Violência

Sábado de terror: suspeito de assassinatos leva tiros e perseguição ao entorno

Policiais do Distrito Federal e de Goiás fizeram uma força-tarefa para encontrar o foragido, que voltou a atacar ontem. Desta vez, as vítimas são moradoras de Cocalzinho de Goiás, a 105 km de Brasília. Corpo de empresária sequestrada no Incra 9 é encontrado

Rodrigo Craveiro
Darcianne Diogo
Ana Maria da Silva
Ádamo Dan
postado em 13/06/2021 06:00
Policiais montaram um ponto de bloqueio entre Águas Lindas de Goiás e Edilândia e fizeram buscas no matagal -  (crédito: Darcianne Diogo)
Policiais montaram um ponto de bloqueio entre Águas Lindas de Goiás e Edilândia e fizeram buscas no matagal - (crédito: Darcianne Diogo)

Quatro mortos, três feridos e uma perseguição policial que começou no Distrito Federal e prosseguia, na noite de ontem, em Goiás. Lázaro Barbosa Sousa, 33 anos, suspeito de cometer um triplo homicídio no Incra 9, Ceilândia, na madrugada de quarta-feira, trocou tiros com a polícia e invadiu outra chácara, próximo à Lagoa Samuel, em Cocalzinho de Goiás, a 105 km de Brasília. Na propriedade, ele baleou três pessoas, roubou duas armas e munições e conseguiu fugir. O foragido é acusado de assassinar os empresários Cláudio Vidal, 48, e Cleonice Marques, 43, e os dois filhos do casal, Gustavo Marques Vidal, 21, e Eduardo Marques Vidal, 15. O corpo da mulher foi localizado, ontem, em um córrego no Sol Nascente, a cerca de 8km da chácara onde a família morava.

A equipe de reportagem do Correio encontrou Thiago, uma das vítimas que só autorizou revelar o primeiro nome, saindo de dentro do Hospital Municipal Jair Paiva, no centro de Cocalzinho, ferido na perna. "Estávamos conversando, quando ele chegou invadindo, por volta das 19h, e atirando. Meus dois amigos ficaram muito feridos e eu fui baleado na perna", contou. Os outros dois homens foram socorridos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e transferidos para Anápolis (GO), em estado grave.

"Estou bem, mas vou passar no Hospital de Anápolis para ver meus amigos", disse. Thiago deu algumas características do suspeito. "Ele é alto, magro, moreno, estava de barba e vestindo bermuda", completou.
Próximo à chácara onde as três pessoas foram baleadas, Lázaro tinha invadido outra propriedade e passou à tarde de ontem no local. Segundo a mãe do caseiro deste imóvel, o suspeito chegou a obrigar as pessoas a prepararem refeições para ele, danificou o cabo de wi-fi e destruiu um carro pertencente à família. Policiais militares do Distrito Federal e de Goiás montaram uma força-tarefa e realizam rondas na região de Cocalzinho de Goiás. As buscas incluem varredura em chácaras e em matagais, além de bloqueio na BR 070 entre Águas Lindas de Goiás e Edilândia (GO), onde carros são revistados.

Encontrado o corpo

No começo da tarde de ontem, chacareiros e familiares de Cleonice Marques, 43 anos, dividiram-se em grupos e saíram em busca da mulher. A empresária, sequestrada na última quarta-feira, estava desaparecida havia mais de 72 horas e foi encontrada morta, nua e de bruços em um córrego dentro de uma mata, no Setor Habitacional Sol Nascente.

A empresária, proprietária de uma floricultura, foi raptada por volta das 2h da madrugada de quarta-feira. Lázaro arrombou a porta e invadiu a residência. Dentro da casa, ele obrigou os familiares a tirarem as roupas.

Enquanto Lázaro tentava entrar no imóvel, Cleonice conseguiu ligar rapidamente para o irmão pedindo socorro. O familiar chegou na chácara em pouco mais de 10 minutos, mas não encontrou a irmã e se deparou com os corpos do cunhado e dos sobrinhos. Mesmo agonizando, Cláudio alertou o cunhado: “Age rápido. Levaram a Cleonice”, disse segundos antes de morrer.

As forças de segurança do Distrito Federal iniciaram uma intensa busca pelo paradeiro da mulher e do suspeito. Foram usados cães farejadores, drones e helicóptero, os policiais entraram na mata. Inconformados com o caso, os próprios vizinhos de Cleonice e familiares mobilizaram-se e saíram pela região rural de Ceilândia para localizar qualquer vestígio que levasse até a empresária.

O presidente da Associação de Moradores do Incra 9, Robson Pereira, organizou a ação. Foram mais de 50 pessoas, que se dividiram em grupos e adentraram em chácaras e no matagal. “Toda a comunidade estava na esperança de encontrá-la viva. Montamos esse esforço porque estávamos impacientes em busca de respostas. Imaginávamos que ela pudesse estar em algum cativeiro, amarrada em algum lugar, mas viva”, afirmou.

Jackson Antero, 53, é produtor rural e morador da região. Ele, em companhia de cinco pessoas, encontrou o corpo de Cleonice, por volta de 12h. “Éramos amigos da família e tínhamos que fazer algo. Não dava para ficar parado. Estávamos entrando rumo à mata, em direção ao córrego, quando nos deparamos com o corpo dela, que estava nu”, detalhou.

Reconhecimento e choro

Quem também acompanhava as buscas era Ivan Rodrigues, 60, um dos irmãos da empresária. Foi ele quem reconheceu a irmã. “Tinha esperança de vê-la viva. Estávamos certos disso. Agora, estou sem chão, sem voz para falar. A única coisa que tenho a dizer é que minha irmã era uma pessoa amada, maravilhosa, de bom coração, caridosa e trabalhadora. Era ela que cuidava de toda a empresa”, lamentou, emocionado.
Os corpos do marido e dos filhos de Cleonice estão no Instituto de Medicina Legal (IML) e ainda não foram sepultados, pois a família esperava encontrar Cleonice para enterrá-los. “Agora, todos serão velados juntos. É tudo muito triste, mas me dá um pequeno alívio”, desabafou Ivan.

Segundo o irmão, Cleonice apresentava um hematoma na parte de trás da coxa e alguns ferimentos, com manchas de sangue. Ao redor do local onde ela foi encontrada, havia alguns preservativos e uma barraca amarela. “O cabelo dela era tão lindo e pelo que vimos lá, estava quase careca. Ele acabou com a vida da minha irmã. O que fez foi muita maldade”, disse o irmão.

Fuga

A área onde o corpo de Cleonice estava fica a cerca de 8km de distância da chácara onde ela morava com a família, no Incra 9. A 200 metros, uma casa está abandonada há mais de 15 dias. Não se sabe, no entanto, se o homem se escondeu no local. “Nossa equipe esteve nessa residência. As portas são soldadas, de modo que acreditamos que ele não teria entrado no imóvel”, contou o Major Adalton, da Polícia Militar, que atua no caso.

O rastro deixado por Lázaro

Após a chacina de quarta-feira, Lázaro Barbosa Sousa voltou a agir e roubou uma chácara nas proximidades, onde teria rendido o caseiro, o dono da chácara e a filha dele, que teve de fazer o almoço enquanto ele assistia ao jornal na TV. Depois disso, nova invasão a uma residência, no Incra 9. No local, fez três pessoas reféns e obrigou duas delas a fumarem maconha.

Durante a madrugada de sexta-feira (11), mais uma atividade criminosa. Após roubar um carro, ateou fogo e abandonou o veículo na cidade de Cocalzinho (GO).

Dono de uma extensa ficha criminal, Lázaro Barbosa de Sousa é suspeito de crimes brutais. Em abril do ano passado, após invadir uma chácara próxima a Santo Antônio do Descoberto (GO) e fazer quatro idosos reféns, ele teria desferido uma machadada na cabeça de um dos cativos. O homem não morreu, mas ficou com sequelas após a agressão.

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