Com mais de meio século desde a inauguração, a Estrada Parque Contorno (EPC) acumula um histórico de reformas, mas, também, de reclamações. A rodovia é a maior do Distrito Federal e, atualmente, o Departamento de Estradas e Rodagem (DER-DF) aguarda uma licença ambiental para asfaltar o último trecho sem pavimentação da DF-001. A região liga o Pistão Norte de Taguatinga ao Lago Oeste. A equipe do Correio percorreu, na última semana, diversos locais da via, entre eles o trecho de terra, entre a DF-220 — condomínio Morada dos Pássaros, em Brazlândia —, e a DF 170 — começo do Lago Oeste — que dificulta a passagem de caminhões pesados.
A DF-001 foi criada em 1964, com extensão de 131,8 km. A partir dela, partem as rodovias federais radiais e, por isso, as vias que a cortam são chamadas de Estradas Parque. Do total, 124,7km (95%) estão asfaltados, sendo que, segundo o DER-DF, 45,9 km são de pista dupla. O superintendente de obras da autarquia, Cristiano Cavalcante, explica que, desde a criação dela, a DF-001 passa por intervenções. “Temos uma manutenção anual distribuída pela rodovia e monitoramos diariamente a questão de congestionamento e os locais com risco de acidentes. Trabalhamos na questão da manutenção, drenagem e sinalização”, esclarece. Ao longo deste ano, a DER-DF já entregou a obra de pavimentação de 8,2 km de rodovia entre a DF-430 e a DF-220, um investimento de R$14,5 milhões, que beneficiou cerca de 40 mil produtores da região, além dos 35 mil motoristas que utilizam o trecho diariamente.
Até o fim deste ano, o DER pretende finalizar a obra de alargamento da rodovia entre o fim do Pistão Norte e o conhecido Balão do Texas, que está com 75% do projeto concluído. O investimento, até agora, foi de R$4,4 milhões. Segundo relata o superintendente de obras do DER-DF, Cristiano Cavalcante, os 7,1km ainda não asfaltados estão na mira de projetos futuros. “Estamos relativamente acelerados em relação a isso, mas precisamos da autorização dos órgãos ambientais, como o Ibram (Instituto Brasília Ambiental) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Ainda não temos um prazo, porque dependemos da análise desses órgãos para conseguir a licença de pavimentação do restante do trecho”, justifica.
Proprietário da Agropecuária Lago Oeste, às margens da rodovia, Israel de Souza, 26 anos, confirma que o trecho precisa de melhorias. “Os caminhões de entrega e os motoristas evitam o trecho sem asfalto, pois embora seja uma rota mais rápida para chegar a Taguatinga, quem está com uma carga pesada prefere não arriscar. Muitas vezes, eles dão a volta para evitar esse pedaço”, relata. Israel também cita outro problema: “temos a ciclovia ao lado da DF-001, mas o acesso às ruas do Núcleo Rural passa pela passagem dos ciclistas, o que torna esses pontos perigosos. Além disso, algumas sinalizações estão pichadas e até ilegíveis.”
Curvas e perigo
A rodovia da DF-001 abriga um dos trechos mais perigosos do trânsito da capital entre a subida da barragem do Lago Paranoá, no Lago Sul, e a entrada para a Ponte JK. De acordo com o relatório de acidentes do Departamento de Trânsito (Detran-DF), entre 2012 e abril de 2021, foram registrados 48 acidentes com morte no local. O trecho, contudo, apresenta queda do número de acidentes ao longo dos últimos anos.
Para diminuir o risco de mortes na via, o DER-DF empregou barreiras New Jersey (blocos de concreto) na divisão dos fluxos de carros. Devido às curvas sinuosas e à baixa visibilidade, durante o trajeto, os motoristas são alertados com placas de “perigo”, “devagar” e “alto índice de acidentes”. O DER-DF explica que a ideia é alargar o trecho da rodovia para diminuir os riscos de colisões fatais.
No entanto, o professor do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de Brasília Hartmut Gunther ressalta que duplicar ou alargar uma via não deve ser a única ação adotada. “Geralmente, isso aumenta o fluxo de carros, mas não resolve o problema. É importante que o motorista seja cauteloso, reduza a velocidade e, de fato, ocorra policiamento e monitoramento por radar. Os radares são os melhores meios para fazer com que os motoristas adotem uma postura mais cautelosa e respeitem as regras de sinalização”, esclarece.
Desenvolvimento
Para os moradores de alguns pontos da DF-001, como do Núcleo Rural Lago Oeste, um problema enfrentado é a falta de opção no transporte público. Eliene dos Santos Guimarães, 27 anos, balconista, reclama da demora entre os ônibus. “Alguns Ubers não aceitam entrar no Núcleo Rural devido a estrada de chão, então, mesmo que eu pegue um carro por aplicativo, eu fico esperando aqui na entrada do Núcleo Rural até que alguém venha me buscar”, relata Eliene. Segundo ela, para o Plano Piloto, os moradores só têm um ônibus, que passa uma vez pela manhã e outra no fim da tarde. “A via também sofre com falta de iluminação, não temos muita segurança nesse sentido”, destaca.
Questionada, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) disse que os moradores do Lago Oeste são atendidos por três linhas de ônibus, que fazem cerca de 17 viagens por dia. “A oferta do transporte público é oferecida de acordo com a demanda. No caso da região do Lago Oeste, foi identificada uma demanda muito baixa. Caso haja a necessidade de mais opções, os usuários podem solicitar mais linhas e horários de ônibus por meio do telefone 162 ou pelo site de ouvidoria do GDF”, defende a pasta.
Apesar dos desafios que a via enfrenta, Mônica Blanco, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do DF (CAU-DF), esclarece que a DF-001 desempenha bem o papel de desenvolvimento urbano. “O que define uma cidade é a geometria viária que ela tem e a qualidade do espaço urbano. O progresso econômico passa por essa questão de qualidade das rodovias, pois isso atende os produtores rurais, desafoga o tráfego de veículos pesados das demais vias, e também diminui a poluição dentro da cidade. A DF-001 favorece a circulação de matéria-prima de toda a produção”, explica.
Proteção Ambiental
Ao longo da DF-001, devido a via passar por trechos de vegetação e reserva ambiental, a rodovia possui nove passagens de fauna ao longo dos 131,8 km de extensão. Três estão instaladas no trecho compreendido entre a DF-095, chamada de Estrada Parque Ceilândia (EPCL), e a entrada de acesso da BR-080, caminho para Brazlândia. Outras seis passagens são localizadas no trecho entre a DF-430 e a DF-220, na Morada dos Pássaros, próximas à Floresta Nacional de Brasília. As passagens são em forma de túneis subterrâneos para a travessia dos animais silvestres. O Ibram destaca que as passagens são fundamentais para garantir o fluxo da fauna entre os dois lados da via. “Para isso é feito um estudo técnico dos pontos para determinar quais trechos podem ser usados. Algumas vezes o animal atropelado são aves ou répteis, e nesses casos é preciso adotar outras estruturas e medidas”, informa o Ibram.
O Instituto cita, por exemplo, o uso de redutores de velocidade, cercas altas que impedem que as aves voem na pista, mata-burros, placas de sinalização e campanhas para sensibilizar motoristas e sociedade sobre os cuidados nestes trechos. Devido às últimas cinco passagens terem sido instaladas recentemente, o Ibram explica que ainda não possui os dados comparativos para avaliar, desde já, a eficácia da estrutura. “Para fazer um levantamento que revela se houve ou não redução de mortes de animais em estradas, a partir da adoção de passagem de fauna, é necessário que exista um lapso temporal adequado, de pelo menos um ano, mas a expectativa é que o número seja reduzido”, informa.
Risco
Confira número de acidentes com morte na DF-001 no Lago Oeste nos últimos três anos:
- 2020: 7
- 2019: 16
- 2018: 20
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