A boiada do orçamento
O Centrão sempre fez barganhas no Congresso Nacional desde o início do processo de redemocratização, na década de 1980. Mas nunca essa entidade reduziu o parlamento a um balcão de negócios tão escancarado quanto neste governo. O orçamento para 2021 é uma obra-prima de irresponsabilidade fiscal e de manipulação em benefício próprio dos baixos interesses de suas excelências.
Quarenta e nove bilhões ficaram reservados para emendas parlamentares. E eles ainda tiveram a cara de pau de dizer que não havia dinheiro para todas as necessidades. Claro, com isso, cortaram 2 bilhões necessários à realização o Censo do IBGE e 1,35 bi ao incentivo à agricultura familiar. Em plena pandemia, a saúde ganhou menos do que no orçamento do ano passado.
Como se não bastasse, o governo, em conluio com o Centrão, ainda forjou um inventivo orçamento secreto com 3 bilhões, a serem rateados entre integrantes do bloco, conforme reportagem do Estadão. Há coisas surreais como a suspeita de superfaturamento de 259% na compra de tratores.
Observem o comportamento da brigada governista na CPI da Covid. Os mais aguerridos defensores do indefensável são precisamente aqueles que mais receberam emendas do orçamento secreto. Indefensável porque tentam justificar uma política de enfrentamento da pandemia que já matou mais de 420 mil brasileiros em razão de negacionismos, ações desastradas e omissões deliberadas.
Para justificar a flagrante ilegalidade de um orçamento paralelo obscuro, alguns parlamentares apelam para os argumentos da necessidade de proteger a segurança do Estado, pois os documentos são ultrassecretos, secretos ou reservados.
Outros disseram que divulgar as informações seria um abuso de autoridade. E, ainda, alguns que recorreram à Advocacia do Senado e tergiversam que o mandato lhes confere a condição de inviolabilidade, não lhes obrigando a prestar nenhum esclarecimento sobre informações publicadas ou recebidas. Como se vê, as justificativas são, explícita ou implicitamente, uma confissão de culpa e um medo pânico da transparência que deve reger as ações dos homens públicos.
Caro leitor, é difícil entender por que parlamentares eleitos para garantir os interesses dos cidadãos defendem e votam aberrações tais como a liberação das armas, a liberação da licença ambiental, o garimpo em terras indígenas, o corte de verbas para a educação, o tratamento precoce com a cloroquina e a política criminosa que já matou mais de 420 mil brasileiros.
E tudo isso enquanto falta dinheiro para bancar pesquisas científicas desenvolvidas por professores da UnB no combate à covid ou quando a UFRJ ameaça paralisar as atividades por falta absoluta de recursos.
Mas, para quem está com dificuldade de compreender, sugiro que faça um cruzamento entre a lista do orçamento secreto e as defesas e os votos de suas excelências na agenda de destruição do Brasil. Você constará que tudo se encaixa como se fossem peças de um jogo de quebra-cabeças desesperador. Lá, você sabe precisamente o preço do voto de cada parlamentar que está vendendo o Brasil. Anote bem o nome deles na hora de depositar seu voto nas próximas eleições. Desde tempos imemoriais, os pactos faústicos costumam não terminar bem para os que negociam a alma.