Crônica da Cidade

por Mariana Niederauer mariananiederauer.df@dabr.com.br (cartas: SIG, Quadra 2, Lote 340 / CEP 70.610-901)

A um amigo cronista

Desde que comecei a escrever neste espaço, conto com o colega jornalista e cronista Danilo Gomes como leitor assíduo das minhas crônicas. Membro da Academia Mineira de Letras, mesmo antes da pandemia, compartilhou, em cartas e correspondências, um pouco da própria experiência na literatura, ajudando a me guiar e inspirar por esse gênero tão encantador.

Acontece que Danilo também é um estudioso da história e apaixonado especialmente pelas narrativas marítimas e de grandes viagens. Há algumas semanas, trocamos e-mails, pois o tema era a crônica em que mencionei a vontade de viajar com a família. Ele se lembrou da filha, que guarda o mesmo desejo, e dos netos. Ao citar que eu sonhava com uma viagem ao Sul da Bahia, ele logo recordou-se de um fato histórico pouco conhecido, de que na frota de Pedro Álvares Cabral, “veio um certo capitão Aires Gomes”.

“Na volta, o navio dele, Aires Gomes, quem sabe um ancestral meu, soçobrou, por certo devido a uma borrasca braba. Ele e os companheiros morreram afogados. Coitados! Escrevi uma crônica sobre ele. Vou-lhe mandar, para você ler, quando lhe sobrar um tempo”, escreveu. Na leitura, descobri que o xará e possível ancestral do companheiro cronista está inclusive citado na célebre carta de Caminha.

E Danilo continuou o relato, contando da “paixão pelo mar e seu marulho” e do gosto por observá-lo “seja em Porto Seguro, na Praia do Francês seja…” “Numa outra encarnação, acho que fui marinheiro, talvez pirata (mas não pirata mau)”, segue, com uma pausa textual para risadas. Menino ainda, conta, descobriu Marco Polo e, na juventude, Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. Hoje, dá sua volta ao mundo em casa, acompanhado dos livros, esses incansáveis parceiros de viagem.

“Mesmo em casa, lendo, podemos participar de lances sensacionais. As descobertas dos Polos. As navegações. Os chineses estiveram na América antes de Colombo. As fortas chinesas eram sofisticadas e os navios muito grandes. As viagens pelo mundo duravam dois, três anos. Os vikings também estiveram aqui. Consta que até os fenícios estiveram no Brasil!”, lembrou-se.

Com o fim da nossa conversa por mensagens, que bem combinaria com o cafezinho de fim de tarde em Minas, Danilo cumpriu a promessa e me mandou a crônica Aires Gomes, capitão de caravela e outros textos mais. A curiosidade, agora, é a de mergulhar pelas indicações de leitura, segundo ele, sob medida para “a tal de quarentena”.

No topo da lista, está As Mil e uma noites. “Sugiro ao leitor degustar essas deliciosas narrativas (que a princesa Sherazade fez ao sultão Shahriar nas longas noites insones de quarentena no palácio de Badgá), ouvindo a extasiante sinfonia de Rimsky-Korsakov, Scheherazade”. E vamos viajar ao melhor estilo do amigo cronista, com combo de leitura e música!