Funcionários e clientes da Ômega Promotora Soluções Financeiras e Assistência Pessoal acusam a empresa brasiliense de estelionato e fraude, após não receberem valor de parcelas de empréstimos do mês de maio.
Segundo relatos, a Ômega atende cerca de 100 clientes e, até o momento, 23 já relatam não terem recebido o pagamento deste mês. O prejuízo para alguns, caso a fraude se confirme, chega a R$ 200 mil. A investigação é feita pela Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Ordem Tributária e a Fraudes (Corf), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que recebeu as primeiras denúncias na sexta-feira (7/5).
De acordo com os clientes, a financeira deveria ter feito a transferência dos valores de empréstimos no 1º dia útil do mês. Após dias de atraso, funcionários e os clientes começaram a ficar receosos de um suposto golpe. Na última sexta, sem pagamento e sem retorno do proprietário, funcionários avisaram aos clientes sobre possível fraude.
A equipe do Correio conversou com um dos funcionários que trabalha no local há 17 meses e que preferiu não ser identificado. “A empresa era de outro dono e foi passada para o atual, que era um supervisor nosso, no fim de 2020. Sempre asseguramos para os nossos clientes que era uma questão segura negociar conosco e nunca tivemos problemas nem atrasos dos pagamentos de parcelas. Mas nesta semana, o dono não queria mais nos atender por telefone e após muitas ligações ele nos dispensou do dia de serviço na quinta-feira (6/5)”.
Alguns funcionários, também na sexta-feira, pretendiam ir à Delegacia prestar queixa quando receberam a ligação do proprietário. “Ele tinha mudado de número e saído na quinta do grupo da empresa. Contei que estávamos indo para a polícia e ele pediu para irmos até a empresa para conversarmos. No local, quando chegamos, um dos clientes chegou a ‘perder a cabeça’ e se envolver em uma briga com o dono. Eu não tiro a razão, pois se ele não receber o prejuízo será de R$ 135 mil para ele”. Com a confusão, a Polícia Militar foi acionada e o grupo, composto por clientes, funcionários e o proprietário da Ômega, foi levado para o Complexo da Polícia Civil, no Parque da Cidade.
Polícia se pronuncia
Até o momento, de acordo com o coordenador da Corf e responsável pelo caso, Wisllei Salomão, quatro pessoas já prestaram queixa. “O caso ainda está sendo investigado, é importante ressaltar que ainda não sabemos se é um golpe. A financeira deixou de pagar este mês apenas, por isso estamos investigando se há outras vítimas, se outras pessoas foram lesadas, se é um caso reincidente e o que realmente aconteceu”, esclarece.
Salomão destaca que não é possível determinar, no atual momento das investigações, se houve realmente uma conduta criminosa. “As avaliações estão acontecendo, temos que analisar diversos fatores para saber se houve realmente algum crime. Obviamente, os clientes estão assustados, mas é preciso avaliar se a conduta do acusado é reiterada, se houve desvio de dinheiro e outros fatores”.
O coordenador da Corf alerta para os cuidados que os consumidores devem tomar ao contratar esse tipo de serviço. “É importante as pessoas tomarem cuidado quando são oferecidos portabilidade de empréstimos, principalmente quando a financeira oferece um segundo ou terceiro empréstimo no qual se compromete a pagar as prestações. Se for fazer portabilidade de empréstimos, escolha instituições consolidadas, com um histórico de serviço muito claro”, reitera.
Pelo portal do Banco Central (BC) é possível consultar quais empresas estão autorizadas a prestar esse tipo de serviço. Embora o CNPJ da Ômega esteja ativo na Receita Federal, no site de consulta do BC (www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/encontreinstituicao) a empresa não aparece na lista de autorizados.
Como funciona o serviço
A Ômega Promotora Soluções Financeiras e Assistência Pessoal atua na cessão de crédito, atividade autorizada pelo artigo 286 do Código Civil. A cessão de crédito se refere a transferência de obrigações. Basicamente, a financeira oferecia para o cliente um valor de desconto entre 15% e 20%, mas, para isso, o cliente deveria abrir um novo empréstimo, em um valor menor.
Ao receber o montante do novo empréstimo, o cliente transferia o dinheiro para a conta da Ômega, que aplicaria esse valor em investimentos. Dessa forma, a Ômega recebia a responsabilidade de pagar o primeiro empréstimo, de valor mais alto, e transferir mensalmente, para a conta do cliente o valor da parcela. Com a cessão de crédito, o cliente, se tivesse uma parcela de R$1.000, ficaria responsável por pagar, por exemplo, R$800 do novo empréstimo, enquanto a financeira quitaria o empréstimo de parcelas maiores.
Adriano Campos*, 38 anos e policial militar, foi um dos clientes que não recebeu o pagamento da financeira neste mês de maio. “Como somos servidores públicos, as empresas nos ligam constantemente querendo oferecer redução de parcelas. Eu estava resistente a contratar, mas acabei sendo vencido pelo cansaço. Com a proposta de redução de 20% nas parcelas que eu já pagava, fui conferir do que se tratava. Eu cheguei a receber a transferência da primeira e segunda parcelas na conta, tudo feito corretamente. Mas quando chegou esse mês, a empresa sumiu”. O segundo empréstimo feito por Adriano, e transferido integralmente para a conta da financeira, foi de R$30.780,19.
A servidora pública Conceição Alves Pereira, 64 anos e moradora do Setor de Armazenamento e Abastecimento Norte (Saan), destaca que na segunda-feira (10/5) pretende registrar boletim contra a empresa. “Eu fui para a Delegacia já na sexta, quando a funcionária me avisou do possível golpe, mas fiquei tão nervosa que esqueci o contrato, por isso tenho que voltar na próxima semana para registrar o boletim”.
Conceição explica que ficou receosa no começo, ao contratar os serviços, mas confiou na empresa porque eles a visitaram em casa. “De início eu desconfiei, mas eles me visitaram pessoalmente e explicaram como funcionava. A primeira parcela eles me pagaram direitinho, na segunda eu comecei a ter problema, eles atrasaram, dizendo que foi um erro no sistema. Mas agora, em maio, eles não depositaram nada”.
O primeiro empréstimo de Conceição era no valor de R$ 7 mil, para conseguir os descontos da Ômega, a servidora pediu um segundo empréstimo de R$ 4.800,63, que foi depositado na conta da financeira. “O primeiro empréstimo nem era para mim e sim para uma amiga. Acabou que peguei dois empréstimos e nenhum deles eu vi sequer a cor do dinheiro”.
Desespero
Flávio Augusto*, 49 anos, servidor público e morador do Jardim Botânico, conta que os clientes lesados pela ação da empresa se reuniram e formaram um grupo no WhatsApp, que atualmente possui 23 integrantes. Caso o golpe seja verdadeiro, o prejuízo para Flávio é de R$ 200 mil. “Eu, antes de aceitar o contrato, verifiquei com outras pessoas que conheciam a empresa, eles disseram que tudo estava dando certo. Os promotores da financeira me visitaram duas vezes no local onde trabalho e me senti seguro, pois pareciam pessoas sérias”, relata.
O servidor público narra que alguns clientes que não receberam o pagamento da Ômega comentam até sobre suicídio. “Muitos estão desesperados, tiveram um prejuízo muito alto e não sabem o que fazer. Eu mesmo nem dormi direito essa noite, fico pensando o tempo todo em como vou fazer para quitar essa dívida. No grupo, as pessoas já falaram de se matar. O dano que a empresa causou é muito pior do que apenas financeiro, ela destruiu o psicológico de muita gente. Agora, tentamos reunir pessoas que foram vítimas da empresa para movermos uma ação em conjunto e tentar negociar com o banco algum tipo de ajuda, de aumentar o prazo de pagamento, reduzir os juros, alguma coisa que nos ajude. O nosso objetivo é fazer uma causa coletiva para termos maiores chances de ter um retorno”.
A equipe de reportagem do Correio tentou sem sucesso contato com o proprietário da Ômega Promotora Soluções Financeiras e Assistência Pessoal. O espaço segue aberto para esclarecimentos.
*nomes fictícios para resguardar a identidade dos entrevistados