ECONOMIA

Mesmo na pandemia, mercado de itens de luxo ganha força no Distrito Federal

Em busca de alternativas para driblar o confinamento e desfrutar de um lazer seguro e com manutenção do distanciamento social, consumidores com alto poder aquisitivo em Brasília se voltaram para os segmentos de itens como embarcações e motorhomes

Jéssica Moura
postado em 06/06/2021 06:00 / atualizado em 06/06/2021 06:39
Devido à alta demanda por barcos e lanchas, quem pretende comprar uma embarcação no DF terá que esperar na fila até meados de 2022 -  (crédito: Minervino Junior/CB/D.A Press)
Devido à alta demanda por barcos e lanchas, quem pretende comprar uma embarcação no DF terá que esperar na fila até meados de 2022 - (crédito: Minervino Junior/CB/D.A Press)

Com a maior renda per capita do país, Brasília é terreno fértil para o chamado mercado de luxo. A cidade, que no primeiro momento da pandemia viu crescer a procura por imóveis de alto padrão, fossem casas com amplas áreas de lazer ou apartamentos com varandas gourmet e vista livre, agora observa o crescimento de outros segmentos. Como forma de escapar, em segurança, dos limites impostos pelo coronavírus e das medidas de distanciamento social, o brasiliense está de olho nos barcos e nos motorhomes.

A especialista em negócios de luxo Malu Albertotti explica que, depois de um período de retração causado pelo fechamento de lojas, o mercado de luxo vislumbra uma retomada dos lucros, iniciada no 3º e no quarto trimestre do ano passado. “Observamos que o potencial de compra e a valorização de produtos e serviços de luxo continua existindo”, afirma.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a renda per capita no DF é de R$ 2.475, a maior do país, e propícia para a expansão desse mercado, que encontra consumidores na capital federal mesmo em meio à pandemia de coronavírus. O segmento envolve diversos setores, como bens de uso pessoal, carros, hospitalidade, viagens e turismo, bebidas e gastronomia, além do setor de transportes, como as embarcações e carros.

Malu Albertotti ressalta que, historicamente, os motivadores do consumo de luxo são mantidos mesmo em meio a crises. “Independentemente das circunstâncias econômicas, as pessoas continuam buscando preencher o desejo por diferenciação, status e conexão pessoal significativa. O consumidor continua vendo o valor de produtos e serviços diferenciados”, observa.

  • Alexandre Figueiredo aproveita os dias de sol no Lago Paranoá
    Alexandre Figueiredo aproveita os dias de sol no Lago Paranoá Carlos Vieira/CB/D.A. Press

Embarcações

Embora esteja localizada a mais de mil quilômetros do litoral, Brasília possui a quarta maior frota náutica do país e a procura por embarcações está aquecida. Conforme dados da Associação Náutica Brasileira, o mercado de embarcações de luxo cresceu 30% em 2020. Na Capitania Fluvial de Brasília (CFB), que abrange o DF e 46 municípios goianos, o contingente tem aumentado ao longo dos últimos anos. Em 2020, eram 54.534 embarcações; neste ano, 55.159 — aumento de 1,14%.

Gerente de uma marina em Brasília, Julio Antunes observou o crescimento na procura de lugares para guardar os barcos em 2020. “A demanda foi superior a 2019”, diz. Porém, destaca redução na procura pelos serviços em relação ao ano passado. O que se explica pela falta de novas embarcações disponíveis no mercado. “Não tem, e o que chega, já está encomendado”, afirma Julio. A lista de espera por lanchas vai até fevereiro de 2022.

Os veículos náuticos têm preços variados, que partem da casa dos R$ 20 mil, no caso das canoas. Entre as lanchas, a diferença depende da capacidade da embarcação. Um barco pequeno, para seis pessoas, custa cerca de R$ 120 mil. As lanchas de porte médio, com capacidade para 10 ocupantes, chegam a R$ 220 mil. As maiores, que podem levar até 12 passageiros, saem por R$ 500 mil, em média.

Há ainda a opção do aluguel de embarcações, com valor mais em conta. “Esse tipo de atividade está voltando aos poucos”, explica o capitão da reserva, Luciano Abreu e Lima, dono de uma empresa de aluguel de lanchas. O custo parte de R$ 300 por hora para trafegar no Lago Paranoá.

Os barcos têm autorização para transitar em todo o território nacional, e, no contexto de confinamento e isolamento social, tornaram-se uma alternativa segura para passeios. O empresário Alexandre Figueiredo, 35 anos, sai de lancha no Lago Paranoá quase todo o fim de semana com a esposa e amigos. “A gente vai na hora do almoço e volta de noite. A gente acaba saindo para fazer churrasco com a família. Ficamos nadando, jogando conversa fora”, conta.

Com isso, os passeios na água são uma forma de espairecer em meio ao confinamento, destaca o bancário Felipe Nóbrega, 35. “É um escape. Comprei a lancha na pandemia e passei a usar mais com a família. É um conforto a mais. Vamos para perto da barragem, a água é bem limpa e é bem fundo, a vista é bonita, tem bastante mata. O bom é que a gente consegue conviver com pessoas próximas em ambiente aberto e seguro”. Ele decidiu comprar a lancha em meio à pandemia, em novembro. “Não é realmente uma coisa barata, mas tem alternativas. Se souber o quanto deve pagar, não perde dinheiro”.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Casas sobre rodas ganham espaço

Magali Barbiani e Ricardo Figueiredo, donos da única locadora de motorhome na capital do país, comemoram agenda cheia até novembro -  (crédito: MINERVINO JUNIOR                    )
crédito: MINERVINO JUNIOR

Com a pandemia, a cidade viu prosperar um negócio que faz sucesso no Brasil e no mundo: o motorhome. A opção de levar a casa sobre quatro rodas ou, simplesmente, ter a possibilidade de um novo estilo de vida tem atraído um público cada vez maior. Desde que a pandemia começou, quatro empresas do segmento se instalaram no Distrito Federal. Durante a pandemia de covid-19, em vez de passar o confinamento no mesmo lugar, muitos brasilienses têm optado por esse tipo de viagem, o que possibilita alterar a paisagem diária sem a necessidade de gastos com hotel ou deixar de lado itens que consideram importantes para o dia a dia.

“Essa procura já vinha em crescimento, mas a pandemia acirrou isso”, frisou a presidente da Associação Nacional de Campistas, Nilva Rios. “O perfil antes era muito centrado em quem estava aposentado e tinha mais tempo livre. A gente já estava vendo essa mudança para pessoas mais jovens e famílias com crianças. Na pandemia, esse perfil se modificou”, avalia.

O casal de engenheiros Gabriella e Marcelo Botelho, 47 e 50 anos, trabalha em um escritório dentro de casa desde o início do ano passado. Cansados da rotina, decidiram colocar a mão na massa e construir o próprio motorhome e mudar de ares. No fim do ano, a dupla pretende começar a viagem fazendo paradas dentro do próprio DF. Na sequência, vão expandir os horizontes para as cidades do Entorno e o litoral do país.

Para reduzir os custos, eles compraram uma ambulância em um leilão da secretaria de Fazenda. “A garagem virou uma oficina”, conta Gabriella. Mini-geladeira, climatizador, cama e porta-porte (o sanitário dos motorhomes) foram comprados com o dinheiro da venda de um carro e vão compor a “casa nova”. O cantinho da cachorra Lara, 11 anos, também está reservado.

“A família toda olha como uma coisa maluca. Dizem que somos doidos de sair de uma casa para um carro sem conforto”, afirma o major André Rangel, 50, do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF). A poucos dias da aposentadoria, ele resolveu resgatar o sonho da juventude. Devido ao custo elevado de comprar um motorhome pronto, que pode chegar a R$ 500 mil, André também preferiu construir a casa sobre rodas de maneira artesanal, e o investimento total foi de R$ 135 mil.

Ele defende que para sair de motorhome, é essencial “ter espírito de aventura”. Segundo André, “essa incerteza da viagem é bem diferente de viajar de avião com hora marcada. O que vai acontecer, a gente não sabe”, diz. Os planos dele e da esposa são de passar três anos na estrada, cruzando o Brasil. “A gente não tem dia para sair dos lugares. Se está gostoso e bacana, vamos ficando”, afirma.

Aluguéis

Para quem quer sentir o gostinho de levar a casa para a estrada, mas não quer investir na compra de um motorhome, uma opção é o aluguel do carro. No DF, a única empresa de locação dessas vans foi aberta em janeiro pelo casal Magali Barbiani e Ricardo Figueiredo. A agenda de locações está preenchida até novembro. “A procura nos espantou, porque temos um carro só”, diz Magali. As diárias variam conforme a temporada, mas o valor inicial é de R$ 600. Quanto mais tempo o cliente fica com o carro, há descontos progressivos. Para contratar o serviço, é preciso ter mais de 26 anos e, pelo menos, cinco anos de habilitação.

Outra opção é construir o veículo do zero para convertê-lo em casa. “A configuração da casa dentro do carro é que vai ditar o custo”, alerta Vilson Oliveira, dono de uma das quatro empresas que constroem os motorhomes no DF. Assim, montar o próprio veículo pode representar um gasto que varia de R$85 mil a R$110 mil, por exemplo. Além da procura, a subida do dólar também impacta esse mercado, já que muitas peças são importadas. Vilson explica que já tem contratos fechados até 2022. “Meu faturamento chegou a aumentar em 38% em seis meses. Temos agora previsão de aumento de mais 27% daqui para o final do ano. Não estou em um momento ruim, estou em um momento ótimo”, avalia. “O mercado tem muito espaço para crescer, falta concorrência”, afirma.

A estimativa da Associação de Campistas é que o DF tenha 300 equipamentos de motorhomes. Em todo o Brasil, esse número pode chegar a 40 mil. Apesar disso, a capital federal não tem espaço de camping. “A gente tenta manter o campismo mesmo sem a estrutura”, diz Nilva Rios. “Essa é uma demanda antiga para a cidade. Brasília, como a capital, deveria ter esse espaço, que valoriza a cidade e é mais uma opção para receber pessoas”, completa.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação