Cultura

Centro de Ceilândia terá muro de grafite com 250 m²

Grupo de grafiteiros 1V2M (Uma vida, dois mundos) faz desenhos de pontos famosos da cidade, como a Caixa D’Água, a Feira Central, a Casa do Cantador e o muro lateral do Fort Atacadista

Pedro Marra
postado em 02/06/2021 06:00 / atualizado em 02/06/2021 19:06
Mauricio Nunu (E), Carlos Astro e Edinho Pudo, do 1V2M (Uma vida, dois mundos): Ceilândia como galeria  -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Mauricio Nunu (E), Carlos Astro e Edinho Pudo, do 1V2M (Uma vida, dois mundos): Ceilândia como galeria - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Para valorizar os pontos e os costumes tradicionais de Ceilândia, um grupo de grafiteiros e moradores da cidade fez desenhos em todos os 250m² da fachada lateral de um atacadista da cidade. Os artistas do 1V2M (Uma vida, dois mundos) desenharam elementos como a Caixa D’Água, a Feira Central, o tradicional dominó no centro, comércios, bares e a emblemática Casa do Cantador.

Coordenador do grupo, o morador de Ceilândia Norte Carlos Washington Corrêa, 39 anos, conhecido como Carlos Astro, diz que seis grafiteiros terminaram o desenho entre 13 e 26 de maio com 200 latas de spray, no Fort Atacadista, em Ceilândia Centro, um cartão-postal. “Para nós, Ceilândia é uma galeria a céu aberto. É você dar uma volta na sua cidade e conseguir ver cor, em todos os lados. É bom ver um pouco de beleza. Acho que o grafite traz isso”, afirma Carlos, há 30 anos no ramo. Ele destacou também a valorização da arte durante a pandemia. 

Segundo o fundador do 1V2M, criado em 2001, o objetivo do desenho no centro da cidade é gerar empatia com os moradores locais. “Fizemos a arte dentro da proposta de incluir a comunidade, além de mostrar que eles abastecem o atacado e o varejo, pois ajudam os pequenos comerciantes. Este ano, fazemos 20 anos de crew (grupo)”, explica Carlos Astro.

“Já fui pichador, até que, em 2001, com o projeto Picasso não pichava, descobri o quanto é bom sair do risco e ganhar dinheiro trabalhando na minha cidade. Com o grafite comercial, você sai da violência, das drogas e da morte. E aqui é uma parceria bacana, porque o Fort abastece a nós, moradores, que compramos no varejo, e também ajuda o microempreendedor a trabalhar. É o tio do algodão-doce, a boleira, o vendedor do espetinho, de hot dog que têm suas compras facilitadas, com bons preços e qualidade”, complementa.

Quem pintou as frutas da feira foi Maurício Carvalho, 39, que começou a grafitar por meio do movimento hip-hop, mas depois começou a pintar telas e muros com pincel. “Carlos me convidou para misturar as artes plásticas com a arte urbana. Para mim, foi gratificante poder trazer para a rua algo tão representativo para nossa cidade. Não preciso me prender a uma galeria dentro de um espaço. Posso expressar a minha arte no concreto, na rua, para todo mundo”, pontua Lulu, como é chamado.

Outro grafiteiro do 1V2M é Edson Davi, 40, chamado de Edynho pelos amigos. Ele faz grafite desde 2000 e se diz orgulhoso em poder divulgar a cultura hip-hop, que tem Ceilândia como berço no DF. “As cores e o lugar aberto chamaram a atenção das pessoas enquanto a gente grafitava. Muita gente que nos conhece viu e nos elogiava quando passavam na rua. É a arte da nossa cidade. Por onde você passa, em Ceilândia, vê as coisas grafitadas, desde uma empresa a um carrinho de picolé tem o toque do grafite. É uma satisfação ter a minha arte no centro da cidade, porque sou filho de Ceilândia”, relata.

  • Na foto Mauricio Nunu (sem boné) Carlos Astro (máscara preta) e Edinho Pudo (máscara colorida)
    Na foto Mauricio Nunu (sem boné) Carlos Astro (máscara preta) e Edinho Pudo (máscara colorida) Ed Alves/CB/D.A Press.
  • Os artistas do 1V2M (Uma vida, dois mundos) desenharam elementos como a Caixa D’Água, a Feira Central, o tradicional dominó no centro, comércios, bares e a emblemática Casa do Cantador
    Os artistas do 1V2M (Uma vida, dois mundos) desenharam elementos como a Caixa D’Água, a Feira Central, o tradicional dominó no centro, comércios, bares e a emblemática Casa do Cantador Ed Alves/CB/D.A Press.
  • Os artistas do 1V2M (Uma vida, dois mundos) desenharam elementos como a Caixa D’Água, a Feira Central, o tradicional dominó no centro, comércios, bares e a emblemática Casa do Cantador
    Os artistas do 1V2M (Uma vida, dois mundos) desenharam elementos como a Caixa D’Água, a Feira Central, o tradicional dominó no centro, comércios, bares e a emblemática Casa do Cantador Ed Alves/CB/D.A Press.
  • Os artistas do 1V2M (Uma vida, dois mundos) desenharam elementos como a Caixa D’Água, a Feira Central, o tradicional dominó no centro, comércios, bares e a emblemática Casa do Cantador
    Os artistas do 1V2M (Uma vida, dois mundos) desenharam elementos como a Caixa D’Água, a Feira Central, o tradicional dominó no centro, comércios, bares e a emblemática Casa do Cantador Ed Alves/CB/D.A Press
  • Mauricio Nunu (E), Carlos Astro e Edinho Pudo, do 1V2M (Uma vida, dois mundos): Ceilândia como galeria
    Mauricio Nunu (E), Carlos Astro e Edinho Pudo, do 1V2M (Uma vida, dois mundos): Ceilândia como galeria Ed Alves/CB/D.A Press

Outra unidade

Gerente de Operações do Fort Atacadista no Centro-Oeste, Ademar Guido enfatiza a intenção de inserir a empresa na sociedade. “É uma iniciativa para buscar as características que tem na região e fazer com que as pessoas da comunidade se identifiquem com a loja. A gente está contando o que tem de melhor em Ceilândia, para a comunidade se identificar com a loja e entender que ela faz parte desse povo. Apesar de ser uma empresa grande, essa unidade está localizada no coração da cidade”, comenta Ademar.

Além da unidade de Ceilândia Centro, os grafiteiros do 1V2M também fizeram um desenho no Fort do Sol Nascente, em outubro de 2019. A empresa organiza o orçamento para um novo grafite, no atacadista de Taguatinga. “Estamos vendo essa possibilidade. Lá também tem uma fachada lateral que a gente está estudando qual arte iremos escolher. Provavelmente, nos próximos dias, teremos na loja. Então, todas as unidades estarão identificadas no seu arredor”, acrescenta o gerente de operações do Fort Atacadista.

Outros seis grafiteiros elaboraram o desenho no muro da empresa. São eles: Kelton Besty, 40, Wesley Leley, 45, e Jorge Rabisko, 22. A loja do Fort Atacadista de Ceilândia passou de 2.800 metros para 3.500 metros quadrados. Além disso, instalou o Açougue Carne Fresca, que oferece opções de cortes de carnes fracionadas e em bandejas. A reforma da loja segue em andamento, e a reinauguração está prevista para este mês.

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