A tecnologia facilitou o processo de comunicação no Brasil e no Mundo. Todo trabalho manual e quase artesanal para a publicação de jornais, folhetins, comunicados oficiais, livros, entre outras impressões em papel, foi substituído por ferramentais mais modernas e rápidas. Um exemplo: as edições do Diário Oficial, que atualmente são produzidas com recursos digitais, mas eram formatadas por uma série de máquinas de grande porte que montavam e imprimiam os informativos manualmente. Esse equipamento, que revolucionou o trabalho da imprensa e deu início às primeiras gráficas no Brasil, pode ser visto no Museu Nacional da Imprensa, localizado no Setor de Indústrias Gráficas (SIG).
Todo o maquinário presente no museu faz parte da história da Imprensa Nacional, criada com o nome Impressão Régia em 13 de maio de 1808 pelo príncipe regente D. João para imprimir os atos normativos e administrativos oficiais do governo. No mesmo ano, em 10 de setembro, foi impresso o primeiro jornal no Brasil, o Gazeta do Rio de Janeiro. Os prelos, equipamento de prensa utilizado para fazer a impressão em papel, foram trazidos ao país pela família Real Portuguesa em 1808. Uma réplica dessa máquina está exposta logo na entrada do Museu da Imprensa como um marco do início das publicações de jornais e livros no Brasil.
Outro destaque no acervo é o prelo de Machado de Assis. A peça de origem inglesa, fabricada em 1833, foi utilizada por um dos grandes nomes da literatura na época em que trabalhou como aprendiz de tipógrafo na impressora na Imprensa Nacional, entre 1856 e 1858. Em 1867, Machado de Assis retornou ao órgão como assessor do diretor do Diário Oficial, cargo que ocupou até 1874. Ele é o patrono da Imprensa Nacional desde 13 de janeiro de 1997. O equipamento que funcionou até o ano de 1940 é feito em ferro com alavancas de madeira. A máquina se destaca pela beleza com detalhes em dourado e uma águia de asas abertas na parte superior que faz também o papel de contrapeso no funcionamento da prensa.
De acordo com o analista de documentação e responsável pelo Museu da Imprensa, Rubens Cavalcante Júnior, a primeira impressão do livro Memórias póstumas de Brás Cubas foi feita com o prelo inglês. “Essas peças fazem parte da história da gráfica e da imprensa no Brasil. Os primeiros livros publicados no país foram feitos por esses equipamentos. É de suma importância um acervo como esse para preservar um legado”, afirma Rubens. Ele trabalha no museu há 33 anos e relata com paixão cada curiosidade dos itens presentes no salão com aproximadamente 680 metros quadrados.
“O Museu da Imprensa, criado em 13 de maio de 1982, é composto por mais de 550 peças, entre máquinas, quadros, documentos, móveis, estátuas e jornais. São mais de 30 máquinas de impressão, costura e rotativa, entre elas a primeira rotativa que imprimiu o primeiro Diário Oficial de Brasília em 21 de abril de 1960”, relata Rubens.
Uma curiosidade que o analista do museu conta é sobre a transferência da Imprensa Nacional do Rio de Janeiro para Brasília, com a mudança da capital. “Foi uma saga trazer o maquinário do Rio de Janeiro e trazer para cá. Levou cerca de dois meses para desmontar e montar a rotativa que seria responsável por imprimir os Diários Oficiais da União. E, para nada sair errado, o próprio Juscelino Kubitschek veio até a nova sede da Imprensa Nacional realizar a impressão teste que sairia no dia da inauguração da capital. Esse documento foi assinado por JK e faz parte do acervo”, destacou.
Uma outra curiosidade ressaltada por Rubens é sobre a própria localização do Setor Gráfico. De acordo com ele, o Setor de Indústrias Gráficas, estava previsto para ficar na região onde hoje é Taguatinga. No entanto, o diretor da Imprensa Nacional na época procurou o presidente Juscelino Kubitschek e justificou a necessidade de um local mais perto do centro de Brasília e do governo para facilitar a comunicação.
Acervo premiado
Entre os itens que constam no Museu da Imprensa, está uma edição do Diário Oficial de 19 de dezembro de 1997 com 2.112 páginas que ganhou o recorde no Guinness World Records, por ser a maior edição publicada em um único dia. Apesar do prêmio, esta não foi a maior publicação feita pela Imprensa Nacional. Há uma outra edição que tem 5.200 páginas entre as seções 1, 2 e 3 do Diário Oficial e o Diário da Justiça com as divulgações dos atos judiciais e administrativos do Poder Judiciário.
Entre os documentos presentes no acervo, está um exemplar original do Diário Oficial de 14 de maio de 1888, que publicou a Lei Áurea — Lei nº 3.353, de 13 de maio daquele ano —, que declarou o fim da escravidão no Brasil. Há, ainda, o primeiro clichê (placa de ferro, em relevo, utilizada para a impressão de imagens e textos em prensa tipográfica) feito no Brasil. A peça feita em cobre traz a planta do mapa da cidade de São Sebastião, no Rio de Janeiro. Esse foi o primeiro mapa produzido no país. O trabalho demorou quatro anos para ser concluído, iniciou em 1808, por ordem do príncipe regente Dom João, e terminou em 1812. O item original está exposto no museu, assim como a impressão do mapa.
Uma outra máquina destacada por Rubens Cavalcante é o teclado perfurador monotipo de Joana França Stockmeyer — a primeira servidora pública mulher do país. O equipamento é parecido com uma máquina de datilografar, no entanto tem um sistema diferente onde se produzia uma fita perfurada com as letras e símbolos que eram fundidos e se transformavam em texto.
No jardim do museu, desde julho de 2001, estão os restos mortais do jornalista Hipólito José da Costa, patrono da imprensa brasileira e fundador do Correio Braziliense em Londres, o primeiro jornal brasileiro, que precisou ser publicado em outro país devido às censuras no Brasil. “Ele faleceu em 1823, em Londres. Pela importância de Hipólito na história da imprensa brasileira, o Correio Braziliense queria repatriar os restos dele no Brasil. Porém os vultos históricos precisam estar em local com visitação do público, e em parceria com a Imprensa Nacional foi construída uma herma”, conta Rubens.
Visitação
Antes da pandemia da covid-19, o Museu da Imprensa estava aberto para receber o público de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. No entanto, no ano passado ficou fechado seguindo o decreto que restringia o funcionamento de museus e espaços culturais. Quando foi reaberto, o acesso ao público ficou limitado das 9h às 15h, sem a possibilidade de visitas em grupo. Com o último decreto de restrição em março deste ano, o espaço voltou a fechar e está com as visitações suspensas.
Porém quem quiser conhecer o acervo pode fazer uma visita virtual. O acesso pode ser feito em qualquer lugar do mundo. A visualização do museu é feita com tecnologia 3D e permite uma sensação de que o visitante esteja ali dentro. São 400 peças disponíveis no modelo virtual que pode ser conferido por meio do site museuvirtual.in.gov.br.