Sol, girassol, verde e vento solar. Os mineiros Márcio e Lô Borges parecem ter visitado a estrada do DF que leva a Unaí (MG) para escrever a música Um girassol da cor do seu cabelo. Às margens da BR-251, na altura do Km 5, a plantação de cerca de 6 mil m² de girassóis invade o olhar até dos motoristas distraídos que passam pelo local.
O amarelo vivo e pulsante contrasta com o concreto do asfalto e prova que a luz pode penetrar até na mais dura das superfícies. A planta, de nome científico Helianthus annuus, inclusive, pode ser vista como símbolo de resistência, sentimento cujo valor parece ter crescido nos últimos tempos. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o girassol é tolerante a tempos secos, principalmente, por causa da raiz profunda, que explora grandes volumes de solo, absorvendo maior quantidade de água e nutrientes.
Além da terra, o girassol pode encontrar lar na pele de admiradores. A tatuadora Bru Stone, 26 anos, conta que, apesar de não trabalhar preferencialmente com desenhos de botânica, em três anos de atuação atuou cerca de 25 pessoas com imagens da planta. “A maioria dos clientes prefere o girassol inteiro no blackwork (trabalho em preto) ou só a flor colorida, varia bastante. As pessoas costumam homenagear alguém querido com o girassol, alguém que trouxe luz ou a própria luz. Também são usados para representar o Deus Sol, felicidade e energia solar”, relata a tatuadora, que atua no estúdio South Wing, na Asa Sul.
Foi exatamente esse o motivo que levou a professora Isabella Matias, 23 anos, a registrar um desenho da flor no braço, em agosto do ano passado. “Sempre adorei girassóis, porque é uma flor que tem de estar voltada para a luz, ela nunca está virada para a escuridão. Fiquei empolgada com a ideia de fazer esse registro em mim”, conta a moradora da 714 Norte.
Para a jovem cristã, o girassol representa vida e esperança. “Significa que não devemos desistir. Quando estamos virados para a luz, somos iluminados em todas as áreas da nossa vida. Eu acredito que podemos focar na luz que vem do céu. Estamos vivendo um momento em que não nos sentimos motivados. Independentemente da situação, o sol sempre brilha. Quero ser sempre como um girassol”, reflete Isabella.
Plantação
Se até no lixão nasce flor, imagine na beira do asfalto. Os girassóis da BR-251 são plantados, anualmente, por produtores da Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF), dentro da área do Programa de Assentamento Dirigido do DF (PAD-DF). A plantação às margens da rodovia tem fins decorativos, com o objetivo de chamar a atenção para a AgroBrasília, realizada todos os anos no local, dentro do parque Ivaldo Cenci. Apesar de, em 2021, a feira não ter ocorrido por conta da pandemia da covid-19, os girassóis foram cultivados — em menor quantidade do que no passado e só em uma das margens da BR-251.
Roberto Gonçalves, gerente do parque, relata que a floração do girassol dura em torno de 35 dias. “O ciclo completo da cultura — que envolve também o plantio e a colheita — dessa variedade da planta, a Aguará 6, tem duração, em média, de 120 dias. As flores começaram a aparecer há uma semana”, explica, acrescentando que, por conta da pandemia, as pessoas têm visitado menos a plantação. “O que é até bom, para evitar aglomerações”, completa Roberto.
Com todos os cuidados necessários contra a covid-19, Eliz Godoi, fotógrafa há seis anos, visitou a plantação. “Ano passado, com o fechamento dos parques, devido à pandemia, o pessoal começou a procurar locais diferentes para fotografar. Eu sempre vou antes às locações para fazer uma pesquisa de campo, testar a luz e anotar recomendações para os clientes”, descreve a moradora de Águas Claras, que atua no estúdio Cor e Amor. “Instruo-os a não destruir a plantação. Peço que, respeitosamente, não arranquem as flores. Quem quiser fazer pose com os girassóis que compre antes para levar”, afirma a fotógrafa de 25 anos. “O local é muito lindo e o contato com a natureza é sensacional. Nota 10”, elogia Eliz.
O lugar atrai também amantes da fotografia ainda inexperientes na arte dos retratos. A professora Paula Lopes, 43 anos, visitou a plantação pela primeira vez. “Eu fiz um curso de fotografia e o professor sempre nos deixou por dentro de locais legais para tirar fotos. Já estava querendo ir há um tempo. Gostei muito da plantação, dá para fazer boas fotos, como imaginei. Queria ter ido mais cedo, com o sol mais alto, porque as flores ficam mais em pé”, lamenta a moradora de Vicente Pires. Mesmo assim, a infinita dança dos girassóis em busca de luz continua exalando inspiração e colorindo o vento.