A jovem de 19 anos suspeita de arquitetar ataque a uma escola pública do Recanto das Emas foi compulsoriamente internada na manhã de ontem. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) pediu ao Tribunal de Justiça do DF, no sábado, a intervenção compulsória. Em nota, o MP alegou que a solicitação ocorreu “para garantir a segurança da pessoa em questão e de terceiros”. Segundo os pais da jovem, a intimação foi feita na noite de sábado. A Secretaria de Saúde também foi oficiada para o cumprimento da medida.
De acordo com a família, a jovem sofre de esquizofrenia, doença que trata com o uso de medicamentos controlados. O Correio esteve na residência e conversou com familiares. “Ela está estabilizada”, afirma a mãe, Fabiana (nome fictício). Na casa, além dos pais e da moça, moram uma irmã e uma criança — que presenciou toda a ação policial de sexta-feira. “Hoje (ontem), eles bateram na porta e veio uma policial também. Da outra vez, os policiais, somente homens, chegaram arrombando e demoraram duas horas para dizer do que se tratava. Mesmo para levá-la ao hospital, foram cerca de 15 policiais”, afirma a mãe, que não foi autorizada a acompanhar a filha. Ela foi à unidade psiquiátrica depois, mas também não pôde encontrar a jovem. “Deixei meus contatos e disseram que farão uma chamada de vídeo na segunda (hoje)”, conta.
A porta de metal partida pela metade, mantida em pé por garrafas pet — ainda com as marcas de chutes dos agentes — e a maçaneta do portão recém-trocada evidenciam a ação policial. “Me tiraram do banho. Fiquei fora de casa de toalha e minha mulher, de sutiã”, conta o pai da jovem, Mauro (nome fictício). Na última sexta-feira, por volta das 5h40, os agentes da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) chegaram à casa. Depois de depor, a jovem foi levada de volta, porque não havia flagrante que justificasse a prisão. Na residência, os policiais encontraram duas armas airsoft, máscaras, celulares e cadernos com anotações. Artur (nome fictício), irmão da jovem, comprou as armas pela internet há alguns anos, usando o cartão de crédito da mãe. “Na época, eu até falei como eram toscas. Foi coisa de 10 reais. São de plástico”, relembra o rapaz.
A jovem de 19 anos passou a ser investigada pela Polícia Civil depois que policiais dos Estados Unidos, em monitoramento de moradores da capital federal, mapearam informações de indivíduos com suposta intenção de cometer atos graves de violência no DF. Em entrevista ao Correio na sexta, o delegado do caso afirmou que a jovem confessou o crime. A família alega que a moça falou porque se sentiu pressionada. “Colocaram ela ajoelhada, de frente para a parede da sala. Ela sentiu muita dor, por causa do acidente”, conta a mãe, citando o atropelamento que a jovem sofreu há dois anos. “Precisou levar 10 pontos na cabeça. Ela quebrou a clavícula, duas costelas e o quadril todo. O quadro era quase irreversível. Até hoje, ela usa cadeira de rodas quando precisa ir para algum lugar mais longe”, relata o pai, acrescentando que a moça tem um pino no osso da bacia, que sustenta o quadril.
A família relata que a jovem tem comportamentos infantilizados e é muito próxima do sobrinho, de 11 anos. Fabiana afirma que a moça sempre teve surtos esquizofrênicos, mas o diagnóstico veio há dois anos. Segundo a mãe, ela é acompanhada pela equipe do Centro de Atenção Psicossocial (Caps). “Ela tem convênio, mas sempre preferiu ser tratada pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”, completa.
Ameaças
Ao Correio, a família admitiu sentir medo, principalmente por conta de comentários em redes sociais, desejando a morte da jovem e citando os familiares como culpados. Questionada sobre a eventual possibilidade de criminalização de comentários violentos na internet, a Polícia Civil do DF informou que “a situação está sendo monitorada pela PCDF, que analisa o caso”.