US$ 18 bilhões
Total das exportações brasileiras de bens agropecuários para os 57 países-membros da Organização para Cooperação Islâmica (OCI) em 2020
As vantagens das fazendas verticais
Depois de ganharem fôlego em São Paulo, as fazendas verticais começam a despertar interesse em cidades como Brasília, Rio de Janeiro e Cuiabá. O sistema de plantio, que economiza até 95% de água e usa 70% menos adubo e fertilizantes do que o modelo tradicional, aumenta em quase 10 vezes a produtividade de hortaliças. Enquanto um bom produtor de alface consegue colher entre 45 e 48 toneladas mensais por hectare, pelo mecanismo usado nas fazendas verticais, chega-se a aproximadamente 400 toneladas da verdura.
Ítalo Guedes, pesquisador da Embrapa Hortaliças, explica que as fazendas verticais utilizam o sistema hidropônico, em que as plantas se desenvolvem na água tratada com nutrientes, num ambiente fechado, com luminosidade artificial e temperatura controlada. Além da produtividade maior, esse modelo de cultivo reduz os gastos com combustíveis e diminui consideravelmente as perdas, pois tudo é feito em áreas urbanas, onde está a maior parte dos consumidores.
“No Brasil, quase tudo é transportado por meio de estradas. O tomate que é consumido em Manaus sai de cidades de Goiás. É preciso colher verde para amadurecer até chegar ao destino, mas, mesmo assim, as perdas passam de 50%”, diz Guedes. “Com as fazendas verticais, os produtos estão muito próximos daqueles que vão consumi-los. Isso garante a segurança alimentar nas cidades e é um forte instrumento para reduzir a fome”, acrescenta.
Alimentos mais saudáveis
As fazendas verticais podem ocupar prédios e armazéns desocupados nos grandes centros urbanos, sobretudo em áreas de pouco comércio e longe da produção tradicional de hortaliças e frutas. O abastecimento da população desses locais será facilitado e as regiões, valorizadas.
Não é só, ressalta Ítalo Guedes, da Embrapa Hortaliças. Quanto mais fácil for o acesso a produtos naturais, de qualidade garantida e sem agrotóxicos, melhor será a saúde da população. No Brasil, o consumo de hortaliças, de 25 a 30 quilos por ano per capita, é baixíssimo quando comparado aos países desenvolvidos.
No Japão, onde o conceito de fazendas verticais ganhou impulso, depois que o acidente com a usina nuclear de Fukushima contaminou o solo, a consumo médio anual de hortaliças é de 150 quilos por ano. Esse mesmo patamar é visto na Itália. Na Coreia do Sul, chega a 170 quilos. Portanto, ainda há muito a se avançar no Brasil.
DF é líder no consumo de hortaliças
Para Ítalo Guedes, da Embrapa, o Distrito Federal tem um potencial enorme para o desenvolvimento de fazendas verticais, por causa da grande demanda por hortaliças.
A média de consumo anual per capita em Brasília é de 50 quilos, praticamente o dobro do país, de 25 a 30 quilos. Isso, acredita o pesquisador, está associado a hábitos alimentares mais saudáveis e ao poder aquisitivo maior.
Da internet para supermercados
A Embrapa Hortaliças tem dado suporte importante aos interessados em investir em fazendas verticais. Em São Paulo, fechou parceria com a empresa 100% livre, que fica no bairro de Ipiranga. As vendas das hortaliças começaram pela internet e a perspectiva é de que, em breve, os produtos estejam em redes de supermercados e em sanduíches do McDonald´s.
O apetite do Bradesco pelo campo
Maior banco privado com atuação no crédito rural, o Bradesco tem planos ambiciosos para o agronegócio. A meta é ofertar até R$ 50 bilhões para o plantio, a colheita e a comercialização da safra de 2021/22, ante os R$ 35 bilhões liberados na safra que está se encerrando.
“Estamos falando de um setor que representa quase 25% do PIB (Produto Interno Bruto). Assim como é estratégico para o país, é estratégico também para o sistema financeiro”, diz Roberto França, diretor de Agronegócio do Bradesco. Ele ressalta que o apetite pelo campo é tamanho que, nos últimos 10 anos, a participação do banco no crédito agrícola dobrou, chegando a 9%.
França conta que, neste ano, o Bradesco financiou quase três vezes mais o agronegócio do que o limite mínimo, de R$ 12,5 bilhões, determinado pelo Banco Central por meio do direcionamento de parte dos depósitos à vista detidos pela instituição. “Estamos usando muito mais recursos próprios no crédito rural. E os resultados são ótimos, com inadimplência inferior a 2%”, afirma.
Diante do crescimento contínuo da agricultura, a competição entre os bancos no crédito rural tende a se acirrar. Para o diretor do Bradesco, a digitalização das operações permite que todos cheguem aos produtores de várias partes do país. Agora, é importante que os projetos em busca de crédito tenham forte compromisso com o meio ambiente. Disso, o banco não abre mão.
Mais auditores agropecuários
Com o reconhecimento oficial das zonas livres da febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), o Brasil tem novos desafios para manter áreas do Paraná, do Rio Grande do Sul, do Acre, de Rondônia e de parte do Amazonas e do Mato Grosso em permanente vigilância a fim de evitar infecções pelo vírus da aftosa, sem a vacinação.
Entre outras medidas, será preciso contratar mais auditores fiscais federais agropecuários para atuar nesses estados, segundo avaliação do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical). “Precisamos de uma equipe mais robusta para atender esta importante demanda”, diz Janus Pablo de Macedo, presidente da entidade.
Ele afirma que o pedido feito pelo sindicato já foi enviado pelo Ministério da Agricultura à pasta da Economia, para o reforço de, aproximadamente, 350 fiscais.