Jornal Correio Braziliense

Casas sobre rodas ganham espaço

Com a pandemia, a cidade viu prosperar um negócio que faz sucesso no Brasil e no mundo: o motorhome. A opção de levar a casa sobre quatro rodas ou, simplesmente, ter a possibilidade de um novo estilo de vida tem atraído um público cada vez maior. Desde que a pandemia começou, quatro empresas do segmento se instalaram no Distrito Federal. Durante a pandemia de covid-19, em vez de passar o confinamento no mesmo lugar, muitos brasilienses têm optado por esse tipo de viagem, o que possibilita alterar a paisagem diária sem a necessidade de gastos com hotel ou deixar de lado itens que consideram importantes para o dia a dia.

“Essa procura já vinha em crescimento, mas a pandemia acirrou isso”, frisou a presidente da Associação Nacional de Campistas, Nilva Rios. “O perfil antes era muito centrado em quem estava aposentado e tinha mais tempo livre. A gente já estava vendo essa mudança para pessoas mais jovens e famílias com crianças. Na pandemia, esse perfil se modificou”, avalia.

O casal de engenheiros Gabriella e Marcelo Botelho, 47 e 50 anos, trabalha em um escritório dentro de casa desde o início do ano passado. Cansados da rotina, decidiram colocar a mão na massa e construir o próprio motorhome e mudar de ares. No fim do ano, a dupla pretende começar a viagem fazendo paradas dentro do próprio DF. Na sequência, vão expandir os horizontes para as cidades do Entorno e o litoral do país.

Para reduzir os custos, eles compraram uma ambulância em um leilão da secretaria de Fazenda. “A garagem virou uma oficina”, conta Gabriella. Mini-geladeira, climatizador, cama e porta-porte (o sanitário dos motorhomes) foram comprados com o dinheiro da venda de um carro e vão compor a “casa nova”. O cantinho da cachorra Lara, 11 anos, também está reservado.

“A família toda olha como uma coisa maluca. Dizem que somos doidos de sair de uma casa para um carro sem conforto”, afirma o major André Rangel, 50, do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF). A poucos dias da aposentadoria, ele resolveu resgatar o sonho da juventude. Devido ao custo elevado de comprar um motorhome pronto, que pode chegar a R$ 500 mil, André também preferiu construir a casa sobre rodas de maneira artesanal, e o investimento total foi de R$ 135 mil.

Ele defende que para sair de motorhome, é essencial “ter espírito de aventura”. Segundo André, “essa incerteza da viagem é bem diferente de viajar de avião com hora marcada. O que vai acontecer, a gente não sabe”, diz. Os planos dele e da esposa são de passar três anos na estrada, cruzando o Brasil. “A gente não tem dia para sair dos lugares. Se está gostoso e bacana, vamos ficando”, afirma.

Aluguéis

Para quem quer sentir o gostinho de levar a casa para a estrada, mas não quer investir na compra de um motorhome, uma opção é o aluguel do carro. No DF, a única empresa de locação dessas vans foi aberta em janeiro pelo casal Magali Barbiani e Ricardo Figueiredo. A agenda de locações está preenchida até novembro. “A procura nos espantou, porque temos um carro só”, diz Magali. As diárias variam conforme a temporada, mas o valor inicial é de R$ 600. Quanto mais tempo o cliente fica com o carro, há descontos progressivos. Para contratar o serviço, é preciso ter mais de 26 anos e, pelo menos, cinco anos de habilitação.

Outra opção é construir o veículo do zero para convertê-lo em casa. “A configuração da casa dentro do carro é que vai ditar o custo”, alerta Vilson Oliveira, dono de uma das quatro empresas que constroem os motorhomes no DF. Assim, montar o próprio veículo pode representar um gasto que varia de R$85 mil a R$110 mil, por exemplo. Além da procura, a subida do dólar também impacta esse mercado, já que muitas peças são importadas. Vilson explica que já tem contratos fechados até 2022. “Meu faturamento chegou a aumentar em 38% em seis meses. Temos agora previsão de aumento de mais 27% daqui para o final do ano. Não estou em um momento ruim, estou em um momento ótimo”, avalia. “O mercado tem muito espaço para crescer, falta concorrência”, afirma.

A estimativa da Associação de Campistas é que o DF tenha 300 equipamentos de motorhomes. Em todo o Brasil, esse número pode chegar a 40 mil. Apesar disso, a capital federal não tem espaço de camping. “A gente tenta manter o campismo mesmo sem a estrutura”, diz Nilva Rios. “Essa é uma demanda antiga para a cidade. Brasília, como a capital, deveria ter esse espaço, que valoriza a cidade e é mais uma opção para receber pessoas”, completa.