Foram três meses sem receber exposições de artistas renomados, palestras, mostra de filmes, seminários e eventos devido à pandemia do novo coronavírus. O rugir das portas que se abrem é motivo de alegria para os apaixonados por arte e história que desejam visitar os espaços culturais públicos de Brasília: a partir de hoje, sete equipamentos, entre museus e galerias, retomam as atividades.
Desde 28 de fevereiro sem funcionar, os espaços suspenderam as visitas em consonância com as medidas restritivas da capital. A decisão pela reabertura foi publicada na última segunda-feira, no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) e será coordenada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). Dentre os contemplados pela decisão estão o Museu Nacional da República, o Museu Vivo da Memória Candanga, o Espaço Lúcio Costa, o Museu da Cidade, duas galerias do Espaço Cultural Renato Russo, o Museu de Arte de Brasília (MAB) e o Panteão da Pátria.
De acordo com o titular da pasta, Bartolomeu Rodrigues, o momento de reabertura é adequado, uma vez que alguns segmentos do entretenimento voltaram a receber o público. “Tem se falado tanto em terceira onda, que abrimos com certo receio, mas sempre com os cuidados. Outros setores também reabriram na área de entretenimento. Era natural abrirmos os espaços culturais. Aliás, de todos que tiveram a flexibilização permitida, os museus são os locais mais seguros, porque permitem entrada limitada de pessoas em espaços grandes. O Museu da República é um exemplo. O risco de contaminação é bem menor”, garante.
Apesar da permissão para abertura, alguns permanecerão fechados. É o caso do Memorial dos Povos Indígenas, do Museu do Catetinho, da Concha Acústica e da Parque do Museu Vivo da Memória Candanga. Segundo o secretário Bartolomeu Rodrigues, são locais que estão passando por reformas, e não há preparo para receber visitantes. “O nosso objetivo era abrir todos, mas ainda estão passando por algum ajuste na estrutura, obras internas. Quando encerrarem estes ajustes, os locais serão reabertos”, ressalta.
Para o secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, a reabertura é de extrema importância em meio ao período de pandemia. “Toda atividade cultural, independentemente de ser museu ou não, é considerada um termômetro de como a população está reagindo psicologicamente perante o que estamos vivendo. Há uma vontade reprimida muito grande de sair. Os museus são locais que servem para espairecer. Entregar isso à sociedade é uma forma de participar deste momento de muito sofrimento. É por meio da cultura que você canaliza tudo isso”, defende.
Função social
Diretora do Museu Nacional da República Honestino Guimarães, Sara Seilert conta que a crise sanitária impôs readaptações e inovações para os centros culturais. “Não somos só um prédio que guarda obras. Temos essa função social de mediação, educação e incentivo ao pensamento crítico. Então, buscamos intensificar nossa atuação por meio de programas educativos nos meios virtuais”, destaca. Durante o período de fechamento, Sara diz que as equipes do Museu demandaram esforços em atividades internas. Dentre elas, a reorganização do acervo, para disponibilizá-lo ao público. “Uma equipe de museólogos está fazendo esse mapeamento”, adianta.
Segundo Sara, a busca pelo consumo de arte em casa aumentou. “O que fazem as pessoas em seu momento de lazer e busca de amparo? Ouvem música, leem livros, assistem a séries, filmes. E tudo isso envolve artes plásticas. A arte está no desenho ilustrado, na imagem trabalhada. Andam com o ser humano na resistência, na busca por uma forma de enfrentamento. Estão sempre alinhados neste momento de crise. São formas de se expressar e buscar conforto, auxílio para entender o que estamos vivendo”, argumenta.
A diretora revela que a expectativa para o retorno das atividades é alta. “Eu espero poder auxiliar as pessoas. Busco um jeito de colaborar com o enfrentamento da pandemia, e podemos proporcionar momentos de prazer e usufruto de um equipamento público, de um prédio que já é uma obra de arte”, frisa. Apaixonada por arte, Sara completa: “O contato com a obra que se tem por meio da reabertura é um recurso de inspiração. É a oportunidade de buscar o novo, o diferente. São formas de oxigenar o nosso pensamento, estimular a nossa criatividade”.
Os locais que estavam acostumados a ter pessoas precisaram se reinventar, como o Centro Cultural Três Poderes, que foi para a internet. “Partimos para as redes sociais, com exposições on-line. Teve uma perda grande, mas, ainda assim, conseguimos nos adaptar por meio das redes sociais”, pontua o gerente do espaço, Rafael Rangel Soffredi. O centro passou por manutenções e está preparado para receber o público. “Já abrimos uma vez durante a pandemia, então, temos uma noção de como funciona, como é o público”, garante.