Estou fazendo aulas de inglês com a minha irmã desde o início da pandemia. Ela é fluente, e eu sempre fiquei naquela coisa de entender até bem, mas falar muito precariamente. Dava para me virar, mas longe do ideal. Então, resolvi usar o conhecimento dela ao meu favor e sugeri a ideia de que se tornasse minha professora. Ela topou e estamos, entre pausas, estudando juntos há um ano.
O primeiro problema nisso era a distância. Ela mora em Minas, a uns 700 e tantos quilômetros de Brasília. Entrei no mundo das as famigeradas aulas on-line. Como as crianças, fiquei bem perdido, apesar de estar acostumado a reuniões etc. De vez em quando, eu me pegava respondendo mensagens no WhatsApp, apurando alguma informação ou lendo besteiras.
Tinha esquecido que sempre fui bom aluno, mas um tanto disperso. Às vezes, tenho que pedir que ela retome a explicação com uma confissão de desatenção e um pedido de desculpas. Minha irmã é uma professora dedicada e paciente, o que facilita a minha vida. Mas a internet da casa dos meus pais é dureza e, às vezes, tenho certeza que ela foi abduzida e que quem fala são uns ETs bizarros.
Outro problema é que o papo entre irmãos anda atrasado. Praticamente, não vi minha família durante a pandemia. Então, há sempre muito assunto. O interior é um caldeirão de histórias e fofocas que nunca para de ferver. Há sempre uma narrativa bizarra que eu preciso ouvir e ela precisa contar.
Isso sem falar nas vezes em que os meus pais interrompem a aula com um grito: “Já arrumou a cama, Maria Clara?”. Eu rio e a aula fica mais divertida. Os encontros ocorrem três vezes por semana, com exceção dos dias em que algum imprevisto acontece e a gente precisa se adaptar. Uma noite de insônia que me derrubou, um exame que precisa ser feito...
Mas, hoje (sexta), fiquei preocupado. Uma coisa que nunca tinha me acontecido deu as caras por aqui. Eu não sabia como traduzir uma expressão em inglês para o português. Geralmente, era sempre o contrário, e eu achava pedante demais quem vinha com esse papo. Ferrou, pensei. O Google não ajudava e eu liguei para a minha irmã, não era dia de aula, em busca de uma solução para o impasse.
Não encontramos um bom substituto. A pequena expressão precisava de pelo menos quatro palavras em português para ter explicação. Ficou chato. Eu queria usar algo similar para escrever justamente esta crônica. Diante da impossibilidade, desisti e resolvi mudar de assunto, porque um texto pernóstico era tudo o que não queria.
A ligação engatou em um papo maior. Alguém lá de casa entrou no assunto. Falamos amenidades e, como 500% dos brasileiros, comentamos a ansiedade para que a vacina chegue aos nossos braços. No fim das contas, eu desliguei sem nem lembrar direito qual era o assunto inicial, mas sem querer a despedida veio, como numa canção brega, em “goodbye and I love you”.