. Segundo a pasta, houve redução de 46,8% nesse tipo de crime entre 2020 e 2019 (17 contra 32, respectivamente).

Peça Ajuda

Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência; Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
Telefone: 180 (disque-denúncia)

Centro de Atendimento
à Mulher (Ceam);
De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h; Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam);
Entrequadra 204/205 Sul –Asa Sul – (61) 3207-6172

Disque 100; Ministério dos Direitos Humanos
Telefone: 100

Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid)
da Polícia Militar
Telefones: (61) 3910-1349 /
(61) 3910-1350