Crônica da Cidade

Amanhã é domingo de novo

Cioran dizia que a única função do amor é nos fazer suportar as tardes de domingos. Gosto de Cioran, mas ele, a gente sabe, costumava exagerar um pouco de vez em quando. De modo que o amor tem lá outras utilidades (e outros problemas também), mas hoje não escrevo para falar de amor. Este é um texto sobre — aí, Cioran, estamos juntos — os domingos e suas ondas cruéis de tédio.

Mas, antes, astrologia… Bem, não acredito nos signos, mas dou minhas espiadas e jurei que Cioran era canceriano. Dramático, fatalista, pessimista, sensível. “Como não seria de câncer?”, pensei. Mas não. O romeno era ariano. Já fui logo tripudiar sobre os astros e seus mensageiros. Ocorre que me esqueci dos ascendentes, das luas e dessas coisas todas que compõem um mapa astral. Então, vai saber… Por via das dúvidas, vou guardar minhas críticas e seguir com o assunto real deste texto.

Nunca me dei bem com os domingos. A melancolia que sempre tive ganha reforços pouco sustentáveis nesses dias e é difícil lidar com o cair da tarde e com o eco dos gritos do Faustão na televisão de algum vizinho. Longe de mim querer teorizar com rigor sobre qualquer coisa, mas é complicado não pensar na influência da forma como se organiza a nossa sociedade e o mal dos domingos. Sobreviver no capitalismo não é fácil, baby, e isso vai custar algumas vidas, as nossas, no fim das contas.

Não vou me alongar, mas, por mais que você ame o seu trabalho, jamais poderá ignorar certas agonias das segundas-feiras. Da minha parte, trago comigo sempre o medo do fracasso, um espectro constante nos meus ombros de uma pressão que vem de mim mesmo (e também dos comerciais na tevê, das lições no colégio, do só-o-trabalho-dignifica-o-homem e do trabalhe-com-o-que-ama-e-nunca-mais-sofrerá).

Sempre penso: é nesta segunda que, exaurido da procura, entrego os pontos? Em suma, é nesta segunda que falho na tarefa — até agora competente — de fracassar sem ser notado? Às vezes, é besteira temer tanto as segundas. O terror pode vir numa terça. Ou pior, numa sexta-feira antes da hora em que as pessoas geralmente abrem uma cerveja para comemorar a chegada do sábado.

Na última sexta, meus pés tremeram. Com dificuldades de ficar parado, me recostei na mesa e vi meu corpo mexer como se não soubesse mais como parar. Não consegui chorar. Nunca consegui meditar nem acessar esses espaços místicos da mente dos quais as pessoas falam com muito entusiasmo. Então, nem sempre sei o que fazer, embora os tratamentos sérios ajudem. Resta olhar para frente e esperar.

Ainda não foi desta vez que tudo foi para o espaço, mas amanhã é domingo e eu penso no que acontecerá… Não sei. Tomara que nada.