GASTRONOMIA

De Brasília para o Rio

Pasteleiro vindo de Portugal e dono da Portugo, o lisboeta Hugo Laurentino faz sucesso no DF e leva a marca para a capital fluminense. Além da loja em Ipanema, estão previstas mais duas filiais em terras cariocas

Brasília nos seus 61 anos já recebeu muitas grifes gastronômicas que aqui vieram em busca de novos mercados. O caminho inverso, porém, tem sido mais raro. Poucas, até agora, se aventuraram a exportar o produto brasiliense. Uma delas — Portugo — está nesse seleto grupo, que focou a expansão justamente no Rio de Janeiro, onde a marca de doces lusitanos completou um mês em Ipanema, instalada na Rua Aníbal de Mendonça, 55. “Lá já são vendidos mil pastéis de nata por dia”, informa o lisboeta Hugo Laurentino, de 43 anos, dono de duas lojinhas na cidade, uma na Asa Sul e outra na Asa Norte, que juntas vendem a mesma quantidade adquirida pelos cariocas.

O sucesso no Rio é tanto que animou o empreendedor a voos mais altos. Estão previstas ainda mais duas operações na Zona Sul: uma no Humaitá, Rua Capitão Salomão, número 1, e a outra, no Leblon, junto à Padaria Nema, de pães artesanais, que deverá inaugurar no segundo semestre à Rua Ataulfo de Paiva. “Nosso plano era abrir uma loja em Águas Claras, mas passando pelo Rio vi uma casa anunciando estar vaga. Quando liguei, descobri que o aluguel era inferior ao dos imóveis aqui”, revela Hugo, apelidado de Portuga assim que chegou à Bahia, em 2012, acompanhado da mulher brasileira que conheceu na Europa. Ela se chama Mariana Marsahll Parra e é gaúcha de Porto Alegre. O casal viveu dois anos em Salvador, onde Hugo trabalhou em restaurante, e Mariana, na produção de chocolate, antes de seguir para São Paulo, para abrir a loja Amma, enquanto o marido era convocado por um compatriota, o sócio português da padaria Blem de produtos artesanais.

Antes de se encontrarem em Londres, os dois tiveram a mesma crise profissional que os levou a mudar de vida. Formado em design, Hugo não quis mais trabalhar com arte gráfica, do mesmo modo que a advogada Mariana trocou a banca pelas panelas. “Nos conhecemos na escola de culinária Le Cordon Bleu e, no primeiro dia de aula, eu decidi que queria ficar com ela”, conta o impulsivo “alfacinha”, apelido carinhoso dado aos nascidos em Lisboa.

Criado pelos avós, que tinham uma excelente cozinheira, Hugo aprendeu ainda em casa alguns segredos da culinária lusitana. “Aos 24 anos, quando abandonei o design e optei pela cozinha, fui trabalhar no Tavares que, a essa altura, ganhava a primeira estrela do Guia Michelin”. Templo de primeira grandeza, o Tavares foi por muito tempo o melhor restaurante de Lisboa. Hugo também passou pelo Avilez.

Mais uma guinada nos planos trouxe o casal a Brasília, depois que Mariana largou o chocolate para cursar o Instituto Rio Branco. Enquanto estudava, Hugo vendia pastéis de nata em feirinhas, como a do Brasília Shopping, que se realizava uma vez por mês, aos sábados. “Eu vendia rapidamente tudo o que levava, aí vi que não fazia sentido ficar vendendo aqui e acolá”, explica o português, que encontrou no Bloco C da 302 Sul, um ponto para se estabelecer.

Mais tarde, a família aumentou com a chegada de Bernardo. “Por que não juntar a palavra português com o seu nome Hugo?”, propôs Mariana, que é sócia dos empreendimentos atuais e dos que estão por vir com a marca Portugo. Há outros doces, mas o carro-chefe é mesmo o pastel de nata, cujo original foi inventado e vendido no bairro de Belém, em Lisboa, desde o início do século 19, e o único autorizado a usar o nome pastel de Belém, em Portugal. Os outros devem ser comercializados como pastel de nata.

Há quem o coma com canela e açúcar de confeiteiro. Quando o doce sai do forno, sai inchado transbordando da forma, mas em minutos, vai murchando. Aí está pronto para ser comido. “Nunca aqueça em micro-ondas, porque ferve a água que tem dentro”, adverte o pasteleiro, que recomenda o uso de airfryer para esquentar o doce, que deve ser consumido no mesmo dia.

Pega, paga e leva

Uma das vantagens da operação é que não precisa de grande infraestrutura. Na pandemia, as vendas diminuíram, mas não se interrompeu o fluxo da loja, aberta desde 7 de setembro de 2019. Um ano e dois meses depois, surgiu outra na 311 Norte, Bloco B. “Eu gostei quando uma cliente resumiu: ‘ Aqui pega, paga e vaza”, observou Hugo.

A mesma massa folhada e crocante da cestinha, que em Portugal se chama pastel, é usada com outros recheios doces e até salgado, como o de bacalhau e espinafre por R$ 8. É o mesmo valor do pastel de nata com Nutella; merengue de limão; creme de amêndoas; Portugonia, com doce de leite, e Chocotugo, com ganache de chocolate e flor de sal. O pastel de nata sai por R$ 7, mas acima de cinco unidades passa para R$ 6, cada. Assim, a caixinha de meia dúzia, que é a embalagem mais vendida, custa R$ 36, “o que equivale a um euro, o preço do doce em Lisboa”, calcula Hugo.

Só o toucinho do céu, outro célebre integrante da doçaria lusitana, feito à base de ovos, amêndoa, açúcar e canela surgido nos conventos como sobremesa celestial, tem preço diferenciado. Sai por R$ 10, a fatia. Agora que o pasteleiro português fica mais tempo no Rio de Janeiro, a responsável pela confecção dos doces em Brasília é Fernanda Ferreira, formada em gastronomia pelo Iesb. Telefones: (61) 9 9860-7805 (302 Sul e 311 Norte) e (21) 9 9862-2659 (Ipanema).