Criado com o objetivo de comprar e distribuir máscaras e marmitas de empreendedores com dificuldades por conta da pandemia de covid-19, o projeto S Solidário completou um ano com mais ações de solidariedade. Em maio de 2020, a ideia de comprar marmitas de um pequeno restaurante e doar em comunidades surgiu de uma conversa entre dois amigos. Desde lá, a proposta já beneficiou mais de 3 mil pessoas e mobilizou mais de 800 voluntários, entre doadores e participantes nas ações.
No último sábado (29/5), as comemorações de um ano do projeto foram marcadas com mais solidariedade. O grupo realizou a distribuição de cobertores e agasalhos no Morro do Sabão, comunidade que abriga centenas de famílias em Samambaia.
Em uma postagem nas redes sociais, o conjunto relembrou a primeira ação: “Saímos com 100 marmitas no porta-malas. Éramos apenas quatro pessoas, numa manhã fria de maio. Não tínhamos camiseta com logomarca e tampouco experiência com projeto social. Só muita vontade de agir para ajudar”.
O foco inicial eram apenas as marmitas e as máscaras, compradas de costureiras autônomas, nas regiões do Plano Piloto. O projeto se desenvolveu e agora também trabalha com ações especiais para arrecadar e distribuir cestas básicas, kits de higiene, brinquedos, fraldas e leite.
O grupo também procurou ajudar locais mais carentes com menor atenção de programas sociais. Atualmente, cinco comunidades são ajudadas. Elas estão localizadas na Estrutural, SIA, Samambaia e Recanto das Emas.
Já foram compartilhadas 3,9 mil marmitas e 2.450 máscaras de tecido. Além disso, quase 900 contribuições com o projeto já foram realizadas, arrecadando mais de R$ 64 mil.
As doações para o conjunto podem ser feitas por meio da conta 122140-0, na agência 1004-9 do Banco do Brasil. Contribuições também são possíveis com transações no Pix: sdesolidario@gmail.com. A cada R$ 10 doado, você ajuda com uma marmita.
Confira entrevista com Larissa Meira, fundadora do projeto:
Como surgiu o projeto? Quais são os seus objetivos e metas?
O S Solidário surgiu em 30 de maio de 2020. Nasceu da conversa entre amigos que estavam preocupados com o aumento da quantidade de moradores em situação de rua pelo DF. Pensamos, então, em distribuir comida e também ajudar o pequeno restaurante que fornece refeições em nosso trabalho (somos do Sebrae e já estávamos em home office há dois meses, na época). O Paulinho, dono do restaurante, topou na hora, estava sem caixa, pois toda sua renda (e dos 11 funcionários do Ponto Gourmet) vinha das refeições e lanches que vendia no Sebrae. Fechamos o preço em 10 reais por marmita e daí surgiu a nossa missão: ajudar pequenos negócios em dificuldade na pandemia e distribuir quentinha e doações em comunidades em situação de vulnerabilidade do DF.
Também sentimos necessidade de ajudar na distribuição de máscaras e identificamos três costureiras autônomas, que estavam vendendo máscaras de tecido para complementar a renda. As máscaras saíam a 4 reais, cada. A primeira entrega, no dia 30 de maio, tinha apenas quatro pessoas. Não tínhamos experiência com projeto social e levamos mais de três horas rodando de carro (chegamos a fazer duas viagens para levar todas as marmitas) em busca de pessoas precisando de alimento, passando pelo Setor Comercial Sul, Rodoviária, Setor de Embaixadas e Torre de TV. Nosso compromisso, desde sempre, era com o desperdício zero. Nenhuma marmita podia voltar para casa.
Algumas semanas depois, percebemos que o Plano Piloto estava bem abastecido por outros projetos sociais e começamos, então, a mapear comunidades na periferia. Ali, encontramos centenas de famílias em extrema dificuldade, vivendo apenas do auxílio emergencial e de doações esporádicas. Em sua maioria, eram catadores de latinhas, diaristas e prestadores de serviços gerais, que estavam desempregados durante a pandemia. Desde então, as entregas de sábado são revezadas entre duas comunidades na Santa Luzia (Estrutural), Morro do Sabão (Samambaia), Buracão (SIA) e Favelinha (Recanto das Emas).
Qual o balanço até aqui?
Fechamos o primeiro ano do projeto com a distribuição de 3.955 marmitas, 2,8 mil máscaras, centenas de garrafas dágua, kits de higiene, roupas, sapatos, brinquedos, fraldas, leite, cestas básicas e cobertores. Para o evento de um ano, por exemplo, arrecadamos verba para a compra de 300 cobertores (que serão entregues ao longo do inverno, além dos 160 que levamos ao Morro do Sabão, no dia 29).
Quando começamos, não imaginávamos que o projeto (e a própria pandemia) duraria tanto. É um aprendizado constante e extremamente engrandecedor e gratificante. Costumo falar que, para além das doações e marmitas, distribuímos afeto. Pois é isso que também recebemos de volta dessas pessoas tão excluídas da sociedade. Quando chegamos lá, trocamos sorrisos, olhares, conversamos... Eles se sentem vistos e o amor que devolvem é sempre emocionante.
Quais as metas para o futuro?
Para o futuro do projeto, queremos reforçar e ampliar a rede de voluntários e parceiros para oferecer, além das doações e quentinhas, serviços às famílias assistidas, assim que a pandemia permitir (entre cortes de cabelo, aplicação de flúor). Também estamos estruturando um projeto para mapear habilidades empreendedoras nas comunidades e apoiá-los na geração de renda. Temos as ferramentas do empreendedorismo, é questão de incentivá-los na capacitação.
Atualmente, como funcionam os trabalhos e atividades? Quantas pessoas são ajudadas e quantas trabalham com isso?
As entregas ocorrem sempre aos sábados. Temos atualmente 18 pessoas no time fixo do projeto e contamos com mais 20 pessoas no apoio. São voluntários que nos procuram oferecendo ajuda nas entregas, reforço na divulgação e mobilização para arrecadar itens doados ou cestas básicas. Semanalmente, fazemos uma reunião on-line, para definir o local da ação, a quantidade de marmitas e doações e o time que participará da entrega. Também recebemos indicação de novas comunidades e contamos com a atuação do Rafael, um dos voluntários, para mapear a região, levantar as necessidades e quantidade de famílias assistidas. Já realizamos quatro rifas para arrecadar recursos e o bacana é que foram doações espontâneas (uma Barbie de colecionador, um controle wireless, um book de fotos e cestas de chocolates). Utilizamos o Instagram para divulgar, prestar contas aos nossos apoiadores e sensibilizar as pessoas para o lado humano das entregas. As redes sociais (e o noticiário) já estão povoados de muita tristeza. Assim, optamos por contar as histórias das entregas de forma humanizada e acolhedora. Já mobilizamos 863 doadores. E somos extremamente gratos pela confiança de todos.
Quais são as maiores dificuldades do projeto?
A pandemia de covid é uma das dificuldades que encontramos. Apesar de ter sido o contexto que motivou a criação do projeto, a covid-19 nos impede de fazer eventos presenciais para arrecadar mais fundos e até de reunir as famílias em uma palestra sobre formalização de negócios, por exemplo. Já tivemos baixas esporádicas no caixa também. Foi quando optamos por suspender a compra e distribuição de máscaras e água, pois entendemos que a fome é mais urgente e precisávamos priorizar as marmitas.
Como alguém pode ajudar?
As ajudas podem ocorrer de formas diversas: doações em dinheiro; doações diversas (roupas, agasalhos, sapatos, cobertores, alimentos, fraldas, cestas básicas, itens de casa) são muito bem-vindas; e participação nas entregas, que ocorrem sempre aos sábados, com concentração no Sebrae (605 Sul). Basta nos acionarem pelo direct do Instagram, que damos as instruções.
* Estagiário sob supervisão de Mariana Niederauer