Preso e condenado duas vezes por estupro (em 1990 e 2002), um homem de 54 anos voltou a cometer o crime no Distrito Federal e fez, ao menos, quatro novas vítimas, entre 2013 e 2019. Ataídes Xavier da Trindade, morador de Planaltina, escolhia mulheres magras, com idades entre 16 e 19 anos. Para atrai-las, o criminoso se passava por motorista de transporte clandestino e abordava as jovens nas paradas de ônibus, semelhante ao modo utilizado pelo cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto (veja Relembre o caso). Na quarta-feira, policiais civis da 6ª Delegacia de Polícia (Planaltina) cumpriram mandado de prisão preventiva contra Ataídes Xavier e o prenderam.
As investigações começaram há cinco meses, após a equipe tomar conhecimento de uma tentativa de estupro contra uma jovem de 19 anos, ocorrido em janeiro deste ano, em Planaltina. A vítima só não foi estuprada porque conseguiu abrir a porta do carro e correr. “No trajeto que ela fez com o agressor, ele desviou o percurso que deveria tomar e, a partir desse momento, anunciou o crime. Percebendo que seria atacada, a mulher conseguiu se desvencilhar, saiu do carro e procurou a polícia para fazer o registro da ocorrência”, detalhou o delegado à frente do caso, Rodrigo Mendes, da 16ª DP.
Com as informações, os investigadores identificaram as características físicas do homem e o veículo que ele utilizava para cometer os crimes, um Corsa vermelho. Os dados colhidos levaram os policiais até uma ocorrência, registrada no final de 2019, de um estupro consumado, também em Planaltina, próximo ao Departamento de Estradas e Rodagem (DER). Peritos técnicos analisaram o material genético e chegaram à conclusão de que havia uma conexão entre o caso de 2019 com três estupros praticados em outras regiões do Distrito Federal.
Um dos estupros aconteceu em 2013, em uma passagem subterrânea de pedestres da Asa Norte. À época, após abusar da jovem, o homem roubou o dinheiro da vítima. Dos quatro fatos, duas das vítimas eram adolescentes e tinham 16 anos.
Modo de agir
Ataídes atacava as mulheres sempre no período noturno, entre 20h30 e 21h. Morador do bairro Pombal, em Planaltina, o criminoso não tinha trabalho fixo e fazia bicos como pedreiro. De carro, ele passava pelas paradas de ônibus na tentativa de abordar alguma mulher.
O delegado-chefe da 16ª DP, Diogo Cavalcante, explica como o agressor agia. Ele chegava na parada, anunciava ser motorista de transporte pirata para conseguir que a vítima embarcasse. No caminho, Ataídes desviava o caminho e ia para locais afastados, com pouca movimentação de pessoas. “Ali, ele anunciava o crime com grave ameaça de que mataria a vítima”, detalhou. No entanto, em nenhum dos casos constatou-se que o homem estava armado. Preso pela terceira vez, ele responderá pelos crimes de estupro e estupro tentado. Em relação às vítimas menores de idade, a pena passa de 6 a 10 anos para 8 a 12 anos de prisão.
Memória
Relembre o caso
Marinésio Olinto está preso desde agosto do ano passado no Complexo Penitenciário da Papuda. Ele é acusado de dois feminicídios: o da funcionária do Ministério da Educação (MEC) Letícia Curado, 26 anos, e da auxiliar de cozinha Genir Pereira, 47, ambos em 2019.
São ao menos 10 processos envolvendo 11 vítimas de crimes sexuais, segundo levantamento do Ministério Público do DF. Em maio do ano passado, Marinésio foi condenado a 10 anos de prisão por estuprar uma adolescente de 17 anos no Paranoá. Em agosto de 2019, o caso da advogada Letícia Curado repercutiu e comoveu o DF. A funcionária do MEC saía para trabalhar em 23 de agosto. Câmeras de segurança mostraram Letícia entrando em uma Blazer prata, em uma parada de ônibus perto de casa.
A investigação usou o sistema de GPS do celular da vítima para traçar o caminho do veículo. A partir daí, a polícia identificou que o motorista era Marinésio, que fazia transporte clandestino. Em 25 de agosto, ele confessou o crime. O corpo de Letícia foi encontrado à beira da DF-250, em Planaltina.
6 mulheres
Teriam sido estupradas por Ataídes Xavier nos anos 1990, 2002 e entre 2013 e 2019